Covid: 8 em cada 10 adolescentes não tomaram 2ª dose da vacina no DF
Para médicas, situação pode levar a novo cenário de crise sanitária grave, com hospitais lotados e aumento do número de mortes por Covid-19
atualizado
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No Distrito Federal, oito em cada 10 adolescentes ainda não tomaram a segunda dose da vacina contra a Covid-19. A capital do país tem 268.475 mil jovens de 12 a 17 anos, dos quais apenas 24,3% receberam o primeiro reforço imunizante contra a doença, segundo a Secretaria de Saúde (SES-DF).
Até a última segunda-feira (7/11), a pasta aplicou 65.319 mil doses de reforço em adolescentes. Outros 221.156 precisam concluir o esquema vacinal, no momento em que o DF vive uma alta de casos e da taxa de transmissão do novo coronavírus, especialmente após a chegada da nova variante BQ.1.
Para a infectologista Ana Helena Germoglio, do ponto de vista coletivo, quando há quem deixe de se vacinar contra uma doença por opção, o agente causador da enfermidade se mantém em circulação. Para uma comunidade, isso representa risco de novas infecções, pode levar micro-organismos a sofrerem mutações e gerar novas variantes deles — o que tem consequências imprevisíveis.
“Mesmo que os adolescentes sejam um grupo que tende a evoluir para formas leves da doença, existe o pós-Covid, ou a Covid longa, e as sequelas. Algumas delas podem ser muito graves e dar inflamações em outros órgãos, não somente o pulmonar”, alerta a médica.
A especialista destaca ser cada vez mais comum o registro de adolescentes com problemas de saúde pós-virais, principalmente depois da infecção pela Covid-19. A infectologista lembra que a melhor estratégia para escapar do risco de ter sequelas graves é se vacinar.
Contra o pior
Pelo diagnóstico da infectologista, para o Distrito Federal não enfrentar um novo período com hospitais lotados e aumento do número de mortes por Covid-19, a SES-DF precisa fazer a busca ativa de quem ainda não se vacinou e convencer esse público sobre a importância da imunização.
Em uma segunda fase, a pasta precisa sensibilizar quem ainda não completou o ciclo vacinal a tomar todas as doses disponíveis.
“Sabemos que, para essa variante nova, temos de estimular o sistema imunológico a produzir mais anticorpos, porque ela consegue escapar se a produção estiver baixa; [por isso,] a vacina atualizada é importante”, enfatiza Ana Helena.
Alta circulação
Para a infectologista Joana D’Arc, a baixa cobertura vacinal dos adolescentes é um risco para o DF. “[Essa] é uma população estratégica. Muitos [adolescentes] não se vacinaram, e eles circulam bastante pelas escolas, [por] ambientes públicos. Mas a pessoa vacinada tem uma replicação menor do vírus. Ela o transmite menos e adoece menos”, completa a médica.
Além do risco de complicações em caso de infecção, Joana considera que a baixa cobertura vacinal favorece o surgimento de variantes, inclusive mais resistentes contra vacinas. E esse cenário prolonga a pandemia.
Joana D’Arc também prevê uma tendência de aumento dos casos com o início das festas de fim de ano. Principalmente porque a população deixou de lado as formas de proteção não farmacológica, como a máscara.
“Temos visto no Brasil um movimento antivacina. Isso tem prejudicado não só as campanhas com relação à Covid-19, mas também [em prol de] outras vacinas. Temos risco de reintrodução de doenças que estavam controladas, até mesmo erradicadas. É preciso retomar a questão da conscientização em relação à prevenção”, destaca.
Para a infectologista, o atual momento da pandemia exige que cada indivíduo reavalie os riscos e quais medidas de proteção deve adotar. Pacientes sintomáticos ou com vulnerabilidades na saúde devem se manter vigilantes, higienizar as mãos e manter o uso da máscara. “Seja prudente no comportamento para se proteger e proteger o coletivo”, orienta Joana D’Arc.