Coronavírus: pacientes sem comorbidades representam 13,9% das mortes no DF
Das 475 fatalidades por Covid-19, incluindo moradores locais e de outros estados, 66 não apresentavam nenhum problema de saúde pré-existente
atualizado
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O boletim mais recente da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, divulgado às 18h da noite dessa terça-feira (23/06), contabilizava 431 mortes em função do novo coronavírus entre moradores da capital do país. Somando as vítimas que eram de outras unidades da Federação, mas morreram em hospitais brasilienses, as fatalidades sobem para 475. E um dado chama atenção: em meio a todos esses óbitos, 66 (13,9%) foram de pacientes que não apresentavam nenhum tipo de comorbidade.
Entre as vítimas da doença, que não apresentavam comorbidades, está uma recém-nascida de 1 mês e 4 dias. A paciente mais jovem da capital do país a morrer após contrair Covid-19 chegou a ser internada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), mas não resistiu e morreu no último dia 11.
São consideradas comorbidades doenças pré-existentes, como problemas cardíacos, renais, respiratórios, hipertensão e diabetes. Essas condições costumam agravar o quadro de quem é infectado pela Covid-19. O fato de 13,9% dos óbitos no DF terem sido de pessoas que não apresentavam nenhum desses quadros leva especialistas ouvidos pela reportagem a alertarem para a periculosidade do vírus.
Entre os 475 mortos no DF até o momento, 409 tinham alguma comorbidade. A mais comum são doenças cardiovasculares – 277 pacientes apresentavam essa condição. Ou seja, de todas as fatalidades de pessoas que apresentavam algum problema de saúde antes da Covid-19, 58,3% sofriam de algum tipo de distúrbio no coração.
Na sequência, estão os pacientes com disfunções metabólicas (174 casos) e pneumopatas (71), o que corresponde, respectivamente, a 36,6% e 14,9%. Um infectado pode apresentar mais de uma comorbidade.
Veja o quadro:
Os números da Secretaria de Saúde também mostram que a maior parte dos registros da Covid-19 ocorre entre pacientes com idades entre 30 a 39 anos. Em contrapartida, ela é mais letal entre pessoas com mais de 80 anos.
Apesar de as mortes crescerem a cada dia, a capital do país apresenta baixa letalidade: apenas 1,4% dos doentes foram a óbito. Até a noite dessa terça-feira (23/06), além das 475 mortes registradas em hospitais locais em função da Covid-19, havia 35.368 infectados.
Especialistas
Jonas Brant, professor do Departamento de Saúde Coletiva e membro do Comitê Gestor de Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (Coes), da Universidade de Brasília (UnB), acredita que todo mundo tem risco de morrer pela doença, apesar de ser menor em quem não está no grupo de risco.
“Esse grupo que não tem comorbidade, geralmente mais jovem, é o mais ativo na sociedade neste momento. Consequentemente, está mais exposto. Por isso, precisa ter o cuidado redobrado para não ser infectado”, afirma o especialista.
Brant aponta que atualmente existe uma política de proteção para o grupo de risco. Entretanto, para a população que não tem comorbidade, o governo vem fazendo aberturas. E os setores econômicos vêm cobrando que essas pessoas voltem às atividades. Nesse sentido, elas acabam se expondo mais.
A infectologista Ana Helena Germoglio, do Hospital Águas Claras, também chama atenção porque a Covid-19 é uma doença nova, ainda em estudo. Mas, um dos fatores que se acredita que influenciam é a carga viral recebida pela pessoa. “Aparentemente, isso faz diferença no quadro clínico do paciente”, aponta.
Ela cita também que a obesidade, no início, não era considerada uma comorbidade, mas isso mudou. Então, existem outros fatores que podem se tornar problemas para a vítima do coronavírus e ainda não foram descobertos. “Cada pessoa vai ter uma resposta diferente. Por exemplo, se você não estava comendo direito, não dormia direito, pode até não ter comorbidade, mas isso pode interferir na recuperação”, diz Ana Helena.
O melhor é se cuidar
A infectologista acredita que o melhor é se cuidar. “Quem tem maior risco de pegar a Covid-19 é quem se expõe mais. Por isso, a gente tem muitos jovens que aparecem no boletim, porque são mais afoitos, acham que não estão no grupo de risco e podem se expor”, diz.
Jonas Brant também fala dos cuidados e ressalta que as pessoas não estão acostumadas ainda com a ideia de que sair de casa exige um nível de “cuidado hospitalar”.
“O erro mais comum que a gente tem visto é colocar a mão na máscara para ajustá-la. Isso é muito grave, porque a mão é a forma mais comum de levar o vírus para nossa boca e nossos olhos”, explica.
O especialista ensina: ao botar a mão na máscara, a pessoa está contaminando a mão e levando perigo a mais gente. E cita outro exemplo. “As pessoas não estão levando um frasco de álcool em gel no bolso. Na hora em que eu seguro em algum lugar no ônibus, pego produto do cliente, pego dinheiro… Em cada momento desses eu preciso ter a oportunidade de limpar a minha mão”, conclui.