De máscaras, brasilienses visitam cemitérios em homenagem ao Dia de Finados
Poucos casos de desrespeito às regras de controle da pandemia de coronavírus foram flagrados pela reportagem do Metrópoles
atualizado
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De máscara e respeitando a recomendação do distanciamento social na pandemia, brasilienses prestaram homenagens aos parentes e amigos falecidos neste Dia de Finados (2/11), no Campo da Esperança de Taguatinga. Poucas pessoas não respeitaram as recomendações de prevenção contra o novo coronavírus.
Com os olhos marejados, a professora Gisele Mota Alves, 35 anos, orou pelo tio. “Ele morreu no ano passado. Era devoto do Divino Pai Eterno. Sempre levou a família para estar junto de Deus. E eu acho que a minha emoção é porque eu não consegui ver ele como eu sempre via. E chamava as sobrinhas e principalmente a filha dele de “teteia”. O que me emociona é que não pude ver ele quando ele partiu”, contou.
A cada visita ao tumulo do tio, o coração de Gisele é tomado pela saudade. “Eu sou muito grata pelos caminhos que ele me ensinou e a fé que ele mostrou”, disse.
Do ponto de vista de Gisele, a maior parte das pessoas respeitou as recomendações de segurança sanitária na pandemia neste feriado. “Eu venho todos os anos (no dia de Finados). Mas neste ano está bem vazio. Eu vejo que está todo mundo muito preocupado com essa questão de segurança. Apesar de todos os cuidados, a gente vê que tem muito idoso. Porque aqui no cemitério vem mais idosos mesmo. Porém, todo mundo tomando os cuidados”, comentou.
O motoboy José Carlos da Silva, 58, frequentemente visita e cuida do túmulo do falecido pai. Neste Dia de Finados não foi diferente. Com uma flanela e um balde, limpou e preparou o ponto de descanso para a visita da família. “Nós somos colados”, resumiu.
O pai de José era caminhoneiro. “Ele me ensinou a ter educação, caráter e ser honesto. Isso ele passou para a família toda. E eu passei para os meus filhos. Só pegue o que é seu. Se não, não pegue. Inclusive, teve uma vez que achei 5 contos de cruzeiro na porta de casa. Cheguei todo feliz, mas ele me fez devolver. Ele criou a gente com honestidade”, lembrou.
Seguindo os ensinamentos e palavras do pai, José cria os filhos. “Um vai virar médico. Já está fazendo residência. Foi muita batalha. Amém”, celebrou.
Veja fotos do cemitério de Taguatinga neste Dia de Finados:
Nos arredores do cemitério, ambulantes montaram pontos de venda de flores, velas, respeitando o distanciamento para evitar aglomerações. De máscara, Cida Ribeiro, vendedora de flores, atendia com carinho cada cliente. Há 15 anos, ela trabalha no feriado. Neste ano, ela presenciou o menor movimento em toda a carreira.
“Está muito fraco. Muito fraco”, relatou. Em edições tradicionais, ela fatura R$ 4 mil. Neste 2 de novembro, pela movimentação, ela estima R$ 1 mil.
O comerciante Romeu Adriano, 48, e a namorada Franciane de Souza, 42, visitaram o cemitério para prestar homenagens a parentes e amigos. “Minha mãe, meu tio, minha tia, meus amigos”, destacou Romeu. Em cada túmulo, fizeram uma oração. “A gente pede que eles descansem em paz nos braços do Senhor. Ficamos com as saudades e as boas lembranças”, assinalou.
Servidores da Secretaria do DF Legal fiscalizam a atividade dos vendedores ambulantes, nos arredores dos cemitérios. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) mobilizou equipes para garantir a segurança da população e evitar aglomerações.
De acordo com o Decreto nº 41.392, da última quarta-feira (28/10), o distanciamento social mínimo de dois metros entre pessoas e grupos de visitantes precisa ser respeitado, com risco de punição. Os grupos, formados por núcleos familiares, por exemplo, devem ter, no máximo, seis pessoas.
Asa Sul
De cadeira de rodas e máscara, a servidora pública Karla Cardozo da Silva, 50, visitou os túmulos do pai, mãe e irmã no Campo da Esperança da Asa Sul. “Fazem uma falta muito grande. É minha família. Tenho muita saudade. Meu pai se foi tem três meses. Faleceu de câncer. Os três se foram com câncer. Minha irmã tem um ano e minha mãe se foi há 14”, lamentou.
Para Karla, a crise do coronavírus atrapalha e limita as homenagens. “Essa pandemia impede a gente de fazer tanta coisa. Não vejo a hora de sair a vacina. Tanta coisa que a gente poderia fazer melhor e dar o melhores para eles (os parentes). A gente reza, ora, pede em silêncio para eles. A gente faz o que é possível”, afirmou.