Cresce o número de filiados a partidos políticos no DF
Número subiu 4,1% em 2017. Especialista diz, porém, que desinteresse pela política também aumentou após operações da PF
atualizado
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Um em cada 10 eleitores do Distrito Federal é filiado a algum partido político. O percentual, de 9,8%, está abaixo da média nacional, de 11,3%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas supera os de outras unidades da Federação, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde 9,7% e 9,2% do eleitorado adotou o programa de alguma legenda, respectivamente.
Das 2.005.229 pessoas habilitadas a votarem no Distrito Federal, 197.734 são ligadas a uma das 35 siglas reconhecidas pelo órgão. A quantidade de brasilienses vinculados a algum partido em novembro de 2017 — dado mais recente do TSE — cresceu 4,1% se comparada ao mesmo mês de 2016, quando foram registrados 189.827 filiados. Em igual período, o total de eleitores cresceu 2,3%.
Moradora de Planaltina, a ativista Mayrla Silva, 20, é filiada ao PSDB-DF há quatro anos. Ela conta ter se encantado, inicialmente, com os princípios de centro-esquerda que deram origem ao partido. Assim que alcançou a idade mínima, criou laços com a sigla.
Atualmente, Mayrla Silva está à frente da juventude do Tucanafro — segmento voltado para o desenvolvimento de políticas públicas para a população negra. A moça ainda coordena um coletivo no Vale do Amanhecer responsável por promover ações sociais e culturais na comunidade.
Eu entendi que, quando você faz parte de um partido, consegue pensar e dizer
Mayrla Silva, 20 anos, filiada ao PSDB-DF
Morador do Gama, José Bartolomeu da Silva, 84, está do outro lado do tabuleiro. Um dos fundadores do PT, o aposentado ainda nutre paixão pela sigla, mesmo após os escândalos de corrupção envolvendo figurões do partido. “Eu continuo, sim, acreditando no PT. O partido faz parte da minha vida, da minha luta”, reafirma.
O carinho está espalhado pela casa dele. Na residência, o aposentado guarda antigos objetos, como um cofre no qual ele colocava dinheiro para contribuir com a sigla, um manifesto datado de 1984 e jornais de décadas atrás. E, claro, bandeiras com o vermelho característico.
Eu acompanho política desde quando tinha 10 anos. Para mim, só tiveram três presidentes em toda a história da República: Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Lula. Os outros não fizeram nada em benefício desse povo brasileiro tão sofrido
José Bartolomeu
A servidora pública Geralda Resende, 57, diz ter encontrado no PSB-DF o espaço para lutar pela representação feminina. Para ela, a filiação partidária é importante para que possa participar ativamente das ações da legenda. “Sem isso você não tem espaço para dar opinião”, acredita. Desde 2015, Geralda Resende ocupa a função de secretária de Mulheres do PSB-DF. No Distrito Federal, o quadro da agremiação é composto por 5.665 membros — 2,8% do total.
Ranking
O PSDB detém a maior fatia dos filiados brasilienses: 27.967 são tucanos — 14,1% do total. Logo atrás, estão o PMDB e o PT, com 25.426 e 19.265 membros, respectivamente. Os números representam percentuais de 12,8% e 9,7%. Na lanterna vem o PCO, com 37 filiados.
O presidente regional do PSDB-DF, deputado federal Izalci Lucas, defende que a sigla transmite uma perspectiva de “poder”. “Muita gente hoje reconhece que não tem como fazer política sem partido”, sustenta.
O diferencial do PMDB-DF, por outro lado, é a liberdade, destaca o presidente em exercício da executiva regional, Gustavo Aires: “O filiado pode participar de todos os órgãos, núcleos e diretórios”. A meta, segundo o dirigente, é aumentar a quantidade de seguidores da ideologia da legenda.
Em nível nacional, porém, as posições se invertem: o PSDB está em segundo lugar, com 8,7% dos filiados, e o PMDB lidera o ranking, com 14,13%. No total, são 2,3 milhões de peemedebistas espalhados pelo Brasil.
Para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas, o percentual de 9,8% de filiados no DF reflete o perfil do eleitor brasiliense: politizado, com média de anos de estudo maior que a nacional. Se o número fosse excessivo, diz ele, poderia gerar uma “guerra civil”.
Apesar do aumento em 2017, Ricardo Caldas acredita que há um desinteresse maior sobre a atuação política, principalmente após a deflagração de operações como a Lava Jato, que escancararam episódios de corrupção envolvendo representantes do povo.
Não há vínculo no Brasil entre eleitor e político. Não há confiança, nem nada. A relação é meramente utilitária no momento da eleição.
Professor do Instituto de Ciência Política da UnB Ricardo Caldas
O que a legislação prevê
Só pode se filiar a algum partido quem está em “pleno gozo dos direitos políticos”, segundo o TSE. A lei é enfática também sobre o prazo para se associar em ano eleitoral: seis meses antes da data das eleições. Para 2018, portanto, interessados em se candidatar para disputas majoritários ou proporcionais devem adotar o programa de uma sigla até abril.
De acordo com a lei que rege as agremiações, além de ser livre a definição dos objetivos políticos, as siglas podem estabelecer os direitos e deveres dos membros. Os limites das contribuições e as fontes de receita também são determinados por cada uma.
O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, pode mudar as regras do jogo. Neste ano, a Corte deve julgar se as candidaturas avulsas serão aceitas nas eleições.