Testemunhas afirmam que estiveram com Adriana no dia do crime da 113
No julgamento com apenas um réu mais longo da história do DF, testemunhas de defesa prestam depoimento neste sábado (28/09/2019)
atualizado
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Começou, por volta das 9h30 deste sábado (28/09/2019), o sexto dia do julgamento de Adriana Villela, acusada de mandar matar os pais na 113 Sul. A primeira testemunha de defesa a ser ouvida foi Francisco das Chagas Leitão, arquiteto e amigo da ré. Ele garante que estava com a colega em um curso no dia do crime, 28 de agosto de 2009.
Diante do Tribunal do Júri de Brasília, Francisco disse ter participado de um seminário de palestras, na Asa Sul, com Adriana, na data do triplo homicídio. Informou ainda que chegou ao Instituto Cervantes por volta das 14h20 e saiu aproximadamente às 18h30. “Voltamos a nos encontrar novamente no hall do instituto, porque estava tendo uma exposição de fotografia. Saí algumas vezes para fumar. Em todas as vezes, foi possível manter contato visual com ela”, afirmou.
O depoimento coloca dúvida em uma das teses da acusação, a de que Adriana teria passado em uma parada de ônibus antes do triplo homicídio para deixar dinheiro com Leonardo Campos Alves, ex-porteiro do prédio dos Villelas e condenado pelo crime. Com as testemunhas previstas para falarem em frente aos sete jurados neste sábado (28/09/2019), a defesa da arquiteta quer apresentar uma linha do tempo com o álibi a fim de apontar onde, quando e com quem a acusada esteve no dia do crime, 28 de agosto de 2009. O objetivo é afastar a tese de que a acusada teria ido ao apartamento dos pais no dia do triplo homicídio e se encontrado com os assassinos com a intenção de entregar o dinheiro e as joias prometidas para a execução, segundo pontuou a defesa.
Depois de Francisco, foi a vez de a pedagoga Graziela Ayres Ferreira Dias contar como foi aquele 28 de agosto. A amiga de infância da ré declarou que a acusada foi à casa dela à noite e saiu ao fim do Jornal Nacional, da Rede Globo. Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que o programa jornalístico acabou às 20h57. “Na hora em que a Adriana saiu, entrei e estava passando as letrinhas do Jornal Nacional. Eu estava interessada porque queria ver a novela seguinte [Caminho das Índias]”, detalhou.
Em depoimento dado em Natal (RN), durante diligência policial, está registrado que Graziela não se recordava qual era o programa que estava acabando quando a ré saiu. No Tribunal do Júri, a testemunha afirmou não ter falado isso. Contou ter encontrado Adriana no apartamento da filha da acusada, Carolina Villela, quando os corpos foram descobertos, três dias após os assassinatos. “Estava todo mundo em estado de choque”, lembrou-se.
O promotor Marcelo Leite esclareceu que não tem como precisar a hora do crime, ocorrido no Bloco C da 113 Sul. Fato é que, no fim da tarde, os executores estavam na parada de ônibus e, por volta das 23h, seguiram para Montalvânia (MG).
Este é o julgamento de um único réu mais longo da história do Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT). O caso conhecido como “massacre da Estrutural” durou seis dias, iniciado também na segunda e finalizado no sábado, com a absolvição dos nove militares acusados.
O prazo de cinco dias previstos para o julgamento de Adriana Villela extrapolou nessa sexta-feira (27/09/2019). As sessões para tratar do triplo homicídio conhecido como crime da 113 Sul continuam neste sábado (28/09/2019).
O presidente do Tribunal do Júri de Brasília, juiz Paulo Rogério Santos Giordano, informou em plenário, nessa sexta-feira (27/09/2019), que nove pessoas arroladas pelos advogados de Adriana falarão neste sábado. Após as últimas testemunhas, é a vez de Adriana ser questionada pela acusação, por assistentes de acusação, pela defesa e pelos jurados. A previsão é de que a ré se pronuncie apenas no domingo (29/09/2019), mas esse momento pode ser adiantado caso os depoimentos ocorram em tempo hábil ou alguém seja dispensado.
A arquiteta e jornalista é acusada de ser a mandante do assassinato dos pais, o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela. A empregada do casal, Francisca Nascimento Silva, também foi executada. Eles foram mortos a facadas – 73 no total –, em 28 de agosto de 2009.
Depois de Adriana se pronunciar no Tribunal do Júri, ocorre a discussão entre defesa e acusação. Por último, os jurados se reúnem para decidir se ela é inocente ou culpada. Se o entendimento for pela condenação, o juiz calcula a pena.
Provas e contestações
A acusação usa como prova, por exemplo, um laudo do Instituto de Identificação (II) da Polícia Civil que aponta, a partir do colhimento de impressões digitais, Adriana no apartamento em um intervalo de dias que inclui a data do crime. Segundo o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o documento contradiz depoimentos nos quais Adriana teria dito que esteve no imóvel em momentos anteriores aos que indicam o laudo.
Outra argumentação diz respeito a suposto relacionamento conturbado entre filha e pais, com dependência econômica de Adriana, que recebia mesada de R$ 8,5 mil. Uma carta de 2006, na qual Maria Villela diz estar cansada dos “destemperos” da arquiteta, foi lida aos jurados. Com a morte dos pais, Adriana herdou herança estimada em R$ 40 milhões, dividida entre ela e o irmão, Augusto Villela.
A defesa, por outro lado, apresenta parecer do Instituto de Criminalística (IC) que coloca em xeque o laudo do II. Mostra também troca de e-mails entre mãe e filha com mensagens carinhosas. Os advogados usam uma linha do tempo com tudo o que Adriana teria feito em 28 de agosto de 2009 como prova de que ela não esteve no local do crime.
Outros envolvidos
Adriana é suspeita de ter contratado o ex-porteiro do prédio dos Villelas Leonardo Campos Alves para matar os pais por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime.
Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Julgados e condenados, os três estão presos.