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Cozinheira era usada como “laranja” em esquema dos Chater, aponta PF

Raimunda Costa Neves aparece como sócia em três empresas que seriam usadas pela família do doleiro Habib Chater para lavagem de dinheiro

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Michael Melo/Metrópoles
Operação perfídia, Polícia federal, lavagem de dinheiro
1 de 1 Operação perfídia, Polícia federal, lavagem de dinheiro - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A Operação Perfídia, deflagrada na quarta-feira (27/4) pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), revelou um esquema de lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e evasão de divisas que seria capitaneado pela advogada Cláudia Chater, prima do doleiro Habib Chater. As operações envolviam diversos familiares da acusada. No entanto, não são só parentes próximos aparecem na apuração. As investigações apontam que uma cozinheira chamada Raimunda Costa Neves teria sido usada como “laranja” pela organização criminosa.

De acordo com o inquérito da Polícia Federal, Raimunda aparece como sócia em três empresas, junto com Arolita Oliveira Correia Chater, esposa de Tony Chater. Irmão de Cláudia, ele é apontado como coordenador da abertura de supostas empresas de fachada e pela movimentação financeira do grupo.

Mesmo com três empresas em seu nome, Raimunda Neves não vive a vida luxuosa. Segundo as investigações da Polícia Federal, ela trabalha como cozinheira e é uma pessoa de baixa renda. As empresas registradas no nome dela em sociedade com Arolita Chater seriam apenas para lavagem de dinheiro.

Uma delas é a Baby Hospedagens e Turismo Ltda., que tem o nome fantasia de Hotel Airam. Localizado na Quadra 5 do Setor Hoteleiro Norte, o empreendimento leva o nome de um dos irmãos de Arolita, também citado nas investigações da Operação Perfídia. De acordo com a Polícia Federal, a empresa pertence verdadeiramente a Sebastião Correia, pai de Arolita e Airam e sogro de Tony Chater.

No inquérito, o hotel aparece como empresa supostamente sem funcionamento. No entanto, o empreendimento está aberto e oferece pernoite para uma pessoa a R$ 229, em média. A hospitalidade, por sua vez, parece não ser o forte da empresa, já que as críticas negativas são constantes em plataformas de avaliação. O site do local também é defasado e, quando visitado pelo Metrópoles, não permitia a possibilidade de reserva direta sem o intermédio de terceiros.

Tecidos e Bay Park Resort
A segunda empresa que conta com Raimunda Neves no quadro de sócios junto com Arolita Chater é a Brasília Tecidos Comércio Importação Ltda. Registrada em 1996, a companhia se encontra extinta, de acordo com consulta feita na Receita Federal.

A terceira e última empresa que Raimunda e Arolita têm juntas talvez seja a mais famosa: Lago Paranoá Turismo e Hospedagens Ltda., com nome fantasia Bay Park Hotel Resort. Parte de um complexo, que inclui um parque aquático, o hotel com 507 apartamentos tem reservas a partir de R$ 176.

O empreendimento, no entanto, também aparenta estar em decadência. Avaliações em portais de viagens são majoritariamente negativas. Um dos comentários afirma: “Fui obrigado pela Latam a passar uma noite nesse hotel. Experiência terrível! Parece um hotel fantasma, quadros horríveis, camas de péssima qualidade, roupas de cama sem comentários e banheiros deploráveis! Aliás, o banheiro nem porta tinha!”.

Mesmo registrado no nome das duas sócias, o Bay Park também seria de propriedade do empresário Sebastião Correia. O Metrópoles não conseguiu localizar Raimunda Costa Neves nem Arolita Oliveira Correia Chater para que pudessem comentar o caso.

Bay Park/Divulgação
O Bay Park fica no Setor de Hotéis de Turismo Norte (SHTN)

 

Organização criminosa
As três empresas registradas por Arolita Chater e Raimunda Neves seriam apenas parte do verdadeiro conglomerado que teria o objetivo de lavar dinheiro para a organização criminosa liderada por Cláudia Chater, segundo as investigações da Polícia Federal. Ao todo, 27 empreendimentos são citados no inquérito como supostamente de fachada.

De acordo com as apurações, a quadrilha atuava na emissão de passaportes brasileiros a pessoas de origem árabe e também em outras frentes criminosas. A Operação Perfídia cumpriu 100 mandados, sendo 55 de busca e apreensão, 43 de condução coercitiva e dois de prisão temporária — um para Cláudia Chater e um para Edvaldo Pinto, funcionário da empresária.

Na sexta (28), dois dias após a deflagração da operação, o Ministério Público Federal denunciou Cláudia Chater e Edvaldo Pinto por falsificação de documentos públicos e particulares. Os procuradores também pediram a conversão da prisão temporária da dupla em preventiva. De acordo com o MPF, a manutenção das prisões é necessária para interromper a ação delituosa do grupo. Os indícios reunidos até o momento apontam para o caráter transnacional da organização.

Movimentação bilionária
Nos pedidos enviados à Justiça, MPF e PF argumentam que a atuação da organização criminosa vai além da falsificação de documentos. Um indicativo seriam as empresas usadas pelo grupo em vários ramos, como casas lotéricas, postos de gasolina, hotéis, administradoras de imóveis e lojas de tecido.

Os altos valores movimentados pela organização são mencionados como um dos indícios do alcance das atividades criminosas. Em uma única transação, a empresa Global Recreative Sistem – GRS C.A, uma offshore com sede na Venezuela, movimentou US$ 5 bilhões. A mesma empresa é apontada como a compradora de uma fazenda no valor de R$ 100 milhões. Neste caso específico, as investigações revelaram o pagamento de uma comissão de R$ 1,5 milhão a Cláudia Chater.

Michael Melo/Metrópoles
Cláudia Chater, que foi presa, é apontada como chefe da organização criminosa

 

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