Crime filmado: dono do Bambambã é condenado a 8 anos por estupro
Gabriel Mesquita, dono do bar Bambambã, foi condenado por estupro de vulnerável, ao dopar uma mulher e forçar uma relação anal com a vítima
atualizado
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Dono do bar Bambambã – na 408 Norte, em Brasília –, Gabriel Ferreira Mesquita foi condenado a 8 anos de prisão por estupro de vulnerável contra uma das 12 mulheres que o acusam. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) entendeu que Gabriel dopou uma das vítimas e forçou uma relação sexual com ela. A sentença foi publicada nessa segunda-feira (15/7), e a pena deve ser cumprida em regime fechado, por envolver crime hediondo.
“A vítima, pelo estado de embriaguez em que se achava, não teve condições de consentir na prática sexual almejada pelo réu, muito menos de oferecer resistência à conduta dele”, destacou o juiz Aimar Neres de Matos.
Além do estupro, o empresário teria filmado uma das relações entre os dois, sem permissão da vítima, e fornecido as imagens a um tabelião para que servissem como “prova em um processo”. A mulher só soube do conteúdo quando a defesa de Gabriel apresentou as imagens durante uma audiência. Assim que tomou ciência da existência do material, ela registrou um novo boletim de ocorrência, em janeiro deste ano.
Na primeira denúncia, a vítima informava que teve dois encontros com o agora condenado. No primeiro, o ato sexual foi consentido – esse é o que Gabriel registrou em imagens. No segundo, ele dopou a jovem e forçou a relação, segundo o processo.
“A tentativa dele é de desqualificar a vítima. Ao tentar fazer isso, contudo, ele cometeu um segundo crime, pois gravou a relação sexual que teve com a vítima sem o consentimento dela. Ela não sabia que estava sendo filmada. Aí, no segundo encontro, ele a estuprou. É, no mínimo, estranho o fato de ele não ter pedido permissão para filmar a relação do primeiro encontro, além de tê-lo guardado [o vídeo] por anos. O que parece é que ele já estava aguardando ser denunciado por estupro para, de repente, aparecer com uma carta na manga”, disse Manuela Landim, advogada das vítimas.
Segundo Landim, além da problemática de existir um “vídeo de sexo explícito” não consentido pela vítima, e que “passou pela mão de muitos servidores”, a gravação não foi verificada a partir do aparelho que registrou o ato, o que facilita manipulações de endereço, data e horário. De acordo com a advogada, Gabriel “aproveitou o material para tentar provar que não existiu estupro” e, dessa forma, tentar “se livrar de uma condenação”.
“Uma outra questão muito séria também chama a atenção. Ele nega que existiram dois encontros e, por isso, apresenta o vídeo como se fosse referente à única noite em que ele e a vítima se viram. No entanto, o vídeo não foi periciado no celular do Gabriel. Ele tirou o material, dividiu em dois e passou para um pen-drive. Esses mesmos materiais apresentados pelo réu apontam inconsistências em endereço e horário, indicando que ele estaria em dois locais distantes ao mesmo tempo”, declarou Landim.
Relembre o caso
Ao menos 12 mulheres denunciaram Gabriel Mesquita. Elas conversaram com a reportagem e detalharam histórias de horror e traumas provocados pelo acusado, que supostamente cometia os crimes após dopá-las.
“Aconteceu em uma noite após o aniversário de um amigo. Ele me levou até o quarto, onde, inicialmente, consenti a relação. Quando terminamos, e após certo tempo, adormeci. No meio da madrugada, no entanto, fui acordada de forma extremamente violenta, com ele me virando de bruços e forçando sexo anal”, relatou Maria*, uma das vítimas.
Amigos do dono do Bambambã também ressaltaram o suposto perfil hostil do empresário. “Conheci o Gabriel ainda na juventude; inclusive, chegamos a morar juntos. Ele era uma pessoa envolvente e agradável, mas agressivo e violento quando confrontado”, descreveu um colega, que não quis se identificar.
“Ele [Gabriel] falou uma ou duas vezes sobre ter tido relação sexual consentida com uma mulher e, no meio do ato, ter partido para o sexo anal sem permissão da parceira. E [ele] teria achado o máximo”, completou o conhecido.
Em agosto de 2022, a 2ª Vara Criminal de Brasília condenou Gabriel a seis anos de prisão por um processo de 2018. Na denúncia, o réu foi acusado de forçar sexo com a vítima, aproveitando-se do fato de que ela estaria embriagada e sem condições de reagir. No entanto, ele foi absolvido após apelação da defesa na segunda instância do TJDFT.
Defesa
Por meio de nota, a defesa de Gabriel informou que vai recorrer da decisão “para restabelecer a total inocência” do condenado. O advogado do empresário ainda apontou a acusação como “injusta”.
Leia nota na íntegra:
“A Justiça tem sido feita. Em verdade, Gabriel Ferreira, foi absolvido de mais duas injustas acusações. É válido lembrar que 12 denúncias foram feitas e, corretamente, a Justiça do Distrito Federal já o absolveu de 11 delas.
Por esse motivo, encaramos com serenidade essa única condenação. Entendemos que houve um grande erro e vamos recorrer ao Tribunal de Justiça para restabelecer a total inocência de nosso cliente.”