Criança abusada por falso pastor chegou a escrever carta de suicídio
No manuscrito, menina afirmava ouvir vozes dizendo que ela iria morrer
atualizado
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Tardes com videogame, pizza e muita conversa. Era dessa forma que Gilmar Oliveira dos Santos, o falso pastor que atuava no Itapoã, convencia menores de idade a participarem de cultos na casa dele. Dizendo se chamar “anjo Eric”, ele pedia sigilo às crianças em relação aos abusos sexuais que eram cometidos na residência.
Os detalhes estão sendo contados pelas próprias vítimas à delegada da 6ª DP (Paranoá), Jane Klébia, responsável pelo caso. “O Gilmar queria criar uma espécie de comunidade. Ele deveria ser chamado de ‘pai’ e uma adolescente de 15 anos era a ‘mãe’. Tudo era pensado para deixar as crianças muito à vontade”, conta.
Conforme as investigações, adolescentes abusadas por Gilmar passaram a mutilar os próprios corpos, cortando-se com gilete. Uma delas escreveu: “A culpa é do Gilmar” na própria coxa. Outra redigiu uma carta de despedida com a intenção de cometer suicídio por causa dos abusos sofridos.
No manuscrito, a criança diz estar sentindo forças do céu e do inferno e que algumas vozes afirmavam que ela morreria.
A delegada, no entanto, não sabe dizer se essas ações eram algo que o falso pastor pedia ou uma reação das crianças. “Gilmar contava a história de que um anjo pedia a prática dos atos sexuais e cada vítima achava que era a única a receber esse tipo de atenção. Pode ser que, quando descobriam o caso com as outras, se sentiram frustradas e fizeram essas coisas”, explica.
Veja a carta de despedida de uma das vítimas
A atuação do falso pastor tem, pelo menos, dois anos. De acordo com Jane Klébia, ele passou por três igrejas antes de passar a atuar sozinho em casa. “Acontecia sempre a mesma coisa: ele reunia crianças, levantava suspeitas e desaparecia. O mais curioso é que ele também conseguia levar esses garotos e garotas junto. Eram cerca de 20”, explica.
Foi a partir da atuação domiciliar que as reuniões ficaram ainda mais frequentes. De acordo com os depoimentos colhidos até agora, ele chegou ao ponto de fingir ser o padrasto de uma das vítimas e foi à escola justificar as várias faltas da menina. “Matavam aula para ir para casa dele, uma das garotas até reprovou por causa disso”, conta a delegada.
Novas denúncias
Nesta terça-feira (18/06/2019), outras duas famílias foram à 6ª DP para relatar os abusos. De acordo com Jane Klébia, além de contar a própria história, indicaram mais duas vítimas. “Creio que a tendência é aparecer cada vez mais denúncias”, diz.
Gilmar Oliveira dos Santos foi detido na tarde dessa segunda-feira (17/06/2019), no Paranoá, após cumprimento de mandado expedido pela Justiça. Ele já passou pela audiência de custódia e aguardá preso pelo julgamento.