CPI: extratos contradizem empresário, que negou ter contratado trio elétrico para ato golpista
Documentos obtidos pela CPI e depoimento de dono da empresa do trio contradizem a versão dada por empresário bolsonarista aos deputados
atualizado
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O empresário Adauto Lúcio de Mesquita (foto em destaque), que prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa (CLDF) nesta quinta-feira (4/5), negou ter contratado um trio elétrico para manifestações golpistas. Mas documentos e extratos obtidos pelo colegiado contradizem a versão dada aos deputados.
Adauto admitiu que fez doações de R$ 1.210 ao acampamento bolsonarista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, para contratação de tendas, mas disse não ter dado “um centavo” para um trio elétrico usado em atos golpistas nem feito o contrato. Porém, o proprietário do trio disse ter sido contratado por ele.
Em depoimento às autoridades policiais da CPI, o responsável pela empresa do trio respondeu que foi contratado por Adauto em 2 de novembro de 2022, logo após o resultado da eleição que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Com relação ao acampamento localizado no Quartel-General do Exército, informou que tão logo o mesmo se iniciou, foi contratado pela pessoa de Adauto. Esclareceu que Adauto, no dia 2 de novembro, entrou em contato com o depoente e que já nessa ocasião solicitou que o trio elétrico Coyote, maior da empresa, deslocasse para o acampamento. […] Que foi buscar o trio elétrico na 26 de Setembro e que Adauto foi junto com o depoente”, traz o termo de depoimento policial.
Suposta pechincha
O empresário ouvido deu uma versão diferente. Ele justificou ter visto apenas uma negociação sobre o preço e que ajudou os participantes a “pechinchar”, por ser um “comprador” e ter essa habilidade. “Fui, apresentei-me, negociei e pedi um preço menor. Tenho habilidade de pechinchar. Mas não dei um centavo. Eles já contratariam. Só ajudei a negociar”, defendeu-se.
Mas a CPI também teve acesso a dados bancários que colaboraram com a versão do empresário do carro de som, que mostram a arrecadação de dinheiro para pagar o valor contratado com a empresa do trio elétrico (confira abaixo), de R$ 30 mil, por três dias: 2, 5 e 6 de novembro, quando bolsonaristas protestavam contra o resultado das urnas.
“Nesses dias, o trio elétrico Coyote funcionou em frente ao Quartel-General do Exército, das 17h às 20h. Que por esses três dias a empresa cobrou a importância de R$ 30 mil. Que esse valor foi pago por diversas pessoas através de Pix”, detalha o depoimento do dono da empresa dos trios.
Entre os nomes de pessoas que pagaram por esse serviço, consta ainda Joveci Xavier, sócio de Adauto.
Para o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), todo o financiamento foi fundamental para a tentativa de golpe. “Isso aí vai estar certamente no relatório final. É motivo para indiciamento dele e de outros que contribuíram também. Não teria acontecido dia 12 [de dezembro do ano passado, quando bolsonaristas atearam fogo em veículos e atacaram a polícia] e o dia 8 se não tivesse sido o acampamento. Portanto, quem ajudou na manutenção do acampamento colaborou diretamente para os atos antidemocráticos, os atos terroristas, que aconteceram no dia 12 e no dia 8.”
Investigação da PCDF
Um relatório da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) revelou que Adauto “não somente financiou atos antidemocráticos como também participou efetivamente das manifestações em favor de intervenção militar”. Dono da rede Melhor Atacadista, o empresário fez doações para a campanha do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nas eleições de 2022.
Após o depoimento, a assessoria de Adauto divulgou nota dizendo que ele “não financiou, pagou ou contratou qualquer trio elétrico”. Veja a íntegra:
“Conforme informado no depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Adauto Lúcio Mesquita não financiou, pagou ou contratou qualquer trio elétrico. Os próprios extratos do dono da empresa de carro de som, apresentados pela CPI à imprensa, confirmam que não existe nenhuma transferência bancária à empresa proprietária do carro de som. O empresário Adauto Lúcio esteve presente nesta quinta-feira, na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, com objetivo de contribuir com as apurações dos atos realizados no dia 08 de janeiro de 2023. O empresário entregou, por livre e espontânea vontade, aos parlamentares documentos e cópias de seus extratos bancários a fim de comprovar que ele não teve nenhuma relação com os atos de vandalismo realizados no dia 8. Conforme falado em seu depoimento, Adauto repudia veementemente os atos de vandalismo, que culminaram na destruição dos símbolos da democracia brasileira. Adauto reitera que é contra o vandalismo e a intolerância política, e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. Ele reafirma a sua crença na justiça brasileira, no parlamento do Distrito Federal e nas demais instituições da nossa República.”