Marcelo Jorge mantém viva a tradição do retrato pintado em Brasília
Hoje, uma pintura a óleo do artista Marcelo Jorge, de 26 anos, pode custar entre R$ 1.750 e R$ 6 mil reais – e diversos brasilienses estão dispostos a pagar por isso
atualizado
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Na primeira vez que o brasiliense Marcelo Gonczarowska Jorge surpreendeu a família, ainda era um estudante de ensino médio. Ele escolheu a Rússia como país para viver durante um ano e terminar o período escolar. Lá, ao invés de cursar as matérias comuns que encontramos por aqui (física, gramática, educação física), preferiu fazer um curso técnico de artes plásticas. E voltou para cá com um novo nível de compreensão sobre desenho, uso de cores e trabalho de formas.
A segunda surpresa causada por Marcelo foi quando decidiu fazer o curso de bacharelado em artes plásticas na Universidade de Brasília (UnB). Embora ele desenhasse desde os 7 anos, seus pais, servidores públicos, não apostavam que o filho iria se profissionalizar nessa área. “Na Rússia percebi que realmente precisava pintar para ser feliz”, disse. Em 2010, se formou.
Estilo tradicional
Já a terceira surpresa é quase uma ironia. Marcelo descobriu que seu prazer estava em realizar pinturas que se aproximam da estética tradicional na Europa durante o século 19. Porém, o estilo de arte foge completamente ao novo “cânone” estabelecido pela arte contemporânea brasileira, sendo bastante rechaçado pelos colegas e professores por suas escolhas. “Me diziam que a minha produção não era válida nem digna de um artista. Eu era visto como um pintor superficial”, conta.
Porém, ao invés de tentar se adequar ao que se considera atual na arte brasileira, Marcelo enveredou por outro caminho. Resolveu se tornar um retratista em pleno Planalto Central. Se o ofício é quase um “must see” em Paris, na França, onde turistas disputam pelos desenhistas que oferecem seus trabalhos nas ruas de Montmartre, na capital do Brasil é um verdadeiro desafio.
A produção de retratos exige uma base técnica extremamente apurada, a qual eu estava lapidando e queria me especializar. Também percebi que as pessoas tinham prazer em posar para um retrato e isso me fez com que eu seguisse em frente
Marcelo Jorge
A escolha funcionou bem. Marcelo percebeu que os brasilienses se interessam por retratos pintados e, assim, montou um ateliê em um cômodo de sua casa na Asa Norte. Ao mesmo tempo, investiu em equipamentos necessários para o ofício: tintas importadas, pincéis de qualidade, panos coloridos para servirem de fundo, telas em vários formatos e diferentes projetores de luz. Tudo com o objetivo de encontrar o melhor “close” do modelo. Hoje, uma pintura a óleo do artista, de 26 anos, pode custar entre R$ 1.750 e R$ 6 mil reais – e diversos brasilienses estão dispostos a pagar por isso.
Experiências em Paris
Marcelo passou por uma experiência que provocou um salto na sua arte. Em 2015, ele conseguiu uma bolsa pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) para estudar em Paris, capital da França e meca da arte clássica. Nesse período, estagiou ao lado de um dos diretores do Museu D’Orsay, que guarda algumas das obras impressionistas mais importantes do mundo, atuou como copista de esculturas e quadros no Museu do Louvre e foi pesquisador na Escola de Belas-Artes, local por onde passaram grandes pintores da França, como Jean-Auguste Dominique Ingres, que Marcelo enxerga como um dos artistas que mais influenciaram na sua obra atual.
Assim, ele levou esse aprendizado para sua própria profissão. Ao retornar ao Brasil, o jovem se dedicou aos retratos e também passou a dar aula de desenho na escola de artes visuais Par de Ideias, localizada na 112 norte. Atualmente é conhecido por sua técnica realista e diversos brasilienses, como o cerimonialista Tiago Correia, já posaram em seu ateliê. Porém, é bom que o interessado saiba que há todo um ritual que deve ser seguido ao posar para um retrato. O que, no fim das contas, torna a experiência única. Confira, abaixo, a rotina de um “modelo” nas mãos de Marcelo.