Crime da 113: a delegado, tio de acusado disse que Adriana é mandante
Testemunha de acusação, Renato Nunes Henriques, de Minas Gerais, deu depoimento no Tribunal do Júri nesta terça
atualizado
Compartilhar notícia
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) retomou, nesta terça-feira (24/09/2019), o julgamento de Adriana Villela. Uma das testemunhas de acusação a prestar depoimento foi Renato Nunes Henriques, delegado da Polícia Civil de Minas Gerais. Ele disse ter ouvido de um tio de Paulo Cardoso, condenado pelo crime, que a filha dos Villelas era a mandante do triplo homicídio ocorrido há 10 anos na 113 Sul.
O lavrador Neilor Teixeira da Mota foi ouvido em Montalvânia por policiais do DF, mas não chegou a ser condenado pelo crime. O promotor Maurício Miranda analisou que o depoimento do delegado de Minas Gerais auxilia a acusação contra Adriana. “O Neilor o procurou e deixou uma carta escrita dizendo que tinha medo da mandante do crime. Essa carta foi escrita antes de a Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida) chegar à cidade”, frisou. O conteúdo foi apresentado no Tribunal do Júri de Brasília nesta terça.
Segundo Miranda, a inserção de Neilor no processo desacredita o trabalho que a 8ª DP (SIA) fez para afastar a investigação de homicídio e levar ao latrocínio (roubo seguido de morte). “Nós estamos comprovando, por meio dos depoimentos dos executores, que quem estava na cena do crime eram Paulo e Leonardo. Até acredito que o terceiro não estava lá, mas isso é uma outra questão”, destacou Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, advogado de Adriana.
O delegado de Minas afirmou ainda que Paulo Cardoso confessou detalhes do triplo homicídio ocorrido na 113 Sul. “Ele contou que ficou com dó de esfaquear a velhinha (Francisca, empregada da família)”, ressaltou, diante do Tribunal do Júri de Brasília. Paulo foi preso em Montalvânia, Minas Gerais, por latrocínio (roubo seguido de morte), em 2010.
“Os policiais do DF foram até lá cumprir uma diligência sem procurar a PCMG. Eles disseram que apenas queriam recambiar o preso por ser acusado pelo crime da 113 Sul. Não deixei que o trouxessem para o DF, mas permiti que Paulo fosse ouvido na minha presença”, frisou o delegado.
Renato Henriques também ouviu o acusado, na ocasião. “Eu tirei o Paulinho da cela e ele confessou tudo. Pedi detalhes da dinâmica e ele disse que saiu de Montalvânia a convite de Leonardo Campos Alves para praticar o crime em Brasília. Contou ainda que pegou uma faca, amolou cerca de 1/3 da lâmina, transformando-a em um punhal para matar as vítimas”, detalhou.
Na opinião do delegado, Paulinho deixou claro que a intenção era matar. “O furto havia sido para despistar. A ideia era matar mesmo. Ainda no depoimento, ele disse que o Leonardo estava junto e matou os ‘velhos’. Contou que na hora que foi esfaquear a ‘velhinha’ (Francisca) ficou com dó, mas Leonardo o mandou seguir em frente”, assinalou.
O crime ocorreu no dia 28 de agosto de 2009. Foram mortos a facadas o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, a advogada Maria Villela, 69, e a funcionária da casa, Francisca Nascimento Silva, 58.
Kakay avaliou positivamente o depoimento do delegado de Minas. “Desde o início, ele relata que Paulo diz claramente que não houve mandante. Mesmo ouvido em Montalvânia, sem se encontrar com Leonardo, faz um relato pormenorizado que ele e Leonardo mataram. Não podia ser diferente. A Adriana é inocente”, afirmou.
Com os depoimentos de Michele da Conceição Alves e José Ribamar Campos Alves, filha e irmão de Leonardo, respectivamente, a acusação espera convencer os jurados de que a confissão do assassino, que tira Adriana do caso, foi falsa e ocorreu mediante tortura.
A primeira testemunha de acusação a ser ouvida no segundo dia de julgamento de Adriana Villela foi o policial civil do DF Felipe Maia Ximenes. No Tribunal do Júri de Brasília, ele disse que não fazia parte de nenhuma das unidades que investigava o caso. Trabalhava na 27ª DP (Recanto das Emas), estava cobrindo um plantão na 17ª DP (Taguatinga Norte) e, em um fim de semana do ano de 2012, encaminhava um preso de roubo a banco até o Instituto Médico Legal (IML) quando, durante o trajeto, o homem teria dito que ficou preso na mesma carceragem que Leonardo Campos Alves, um dos condenados pelo triplo homicídio da 113 Sul.
“Quando os policiais falavam sobre dinheiro e que o caso da 113 Sul envolvia muito dinheiro, este preso balançou a cabeça positivamente”, contou. O policial então levou a situação ao conhecimento da Corvida, mas não sabe se o preso foi ouvido posteriormente. O depoimento durou 30 minutos. Não houve questionamentos.
“Vai para o inferno, seu velho”
O primeiro dia de julgamento de Adriana Villela durou mais de 10 horas e somente uma testemunha foi ouvida: a delegada aposentada Mabel de Faria. Ela chefiava a Corvida na época do crime e entende que a arquiteta é mandante do triplo homicídio ocorrido no Bloco C da 113 Sul em 28 de agosto de 2009.
A coordenação assumiu as investigações do crime da 113 Sul, após a suspeição das investigações conduzidas pela delegada Martha Vargas. Mabel reproduziu detalhes de um suposto diálogo que Adriana teria travado com o pai antes de ordenar a execução. “Nesse diálogo, José Guilherme fala: ‘Minha filha, você nisso’? E ela disse: ‘Eu te odeio! Vai para o inferno, seu velho’”.
A defesa sustenta que Adriana não é mandante do crime. Diz inclusive que ela esteve durante a tarde do dia do triplo homicídio na Cultura Hispânica, em contraponto a depoimento de que ela teria passado de carro para entregar dinheiro aos condenados pelo crime. “Não tem como ter passado às 16h na W3 para entregar um dinheiro e estar naquele horário do crime, das 19h às 20h, porque temos comprovação através de ERBs [sistema de telefonia], testemunhas e de coisas que Adriana comprovou que ela estava em outro local”, afirmou o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
“Se (Adriana) não esteve quando da execução, esteve em momento após a execução, minimamente”, disse a delegada aposentada Mabel de Faria, durante depoimento.