CPI requer convocação de coronel do Exército que protegeu bolsonaristas em QG após 8/1
Tenente-coronel permitiu fuga de grupo de bolsonaristas que invadiu área militar após o 8 de Janeiro. 11 deles “sumiram” em dia de prisões
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos apresentou um requerimento para ouvir o tenente-coronel do Exército Moacir Mendonça Lima (foto em destaque, ao centro). Ele é comandante da Base de Administração e Apoio do Comando Militar do Planalto (CMP) e permitiu a fuga de um grupo de bolsonaristas que invadiu a área do Quartel-General do Exército em Brasília, na madrugada seguinte ao 8 de Janeiro, como revelado pelo Metrópoles, em reportagem publicada nesta sexta-feira (28/7).
As informações, confirmadas por meio de documentos oficiais, detalham toda a ação e liberação dos invasores. Por volta de 0h30, 13 bolsonaristas adentraram o quartel por uma entrada na cerca, próximo à Divisão de Educação Física, um dos primeiros pontos de acesso do Setor Militar Urbano (SMU) de quem vem da Esplanada dos Ministérios.
Um soldado que estava de prontidão no local rendeu os suspeitos. Foram identificados nove homens e quatro mulheres, de diferentes regiões do país. A maioria, seis deles, eram moradores de Curitiba (PR). A Companhia de Guarda foi chamada, acompanhou a revista e encontrou com eles um canivete e até uma arma de choque. Detidos, eles seriam recolhidos devido à invasão a uma organização militar, com o agravante dos itens apreendidos.
Mas a base comandada por Moacir Mendonça Lima permitiu a liberação dos invasores, que se esconderam. No dia seguinte, quando mais de mil golpistas foram presos no acampamento, 11 invasores “sumiram”.
A lista com o nome de todos os detidos no dia 9 conta com apenas dois dos 13: Bruno Edson Gabriel Marinho, 39 anos, natural do Rio de Janeiro, e Guilherme Cazelli Conde, 29, de Mato Grosso. Ambos são monitorados com tornozeleira eletrônica. Guilherme já é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no Inquérito 4921, que apura os autores intelectuais e as pessoas que instigaram os atos.
Quem é o comandante
Moacir foi nomeado comandante da Base de Administração e Apoio do CMP em portaria de 12 de maio de 2023. A base tem como objetivo “racionalizar estruturas e otimizar o apoio administrativo ao Comando Militar do Planalto”, concentrando estruturas administrativas comuns a várias unidades na área do SMU, segundo o próprio site da área.
Após a publicação da reportagem do Metrópoles, o site da base chegou a ser retirado do ar. Na página, que podia ser acessada antes da postagem, havia informações como o nome do comandante Moacir, o acesso à área de licitações e o download de galerias de fotos dos militares do setor, por exemplo.
No 8 de Janeiro, quando bolsonaristas depredaram prédios da Praça dos Três Poderes e atacaram forças de segurança em uma tentativa de golpe de Estado, a Base de Administração e Apoio empregou um efetivo de 85 militares para atuar na contenção da ordem, às 16h50. Moacir Mendonça foi um dos três comandantes das organizações militares responsáveis por enviar homens ao Palácio do Planalto.
“Desorientação”
O Exército foi procurado pela reportagem para comentar a denúncia, mas alegou que a invasão ocorreu por “desorientação”, mesmo o grupo portando arma de choque e canivetes.
“Durante a apuração sumária da ocorrência, constatou-se que o acesso ao local havia ocorrido por desorientação dos envolvidos, não tendo sido identificada a caracterização de dolo de invadir e/ou permanecer no local de forma irregular, o que motivou a liberação do grupo e o registro da ocorrência apenas para controle da informação”, argumentou.
Linha de blindados
O episódio da proteção ao grupo vai ao encontro de outras denúncias sobre militares de alta patente terem auxiliado bolsonaristas logo após o 8 de Janeiro. Como relatado na CPI dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal, a Polícia Militar do DF tinha ordens de entrar no SMU, desmobilizar o acampamento e prender golpistas depois da depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes.
A PM, porém, encontrou uma linha de militares do Exército e blindados impedindo qualquer um de entrar na área do QG. A reportagem do Metrópoles também esteve no local naquela ocasião e confirmou essa ordem.
O ex-comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra, também na CPI, alegou que os bolsonaristas só não foram detidos imediatamente porque havia risco de morte com essa operação, que seria complexa, e o próprio presidente Lula (PT) teria concordado com a realização das prisões apenas no dia seguinte.
Ele chegou a dizer que pessoas poderiam até se afogar no lago que fica na Praça dos Cristais. Porém, o espelho d’água da praça tem de 30 a 32 centímetros de profundidade. O tamanho mal é suficiente para as carpas que moram lá. Um revólver chegou a ser achado no lago após as prisões.