Crianças não atendidas: HRC tinha um médico em dia com 175% de lotação
Quadro de pessoal foi confirmado em consulta à Ouvidoria da Secretaria de Saúde, que revelou um cenário trevoso no hospital de Ceilândia
atualizado
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Com superlotação de 175%, o Hospital Regional de Ceilândia (HRC) deixou de atender crianças doentes, que buscavam atendimento na unidade de saúde, entre a noite do dia 17 e a madrugada de 18 abril de 2024. Além da demanda excessiva de famílias em busca de socorro, segundo consulta à Ouvidoria da Secretaria de Saúde, naquele a unidade havia apenas um médico no plantão na pediatria.
“Havia apenas um médico para tal demanda num ambiente caótico. Chefia de equipe e gestores cientes da situação e bandeiraram o atendimento para vermelho. Diante do exposto, pedimos desculpas pelo transtorno”, afirmou a Ouvidoria da pasta.
De acordo com o documento, o atendimento no plantão estava restrito devido à alta complexidade de pacientes internados. O hospital tinha 10 pacientes em ventilação mecânica (oito intubados e dois em ventilação não invasiva com pressão positiva – VNI), fora os demais pacientes que se encontravam internados.
“Havia pacientes fora de leito, sem pontos de oxigênio disponíveis, sem recursos humanos, sem equipe de enfermagem completa, sem fisioterapeuta para manejar os pacientes”, relatou a Ouvidoria. E, diante desse cenário, havia apenas um médico.
Pressionado pela explosão de casos de dengue, Covid e doenças respiratórias, bem como a falta de profissionais de saúde, pacientes do HRC, incluindo crianças, têm voltado para casa doentes, com dores e sem atendimento. Outros optam por dormir na unidade, por medo de o quadro de saúde se agravar. O drama foi gravado em vídeo.
Veja:
Com crianças no colo, mães chegam pela manhã, por volta das 10h, e voltam para casa na madrugada seguinte, não raro sem tratamento. Conforme as famílias, o atendimento para pediatria e ginecologia foi interrompido na semana passada.
Pais e mães solicitaram a escala de plantão da unidade, mas os servidores se recusaram a prestar a informação. “Disseram que não tem médico. Que os que estão aqui só vão atender casos gravíssimos com risco de morte. Mas não querem dizer quantos médicos que, em tese, devem estar aqui”, contou uma paciente, que viveu o caos da superlotação de 175%.
Os profissionais de saúde do hospital estariam escalados para tratar dos pacientes nas unidades de terapia intensiva (UTIs). Alguns pacientes chegaram ao hospital com recomendação de atendimento, principalmente crianças com sintomas de pneumonia e outras doenças respiratórias. No entanto, receberam classificação laranja e amarela. Mesmo com laudos e raio X em mãos, não foram recebidos. A unidade passou a atender apenas casos classificados com a pulseira vermelha.
“Para mim, é muito desumano. Uma criança ficar em uma cadeira dura, esperando 12 horas”, lamentou uma testemunha.
Hmib
O drama do HRC não é um caso isolado. Recentemente, famílias denunciaram falha no atendimento no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).
Em colapso, a unidade sofreu com o déficit de 361 profissionais de saúde, e crianças doentes ficaram mais de 24 horas sem atendimento.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde sobre o caso. Segundo a pasta, em nota, o HRC conta com 21 pediatras e o governo tem adotado medidas desde 2023 para recompor o quadro de servidores no Sistema Único de Saúde (SUS) local.
Leia a nota completa:
“A Secretaria de Saúde informa que o Hospital Regional de Ceilândia possui 21 pediatras lotados no Pronto Socorro e na Enfermaria. Dentre as ações desenvolvidas para dar celeridade aos atendimentos oferecidos a população, estão a nomeação de novos servidores em concursos públicos e contratações temporárias para suprir a necessidade de diversas áreas assistenciais. Em 2023, foram chamados 741 médicos de diversas especialidades, 241 enfermeiros, 132 cirurgiões dentistas e 565 especialistas em saúde, totalizando 1.685 nomeações. Já em 2024, foram realizados 700 novos chamamentos, sendo 90 médicos, 156 enfermeiros, 181 técnicos de enfermagem e 273 agentes de vigilância ambiental e atenção comunitária à saúde.
Ao longo da gestão, houve a construção e revitalização de unidades de saúde; desenvolvimento de estratégias para otimização dos processos e fluxos de trabalho. Também foi instituída a Política de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT), que tem por objetivo promover a atenção integral à saúde e a valorização dos servidores em sua totalidade. A pasta informa que tem concurso válido para enfermeiros e técnicos de enfermagem. Além disso, segundo a edição extra do DODF – A do dia 04/04/2024, foi sancionada a lei que permite a nomeação de 240 médicos aprovados em concurso.
A Secretaria de Saúde convocou 200 profissionais e recebeu dia 03/04 os 200 novos médicos generalistas. https://www.saude.df.gov.br/w/
secretaria-de-sa%C3%BAde-receb . Os novos médicos contratados foram encaminhados para as Urgências e Emergências em hospitais de todas as regiões do DF e para o SAMU, que são as áreas que mais necessitam de suporte profissional no momento, principalmente por conta da epidemia de dengue e as doenças respiratórias.”e-200-novos-m%C3%A9dicos-gener alistas