Crimes assustam usuários e põem em xeque segurança do Parque da Cidade
Além do sentimento de insegurança, frequentadores reclamam da infraestrutura do local. PM prepara força-tarefa para reduzir criminalidade
atualizado
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Um dos espaços públicos mais emblemáticos da capital, o Parque da Cidade passa por dias difíceis em meio ao abandono e ao descaso da administração. Hoje, o local – que conta com 420 hectares e tem projetos assinados por Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Athos Bulcão e Burle Marx – acumula reclamações dos frequentadores. Os registros vão desde os equipamentos depredados à falta de segurança, que dá ensejo a roubos e até mesmo assassinatos.
Os problemas de infraestrutura incluem churrasqueiras quebradas, bancos destruídos, paredes vandalizadas, iluminação precária, brinquedos infantis sem segurança, falta de água e banheiros em estado deplorável. Entretanto, nenhuma reclamação é tão frequente quanto aquelas sobre o quesito segurança. O medo da população se justifica por episódios recentes.
O último deles envolve um assassinato brutal motivado por dívida de drogas. Em 12 de fevereiro, um casal foi preso, suspeito de matar Givaldo Gomes da Silva, 52 anos, com mais de 20 facadas.
Já em 16 de dezembro de 2018, o corpo de Robson Milton Santos foi encontrado nu, com sinais de espancamento, próximo ao Pavilhão de Exposições. O suspeito de matar Robson foi preso quatro dias depois. Mensagens encontradas no celular do acusado mostram uma conversa em que ele afirma ter cortado a garganta da vítima com estilhaços de uma garrafa.
Ainda em 2018, um adolescente foi espancado até a morte durante festa de música eletrônica no local. Um grupo de 20 pessoas cercou e surrou o garoto, acreditando que ele havia roubado um celular. O furto não foi comprovado. Também no ano passado, uma mulher foi estuprada em um bambuzal do Parque da Cidade próximo ao complexo da Polícia Civil.
Os episódios bárbaros serviram de alerta para a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), que agora prepara força-tarefa para coibir a onda de crimes na região. Denominada de Parque Seguro, a operação prepara um ônibus equipado com sistema de monitoramento interligado à Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), além de policiamento por meio de drone.
No local, há câmeras espalhadas pela área (veja abaixo), distribuídas entre estacionamentos e próximas ao Parque de Exposições. A SSP informou que ampliou para nove o número de equipamentos de videomonitoramento do local. Até 20 de fevereiro eram apenas três câmeras cobrindo todo o território.
Apesar dos episódios, a PMDF assegura que o espaço possui “índices criminais bem baixos, e o objetivo da Polícia Militar é reduzir ainda mais esses números, para próximo de zero”. Ao Metrópoles, a corporação também informou haver, dentro do local, um “posto comunitário de segurança (PCS) funcionando 24 horas”.
Mas, para a estudante Marina Lima, 18 anos, esses “argumentos não colam”. A jovem foi vítima de uma tentativa de assalto em frente ao posto policial. “Eu saí correndo. Só lembro que ele me pediu o celular e disse que tinha uma faca. Na hora, não tinha policial no posto”, conta.
Vigilantes
Nem os próprios vigilantes terceirizados contratados pela Administração do Parque da Cidade – são 18 por turno – conseguem garantir a segurança de todo o espaço. Sem querer ser identificado, um dos funcionários reclamou da situação de abandono do local, o que contribui para o aumento da criminalidade na região.
O segurança destaca o espaço onde antes funcionava a Piscina com Ondas – desativada há mais de 20 anos. “Eles tomaram conta daí. Não sei bem o que fazem, se usam droga, se vendem, mas eu não tenho como impedir a entrada deles lá. Andam armados e eu só tenho isto aqui”, diz ele, mostrando o cassetete.
De dia, você não vê viva alma. Os bandidos aparecem pela noite, e ainda bem que só trabalho pela manhã. Quem cobre a noite precisa andar armado
Vigilante do Parque da Cidade
Números da Secretaria de Turismo ressaltam a importância do parque para a população. Com média de 14 mil frequentadores entre segunda e sexta-feira, o local vê seu número de ocupantes mais que dobrar aos fins de semana, quando recebe até 37 mil pessoas. Segundo a pasta, o espaço já registrou até 80 mil brasilienses durante dias de eventos especiais, como shows ou feriados.
Pesando no bolso
A preocupação dos usuários quanto à segurança do Parque da Cidade tem gerado impacto direto nas vendas de Vilmar Oliveira, 43. O comerciante, que tem uma banca perto do Nicolândia, na qual vende lanches há 15 anos, afirma “nunca ter visto nada igual”. “Muita gente caminha aqui com medo, não está tendo segurança. O pessoal até evita vir ao parque e, se não tem frequentador, não temos cliente. Temos vivido dias difíceis, ainda mais com esses crimes acontecendo.”
O episódio ao qual Vilmar se refere é o corpo encontrado no último dia 12. A banca que ele administra fica em frente ao local do crime. Ele cedeu as imagens de sua câmera de segurança para auxiliar no monitoramento das forças policiais. “Eles também prometeram mais vigilantes. Vamos ver no que vai dar”, completou.
Outro fator que está pesando no bolso dos comerciantes é a concorrência entre os vendedores regularizados juntos à Agência de Fiscalização do DF (Agefis) e os ambulantes que “tomam conta do espaço”, principalmente aos finais de semana.
Um dos prejudicados é Aluísio Antônio, 65 anos. “Eu pago impostos, não é justo. Sábado e domingo, você tem que ver: aparecem 14 pessoas não cadastradas, às vezes 30, vendendo aqui na frente. Os usuários têm até que desviar dos ambulantes”, reclamou o comerciante.
Segundo a Agefis, no último dia 14, um encontro entre o secretário-adjunto de Turismo, o administrador do Parque da Cidade e representantes dos permissionários teve a disputa entre ambulantes e comerciantes regularizados como um dos temas discutidos na ocasião.
O resultado da reunião, porém, não era o que o comerciante Aluísio Antônio esperava, pois, de acordo com a Agefis, “está em estudo pela Coordenadoria de Cidades um decreto que regulamenta a atividade de ambulantes em todo o DF, para que trabalhem dentro da legalidade, identificados e com segurança”, conforme informou por meio de nota.
Ainda segundo a agência, só “após a regulamentação, será realizada a força-tarefa de fiscalização dentro do Parque da Cidade e outras regiões”.
“Caindo aos pedaços”
Quem não reclama da insegurança elenca uma lista de problemas a serem resolvidos pela administração. Pedro Barriolo (foto abaixo), 27, por exemplo, critica a falta de sanitários em condições de uso. “Aqui na pista de 10 km, por exemplo, faltam banheiros, e os que existem estão na maioria das vezes interditados.”
Joelma Limeira, 38, não esconde a frustração de não poder mais trazer as filhas nos parquinhos. “Estão caindo aos pedaços. Um dia, alguma criança vai se machucar feio. Há escorregadores bambos, buracos espalhados, balanços sem cadeira… Olha, está feia a coisa. É melhor deixar as meninas em casa mesmo, mais seguro”, lamenta a professora.
Outra queixa recorrente é quanto à quantidade de lixo encontrado pelo parque. Não é para menos: as poucas lixeiras existentes estão quebradas, dificultando a tarefa dos garis de administrarem a limpeza de todo o gramado.
Outro lado
Segundo Ilton Teixeira, administrador do Parque da Cidade, a atual gestão assumiu os trabalhos no começo deste mês. “Não estamos medindo esforços para mudar a realidade, dar segurança aos usuários e trazer as famílias de volta. As crianças e suas famílias terão um local seguro – e com sensação de segurança – para se divertir, fazer piquenique e confraternizar. Estamos trabalhando incansavelmente”, afirmou.
Por meio de nota, a Secretaria de Turismo disse que atualmente elabora um plano de revitalização do Parque da Cidade, “com o objetivo de resolver problemas que sejam identificados nos banheiros, churrasqueiras, quadras poliesportivas e espaços voltados às crianças, entre outros”.
Já segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), são 20 garis espalhados pelo local, realizando serviços como varrição e coleta todos os dias. Para manter a limpeza do espaço, o órgão pede maior conscientização dos frequentadores para que não joguem resíduos no chão.
A população pode fazer reclamações por meio do site ou pelo telefone 162. “Dessa forma, o SLU poderá tomar as providências necessárias para solucionar os problemas”, disse o órgão ao Metrópoles.