Crise dos combustíveis: frentistas temem atraso salarial e demissões
A preocupação é ainda maior nos postos “bandeira branca”. Alguns estão há nove dias sem uma gota de gasolina, etanol ou diesel
atualizado
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Com a distribuição de combustíveis voltando ao normal, surge outra preocupação. Desta vez, para os trabalhadores dos postos. Eles temem que o impacto da crise do desabastecimento provoque atrasos em salários e demissões. Os prejuízos do setor ainda não foram calculados, mas têm estabelecimentos que estão há nove dias sem combustível e, por isso, não estão funcionando.
Os frentistas temem que as empresas possam não ter fluxo de caixa para arcar com os salários. “São 7,8 mil trabalhadores. A nossa grande preocupação é que está no final do mês e o pagamento deve ser feito até o quinto dia útil”, disse o presidente do Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Distrito Federal (Sinpospetro-DF), Carlos Alves dos Santos.
O receio é ainda maior nos estabelecimentos de “bandeira branca”, que optam por não sustentar uma marca e, portanto, podem comprar de qualquer distribuidora.
Nesta sexta-feira (1º), o posto da QL 2 do Lago Sul, próximo ao balão do Aeroporto Internacional de Brasília, completou nove dias com bombas secas. Primeiro, acabou o etanol. Depois, as gasolinas comum e aditiva. O diesel foi o último a ser comercializado no local, segundo o gerente do estabelecimento, Kleber Ferreira.Alguns estão há dias sem uma gota de gasolina, etanol ou diesel. Eles representam em torno de 30% dos 322 postos de combustíveis da capital da República, segundo o sindicalista.
Desde então, os pedidos para reabastecer são feitos diariamente à Petrobras e à Ipiranga. “Não tem previsão de chegar. A empresa terá prejuízo”, lamentou. O último carregamento chegou em 22 de maio, um dia após os caminhoneiros deflagrarem greve. Na ocasião, foram entregues 5 mil litros de cada produto. Enquanto as bombas continuam vazias, os funcionários cumprem expediente em outros postos do grupo Cascol, disse Ferreira.
No posto da 311 Sul, a situação é semelhante. As bombas zeraram na sexta-feira (25/5), segundo o frentista Bruno. De acordo com o funcionário, eram vendidos em torno de 22 mil litros de combustíveis por dia. Nessa quinta-feira (31), enquanto cuidava do local, ele avisava aos motoristas: “Só tem fluidos de motor”.
Em um posto na 204 Sul, o cenário é de abandono. Os cones bloqueiam as entradas e sacos pretos tampam os preços dos combustíveis. No momento da visita da reportagem, no início da noite dessa quinta (31), não tinha funcionários no local.
Na contramão da crise, um posto na 206 Sul, também sem bandeira, tinha combustível. De acordo com um frentista, a gasolina comum chegou no fim da tarde de quinta (31). No estabelecimento, o produto é comercializado a R$ 4,99.
O outro lado
A presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e de Lubrificantes do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), Elisa Monteiro, disse que o setor ainda não calculou o prejuízo causado pela crise. A representante explicou que as perdas serão diluídas ao longo dos próximos meses.
Junho, especialmente, deve ser mais “pesado” para quitar despesas de aluguel e conta de energia. “O momento é de cortar gastos, mas não necessariamente de mão de obra, que já foi reduzida nos últimos dois anos”, afirmou.
Ela confirmou o desabastecimento dos postos “bandeira branca”. De acordo com a representante do setor, as distribuidoras, no primeiro momento, atendem somente aos postos com contrato de exclusividade das companhias. A previsão é de que os estabelecimentos independentes comecem a receber os combustíveis nesta sexta (1º), segundo Elisa.
As filas para abastecer estavam menores na quinta (31). Até as 17h, os postos de combustível do Distrito Federal receberam quase 4 milhões de litros de gasolina, segundo a Polícia Militar. Ao todo, 280 veículos de transporte levaram os inflamáveis para a população. Como o governo ameaçou multar quem colocasse o litro da gasolina a mais de R$ 5 no DF, muitos postos estão cobrando R$ 4,99.