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Crianças, mulheres e morte: o que o pedófilo da Asa Norte escrevia nas redes

Daniel Bittar foi preso, na noite de quarta-feira (28), por sequestrar, estuprar e manter uma criança refém em um apartamento, na Asa Norte

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1 de 1 Daniel Moraes Bittar2 - Foto: Reprodução

“Sei que para mim meu coração é perverso.” Assim se descreve Daniel Moraes Bittar, 42 anos, preso, na noite de quarta-feira (28/6), por sequestrar, estuprar e manter refém uma criança de 12 anos em um apartamento na Asa Norte, em um de seus poemas, publicado na internet. Entre metáforas e eufemismos, uma foto ou outra, o analista de TI deixa nas entrelinhas possíveis “segredos” e percepções por meio de três figuras repetidas: a infantil, a feminina e a da própria morte.

“Ninguém sabe o que eu sei, nem anseia o que eu anseio. […] Ninguém sabe dos meus medos, nem a razão do meu silêncio. Não percebem a dor em meu jeito nem escutam a força do meu gritar. E a lágrima que escapa escondida, ladeando o sorriso dolorido, hoje esconde as dores da vida. Esconde o que tenho sofrido: o sorriso de uma vida perdida e tudo o que tenho vivido”, diz um dos textos.

Devido ao caso horripilante, que dominou o noticiário nacional nesta semana, internautas passaram a especular nas redes sociais possíveis mensagens que poderiam estar por trás dos textos: “Tenho medo de serem confissões de outros crimes”, escreveu uma pessoa. “Esses textos precisam ser investigados”, pontuou outra. “Que doentio! Sempre fala de uma criança”, escreveu uma terceira.

Confira as postagens:

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Em um outro texto, o pedófilo descreve a angústia e o lamento de ver o “último sopro de vida” de uma “esperança assassinada”. “Ouro reluz, a lua conduz o sonho perdido e o choro contido. Dor palpitando. Coração sangrando. Voz apagada. Alma quebrada. [Eu] lamento em pranto. Mãos suando. Lágrima solta. Raiva, revolta. Luz apagada. Esperança assassinada. O sopro da vida. A última despedida”, escreveu Daniel.

Confira estrofes de outros poemas. “E o sol nascera rubro, com o choro de cada criança, porquanto haviam perdido a esperança aquele triste dia de outubro”, diz o investigado em uma terceira publicação. “Uma rosa na rua desabrochou. Às chuvas ácidas, ao barulho e à poluição resistiu. Mas quando uma criança a um homem ajuda pediu e ele tapou seus ouvidos, da rosa o sorriso sumiu e uma pétala dela caiu”, expressou-se em um outra.

Para além de publicações sobre literatura e de teor político, o suspeito publicou uma imagem de uma campanha contra a pedofilia. “Pintou um clima? Não. Pedofilia é crime”, diz o post. Já é em outra, Daniel fala sobre “homens contra a cultura do estupro”.

Ainda na mesma rede social, Daniel ao manifestar-se contra a pedofilia e a cultura do estupro, aproveitava para divulgar algumas das obras já publicadas por ele, sendo uma delas intitulada como “Segredo de Verão”.

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O caso

Durante 11 horas, uma criança de 12 anos vivenciou momentos de terror sob o poderio do criminoso confesso. No período, a menina foi sequestrada, dopada, agredida e estuprada pelo ex-empregado público.

Sobrinha de um policial militar de Goiás, a garota foi resgatada algemada, ao pé de uma cama, dentro do apartamento do pedófilo. Segundo a Polícia Militar do estado goiano (PMGO), a menina estava bastante machucada, com sinais de violência sexual, e precisou ser levada a um hospital para receber atendimento.

A reportagem cruzou relatos de familiares e testemunhas à polícia, bem como horários registrados em câmeras de segurança, para explicar a cronologia dos fatos. Confira:

Em vídeo durante abordagem policial, Daniel Moraes Bittar disse que apenas “conversava” com a vítima. Ele confirma que a garota estava em seu apartamento e afirma, no momento do vídeo, que “ainda não fez nada com ela”. Questionado pelos policiais, o suspeito chega a pedir calma.

Preso na noite de quarta-feira (28/6), depois de sequestrar uma criança de 12 anos, abusar sexualmente dela e mantê-la refém, Daniel permaneceu em silêncio durante depoimento prestado à polícia, na madrugada de quinta-feira (29/6). Uma mulher suspeita de ter participado do crime também está detida.

No apartamento do pedófilo, a polícia encontrou uma garrafa de clorofórmio; duas máquinas de choque; uma fita geralmente usada para amarrar pessoas; medicamentos; objetos sexuais, como vibradores; uma câmera fotográfica; cartões de memória; uma mala; DVDs; e revistas de conteúdo pornográfico. No tempo que passou com a vítima, Daniel chegou a dizer que faria dela uma “escrava sexual”. Ele também teria filmado a criança enquanto acariciava os órgãos genitais dele e enviado o vídeo para a mulher suspeita de ter participado do sequestro.

A PMGO informou que a vítima foi encontrada consciente, mas abalada, bastante machucada, com sinais de violência sexual e que ela precisou ser levada ao hospital, para receber atendimento.

Rede de pedofilia

Segundo a corporação goiana, Daniel pode fazer parte de organização criminosa que divulga vídeos pornográficos e incentiva a pedofilia.

No local em que a menina foi resgatada, na casa do criminoso, na 411 Norte, os policiais encontraram uma estrutura completa para gravações de vídeos, além de diversos objetos sexuais.

“Existem fortes indícios de que [o investigado] tenha feito outras vítimas, pois, na casa dele, encontramos muitos materiais de pornografia, um ambiente preparado para filmagens, além de inúmeros objetos que dão a entender que ele pode fazer parte de algum tipo de organização que produz e divulga vídeos de pornografia, pedofilia e [comete] uma série de outros crimes”, declarou o tenente-coronel da PMGO Alessandro Arantes, responsável pelas operações da corporação no caso.

Nas mídias sociais, Daniel fingia combater a pedofilia para não ser descoberto, segundo as investigações. Ele, inclusive, teve o cuidado de sair do Distrito Federal, onde poderia ser conhecido, para cometer o crime em Goiás.

Chefe da 5ª Delegacia Regional de Polícia (DRP), em Luziânia (GO), Rafael Abrão afirma que Daniel premeditou o crime e monitorava, havia alguns dias, a escola em que a criança estuda, à procura de possíveis alvos para o sequestro. Para isso, ele usava, inclusive, objetos como binóculos.

Na data do crime, ele teria escolhido a menina de 12 anos entre as vítimas que ele considerava “vulneráveis” — no caso, as que não estavam acompanhadas por pais ou responsáveis.

No momento em que abordou a criança, Daniel estava com Gesiely de Sousa Vieira, 23. Ela disse à polícia que teria sido coagida a participar do sequestro. No entanto, os investigadores não acreditam na versão, porque o criminoso deixou a comparsa na Cidade Ocidental (GO) após raptar a criança, e a suspeita não procurou a polícia para denunciar o caso.

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