CPI do DF cancela depoimento de indígena pivô de ataque bolsonarista à PF
José Acácio Serere, o cacique Tserere, foi preso e motivou ataques bolsonaristas à Polícia Federal em dia de cenário de guerra em Brasília
atualizado
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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes não respondeu ao pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para ouvir um indígena preso por atos antidemocráticos.
José Acácio Serere Xavante, conhecido como cacique Tserere, está detido na Papuda desde 12 de dezembro, data em que a prisão foi realizada pela Polícia Federal e que acabou motivando uma série de ataques bolsonaristas às forças de segurança, transformando Brasília em um palco de guerra.
Segundo o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), o indígena “foi intimido formalmente pela nossa equipe, se dispôs a vir, que está com vontade de falar, que tem o que falar, mas a liberação depende do ministro Alexandre de Moraes”.
“Pedimos que ele liberasse, esperamos ontem até 22h, o processo está pronto para o despacho. Mas entrou outro processo, não sei se foi um erro do STF, mas mandaram os dois pedindo parecer do MP. Não existe necessidade do parecer do MP. Portanto, tendo em visto o não comparecimento, vamos reconvocar ele para outro dia”, acrescentou o petista.
O indígena seria ouvido pela CPI da CLDF na manhã dessa quinta-feira (25/5), a partir das 10h. A Comissão realizou o pedido da oitiva na última quarta-feira (24/5) e não teve retorno. Nos bastidores, membros do grupo de investigação dizem que, no Supremo, não decidir pode ser uma decisão, o que indicaria uma negativa da liberação. Os distritais agora estudam se pedem a convocação em uma nova data.
Serere Xavante é investigado por ter incitado manifestações contra o resultado das urnas em diversos locais da capital federal, como Congresso Nacional, Aeroporto de Brasília, shoppings e hotéis. Como ele ainda está detido, por decisão de inquérito em andamento no STF, os distritais precisaram da autorização de Moraes para a oitiva.
Na época dos protestos antidemocráticos, em dezembro de 2022, a Procuradoria-Geral da República (PGR) avaliou que essas manifestações tinham “claro o intuito de instigar a população a tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo a posse do presidente e do vice-presidente da República eleitos”.
Ataques violentos
Após a prisão, dia 12 daquele mês, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal, na área central de Brasília. Durante os atos de vandalismo, hotéis, comércios e equipamentos públicos foram depredados, policiais foram atacados e ameaçados, sete ônibus e diversos carros foram incendiados, uma delegacia da Polícia Civil acabou sendo atacada e os criminosos ainda tentaram explodir botijões de gás. Ninguém foi preso em flagrante.
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Evangélico e autodenominado pastor, José Acácio Serere Xavante ganhou notoriedade entre grupos bolsonaristas desde o início das manifestações em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília.
Sempre sem camisa e com o corpo pintado, ele costumava ser filmado criticando o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e afirmando, sem provas, que teria havido algum tipo de fraude na eleição que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Depois de preso, o cacique assinou uma carta em que reconhece ter cometido um “equívoco” ao defender a tese de que houve fraude nas urnas eletrônicas. “Na verdade, não há nenhum risco concreto que aponte para o risco de distorção no resultado às urnas ou na vontade do eleitor brasileiro”, escreveu.
Tserere disse que defendeu a tese de fraude “com base em informações erradas, fornecidas por terceiros”.