CPI: veja diálogos relatados por general no dia do recuo de desmobilização de golpistas
Em 29 de dezembro, ação das forças de segurança e ordem do DF contra acampamento acabou sofrendo recuo após ordem de general
atualizado
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O depoimento desta quinta-feira (18/5) colhido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), detalha diálogos de generais do Exército no dia em que as Forças Armadas recuaram em relação à desmobilização do acampamento golpista.
Em 29 de dezembro de 2022, forças de segurança do DF tentaram acabar com aquela manifestação pedindo golpe, mas tiveram que cancelar a operação. O general Gustavo Henrique Dutra, que chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP) na data, deu a versão do Exército sobre o que ocorreu naquele dia, ressaltando um diálogo com o comandante da época, general Marco Antônio Freire Gomes.
“O acirramento dos ânimos fez com que o barulho fosse ficando grande. O Comandante do Exército me falou: ‘Dutra, o que está acontecendo? As operações nunca foram tumultuadas’. Eu falei: ‘General, está tendo um certo antagonismo com o DF Legal’. Ele disse: ‘Tem alguma decisão judicial para desmontar o acampamento?’. Eu disse que não. Ele me falou: ‘Dutra, hoje é dia 29. A posse é daqui a dois dias. Não pode ter problema nesse momento. Agradece a Polícia Militar e continua desmontando’. Porque, quando o soldado do Exército desmontava, não tinha problema. Mas o DF Legal, tinha problema”, afirmou à CPI.
Acompanhe a CPI:
Dutra ainda defendeu que o Exército tentou “desmotivar o acampamento o tempo todo”. “O Exército é uma instituição preocupada com a dignidade humana, a preservação da vida, o cumprimento legal das atividades. Nenhuma instituição com poder para dizer que aquele acampamento era ilegal o fez”, disse.
Segundo ele, se não houvesse o 8 de janeiro, a manifestação acabaria “naturalmente” na semana do dia 9. “Em Belém, quando houve ordem judicial, imediatamente o acampamento foi desmontado. Aqui, nunca trataram o acampamento como ilegal, trataram ilegalidades que por ventura acontecessem no acampamento. Elas foram combatidas. Furto de água, comércio ilegal, furto de energia elétrica.”
CPI
A participação do general Dutra vem após a aprovação de um requerimento de convite, não convocação. Nesses termos, ele não é obrigado a participar. Mas assessores parlamentares do Exército, a pedido do comandante, general Tomás Miguel Miné, fizeram reuniões com deputados da CPI e confirmaram a presença, desde que não houvesse obrigatoriedade.
O Comando Militar do Planalto é responsável pela área do Quartel-General do Exército em Brasília. Sob gestão de Dutra, o CMP permitiu o acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), que pediram um golpe de Estado e cometeram uma série de crimes naquela região.
O general também já foi citado nominalmente na CPI, quando o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Eduardo Naime o acusou de impedir prisões de golpistas no QG após ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no fim do dia 8.
Outro fato relevante envolvendo o militar do Exército foi uma reunião com Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do DF, 48 horas antes do atentado contra a democracia de janeiro.