Crime da 113 Sul: Tribunal do Júri deve ouvir 44 testemunhas
Acusada de ser mandante do triplo homicídio, Adriana Villela começa a ser julgada nesta segunda-feira (23/09/2019)
atualizado
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Acusada de ser a mandante do triplo homicídio, que ficou conhecido como o crime da 113 Sul, a arquiteta Adriana Villela se senta no banco dos réus nesta segunda-feira (23/09/2019), no Plenário do Tribunal do Júri de Brasília. Trajando vestido preto, de cabelos curtos e óculos escuros, ela chegou por volta das 9h. Foi recebida por um grupo de amigos. Alguns choraram. Ela também se emocionou.
O grupo disse estar confiante de que “vai dar tudo certo” e que acredita na inocência de Adriana. De acordo com eles, são mais de 250 amigos em vários estados do país que chegaram, inclusive, a criar uma página na internet. Na entrada do Tribunal do Júri, o advogado da filha dos Villela Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falou com a imprensa. “Penso que a Adriana já morreu algumas vezes nesse processo com a dor da perda dos pais. Uma acusação sem nenhuma técnica. Espero que hoje seja o começo do fim dessa tragédia e que a Adriana saia absolvida do Tribunal”, assinalou.
De acordo com o criminalista, a defesa conseguiu provar, por meio de um trabalho técnico, que Adriana não estava na casa dos pais no dia do crime, ocorrido há 10 anos na 113 Sul. “Temos uma linha do tempo que foi aceita em boa parte pelo TJDFT (Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios) e STJ (Superior Tribunal de Justiça), que é irrefutável”, acrescentou.
O Tribunal do Júri vai ouvir 44 testemunhas: 17 de acusação e 27 de defesa. Adriana deve ser ouvida na quarta (25/09/2019) ou na quinta-feira (26/09/2019). O irmão da Adriana, Augusto, e a filha dela também estão no Tribunal. Entre os 25 jurados, sete foram escolhidos nesta segunda: quatro mulheres e três homens.
As testemunhas de defesa que seriam ouvidas no primeiro dia foram dispensadas. Entre as de acusação, quatro prestarão depoimentos nesta segunda.
Antes das 7h, Adriana usou as redes sociais e falou sobre o julgamento. “Começa daqui a pouco. Nossa oportunidade de esclarecer quem sou eu e minha família: uma família amada“, disse.
Em julgamento histórico, previsto para durar cinco dias, os sete formadores do Conselho de Sentença, junto ao juiz presidente do Tribunal do Júri, decidirão se Adriana é ou não a mandante do assassinato dos pais: o ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela. A funcionária da casa, Francisca Nascimento Silva, também foi executada. Eles foram mortos a facadas — 73 no total —, em 28 de agosto de 2009.
Na mesma página no Facebook, Adriana Villela postou um vídeo com o depoimento do seu irmão, Augusto. Ele diz: “A minha irmã tem um comportamento difícil, mas não chega a ser violenta, agressiva. Convivo muito com ela. Nunca a vi agredir ninguém. Tá correndo risco de ser condenada por um crime que ela não cometeu”, destacou.
Guerra de versões
Na semana que precedeu a sessão, a defesa de Adriana Villela tentou suspendê-la, por entender que o Laudo nº 15.000, que coloca a arquiteta na cena do crime, não teria valor. Na visão dos defensores, papiloscopistas não têm competência para assinar um exame de tal envergadura.
Baseado nisso, os criminalistas Antônio de Almeida Castro, o Kakay, e Marcelo Turbay pediram que o julgamento ocorresse somente após realização de novo laudo papiloscópico.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso acatou o pedido parcialmente e determinou ao juiz que, no momento da sessão, esclarecesse ao júri sobre o questionamento do laudo.
A defesa recorreu e pediu novamente a suspensão. Na última quarta-feira (18/09/2019), o ministro Gilmar Mendes foi sorteado para relatar o caso e na noite dessa sexta-feira (20/09/2019) rejeitou os HCs dos advogados e manteve o julgamento para esta segunda-feira (23/09/2019).
O MPDFT discorda de Kakay e Turbay e defende a validade do laudo. Para o promotor Maurício Miranda, que atuará no Júri ao lado do colega Marcelo Leite, o trabalho feito pelos papiloscopistas é de alta qualidade. “São pesquisadores, doutores, verdadeiros cientistas. As informações que eles coletaram foram publicadas em revistas internacionais de ciência forense”, ressaltou o também primeiro promotor a atuar no caso.
Miranda detalhou o trabalho técnico executado pelos especialistas. “Diversos casos foram resolvidos com base na datação das digitais. Neste caso, o que permitiu chegar àquelas conclusões é que cientistas viram as diferenças morfométricas, usando a digital da própria Adriana, no mesmo ambiente”, afirmou.
Jurados
Todas as alegações apresentadas serão ouvidas pelos sete jurados escolhidos. Após o sorteio, eles começam a escutar os argumentos e fazer as análises. O grupo ficará incomunicável até o término da sessão, não podendo falar com outras pessoas nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de exclusão do conselho.
Ou seja, como a análise do caso de Adriana Villela está prevista para se estender por mais de um dia, eles não poderão retornar às suas casas. Vão pernoitar nas dependências do tribunal, sob acompanhamento constante.
Quando o conselho de sentença se forma, os jurados recebem cópia das principais peças do processo e passam a acompanhar toda a sessão. No fim, eles vão responder às perguntas que o juiz presidente fizer. Serão questionados se o delito realmente ocorreu (materialidade), se a acusada cometeu o delito do qual está sendo acusada (autoria), e se ela deve ser absolvida. Também definirão questões relativas a causas de diminuição de pena, atenuantes e possíveis aumentos de qualificadoras.
Diante das respostas, o juiz anunciará o resultado pela absolvição ou condenação de Adriana Villela e, posteriormente, fará a dosimetria da pena, ou seja, calculará a quantos anos a ré será condenada.