metropoles.com

Criminosos extorquem pessoas com HIV e ameaçam vazar dados sigilosos

Bandidos contataram pacientes acompanhados pela rede pública de saúde do DF e cobraram dinheiro para não divulgar informações das vítimas

atualizado

Compartilhar notícia

Burak Karademir/Getty Images
Mão e símbolo do HIV - Metrópoles
1 de 1 Mão e símbolo do HIV - Metrópoles - Foto: Burak Karademir/Getty Images

Pessoas diagnosticadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla em inglês) e acompanhadas pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) da W3 Sul, em Brasília (DF), foram alvo de tentativas de extorsão, após terem dados pessoais e sigilosos vazados. De posse das informações, criminosos chantagearam os pacientes em troca de dinheiro para não divulgar detalhes dos prontuários a conhecidos das vítimas.

Até a publicação desta reportagem, não estava determinada a dimensão do vazamento ou o equipamento afetado por um eventual ataque cibernético. A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informou não ter detectado vazamentos no sistema da pasta (leia nota no fim deste texto).

Contudo, ao menos três pessoas foram chantageadas por criminosos. O Metrópoles entrevistou João (nome fictício), 40 anos, uma das vítimas. Por volta das 16h30 de segunda-feira (17/6), ele recebeu uma mensagem pelo WhatsApp com uma ameaça.

“Falaram meu nome de registro, afirmaram ter pego meus dados de paciente com HIV e cobraram R$ 1 mil para não vazar [os detalhes] para toda a minha família e vizinhança. As informações estavam certas. Mandaram mensagem com meu endereço e o nome da minha mãe”, detalhou.

Aflito, João se dirigiu ao CTA: “Quando cheguei, fui informado de que era o segundo paciente a receber a mensagem no mesmo dia”. Durante a conversa com servidores da unidade de saúde, a vítima ficou ainda mais assustada ao saber da possível dimensão do problema, pois o centro atende cerca de 5 mil pacientes soropositivos. Na capital do país, o total atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) passa de 10 mil.

Investigação

João registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul). Durante o procedimento, recebeu a informação de que outro paciente do CTA prestou queixa pelo mesmo motivo. No dia seguinte, terça-feira (18/6), mais vítimas procuraram a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

“Essa é uma situação totalmente desesperadora. Envolve a vida e os exames da gente. São nossos resultados, nossas rotinas de consultas, nossos acompanhamentos médicos. Esses dados sigilosos estão na mão de bandidos. Você ter a confiança de fazer tratamento em uma unidade pública [de saúde] e ter informações pessoais divulgadas não é fácil. Do nada, chega uma ameaça no celular”, lamentou João, aos prantos.

Agora, a vítima espera que as autoridades tomem providências o quanto antes, pois, para alguns, a divulgação de informações pessoais sem consentimento pode causar mais dor do que o próprio diagnóstico da infecção pelo HIV.

“As pessoas podem se suicidar”, alertou. “Quando recebi o diagnóstico, não me desequilibrei: aderi ao tratamento e passei a viver melhor. Mas, ao receber a mensagem de que minha vida seria jogada no ventilador, entrei em desequilíbrio, não dormi. É atormentador. Eu me sinto abalado psicologicamente, pois não preservaram meu sigilo.”

Para João, o vazamento revelou uma falha de segurança e de prestação de serviço na rede pública de saúde. “O Estado viola na prevenção, massacra. Agora, estamos à mercê de tudo isso. Outros pacientes podem cair na loucura”, disse a vítima, que cobra amparo do poder público aos demais prejudicados, além medidas urgentes dos órgãos de controle, e recomenda a todos que sofreram extorsão desse tipo registrar ocorrência policial, presencialmente ou pela internet.

A 1ª DP informou à reportagem que abriu investigação sobre o caso e que apura quem são os responsáveis pelos crimes e como os dados vazaram.

HIV, Aids e LGPD

A infecção pelo vírus do HIV é responsável por causar a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids, na sigla em inglês). No entanto, pacientes soropositivos não necessariamente desenvolvem a doença.

Saiba como ocorre (e como não ocorre) a transmissão

13 imagens
A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids
Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico
O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas
O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais
Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
1 de 13

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida

Getty Images
2 de 13

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids

Anna Shvets/Pexels
3 de 13

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico

Hugo Barreto/Metrópoles
4 de 13

O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas

iStock
5 de 13

O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais

iStock
6 de 13

Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Hugo Barreto/Metrópoles
7 de 13

A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
8 de 13

O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
9 de 13

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus

spukkato/iStock
10 de 13

O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses

iStock
11 de 13

O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais

Joshua Coleman/Unsplash
12 de 13

Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV

iStock
13 de 13

É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo

Keith Brofsky/Getty Images

No Brasil, a Lei nº 13.709/2018, também conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), regulamenta o tratamento de dados pessoais nas esferas pública e privada. A legislação define regras, princípios, responsabilidades e direitos para todos os cidadãos.

No caso da saúde, a LGPD assegura a todos pacientes o direito de ter os dados pessoais mantidos sob sigilo. Assim, cabe ao poder público – e à SES-DF, no caso da capital federal – a obrigação de preservar e proteger as informações de pacientes.

Por meio de nota enviada ao Metrópoles, a pasta informou que não identificou vazamentos de dados cadastrais e que investigará as denúncias.

Leia a nota na íntegra:

“A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) informa que não possui qualquer registro de incidente que tenha causado o vazamento de dados cadastrais de pacientes atendidos no Centro de Atendimento e Aconselhamento (CTA) e em toda a rede pública de saúde do DF.

A SES-DF entende e reforça o comprometimento com os dados de toda e qualquer pessoa registrada em nosso sistema e esclarece que medidas contínuas têm sido tomadas, com objetivo de garantir a proteção dos dados, especialmente dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esse fato [descrito na reportagem], considerado crime cibernético, seguirá para a Controladoria Setorial da Saúde, para ser apurado de acordo com as legislações vigentes no Brasil, principalmente seguindo os conceitos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), assim como o Código Penal Brasileiro, e adotaremos todos os caminhos legais para identificação de qualquer incidente.”

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?