CPI do DF pode ter até três relatórios, de esquerda, centro e direita
Enquanto relator, mais ao centro, não quer indiciar quem não foi ouvido na CPI, esquerda quer culpabilizar Bolsonaro e direita governo Lula
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Distrito Federal terá mais de um relatório. Até três documentos podem ser apresentados. Um oficial, mais ao centro, e dois alternativos, de deputados de esquerda e direita. Os documentos, porém, devem ficar “na manga” dos deputados, que só devem apresentá-los caso não concordem com o texto lido pelo relator, o deputado distrital Hermeto (MDB).
Fábio Felix (PSol) é um dos distritais que prepara relatório próprio. Ele enxerga em figuras como Jair Bolsonaro (PL) uma responsabilidade clara pelos crimes de tentativa de golpe de Estado em 8 de Janeiro. No entanto, Hermeto não quer indiciar quem não foi ouvido na CPI, o que começa a criar divergências.
“Vamos elaborar um relatório em separado, mas só vamos protocolar caso tenhamos desacordo com o teor do relatório apresentado pelo relator. Essa CPI foi muito importante, teve grande destaque e gera uma expectativa importante na população. Temos que atender a essa demanda”, disse Fábio ao Metrópoles.
A ideia é ter um texto robusto engatilhado como alternativa da esquerda na Câmara Legislativa para se proteger de surpresas do relatório de Hermeto. Além de Bolsonaro, Felix avaliou, durante as sessões da CPI, indícios de crime de generais do Exército, como Augusto Heleno, ex-ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O outro relatório que vem sendo elaborado é do deputado pastor Daniel de Castro (PP). Mais alinhado à direita, ele veio apontando na Comissão possíveis omissões do governo federal de Lula (PT) no 8 de Janeiro. Nesse texto, deve haver indiciamento de GDias e do general Dutra e uma citação a Flávio Dino, que, segundo o distrital, foi omisso.
“Meu gabinete está analisando com muito afinco todo o conteúdo produzido pela CPI, seja por documentos ou depoimentos, para tentar chegar à verdade real que desencadeou os atos do dia 8 de Janeiro. Estamos produzindo um relatório paralelo a ser apresentado caso o relatório oficial deixe de mencionar alguns dos fatos apurados aqui durante esses seis meses. Não é para confrontar o trabalho do Hermeto, até porque confiamos no relatório dele. Mas, se não vier indiciamento de membros do governo federal, vamos apresentar o nosso”, declarou à reportagem.
Daniel de Castro vem pedindo a responsabilização de Marco Edson Gonçalves Dias. GDias, como era conhecido, ocupou o cargo de ministro Chefe do GSI da Presidência da República no 8 de Janeiro. Um possível indiciamento do general, ou seja, a penalização de quem fazia parte do governo Lula, poderia ser lida como uma prova de culpa da gestão petista nos ataques aos prédios públicos da Praça dos Três Poderes.
Na CPMI, GDias não foi indiciado no relatório oficial, mas a oposição pediu essa responsabilização em documentos paralelos. Na prática, os textos alternativos, caso realmente sejam apresentados, só são votados caso o relatório oficial não seja aprovado.
Mesmo com a pressão em cima do trabalho de Hermeto, a expectativa é de que o deputado apresente um texto final que consiga trazer pontos de concordância entre direita e esquerda, indiciando alvos das duas vertentes políticas, como, por exemplo, generais do governo passado e membros da atual gestão. Assim, o relatório deve ser aprovado pela maioria.
O documento vai ser apresentado e votado em novembro. Uma reunião entre distritais aconteceria na próxima segunda-feira para debater o relatório, mas ela foi cancelada. Sendo assim, ele vai direto para a votação dos membros da CPI.
A avaliação da base do governo federal é que não haverá votos suficientes para aprovar o indiciamento de Bolsonaro. Mas a conduta de generais, já ouvidos na CPI, pode ser alvo de indiciamentos.
Mais de 100 nomes
A CPI da Câmara Legislativa deve incluir mais pedidos de indiciamento do que o documento do comitê que tratou do mesmo tema no Congresso Nacional, com mais de 100 indiciados.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), apresentou um documento com mais de mil páginas pedindo o indiciamento de 61 pessoas, entre civis e militares.
Na lista, constam nomes como o do ex-presidente Jair Bolsonaro, dos ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno, e do ex-chefe da Ajudância de Ordens Mauro Cid.