Coronavírus matou mais no DF do que acidentes, diabetes e pneumonia
Recorte feito no período de 2 meses aponta que somente câncer e doenças de coração causaram mais óbitos na capital do país do que a Covid-19
atualizado
Compartilhar notícia
O número de mortes em decorrência do coronavírus no Distrito Federal já ultrapassa os óbitos por doenças crônicas. Enquanto a Covid-19 tirou a vida de 177 pessoas entre os dias 1 de abril e 1 de junho, doenças como a diabetes, problemas no aparelho respiratório e até acidentes de transporte terrestre têm ocorrências inferiores às do novo vírus.
No mesmo período analisado, dois meses, a diabetes mellitus matou 46 brasilienses. Ou seja, o coronavírus causou 284% mais óbitos do que a comorbidade, resultante da produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue. As doenças respiratórias, como asma, também tiram a vida de menos brasilienses: foram 127 no período. Pneumonias mataram 16 pessoas e acidentes por transporte terrestre, 12.
Somente câncer e doenças de coração resultaram em mais mortes do que a Covid-19, sendo 261 e 239 falecimentos dessas causas, respectivamente. Apesar disso, a quantidade de óbitos decorrentes do coronavírus no período, somente na capital, é bem próximo dos resultantes de problemas cardiovasculares, a principal causa de mortes no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A nova doença, descoberta no fim se dezembro de 2019 na China e que teve o primeiro infectado no Distrito Federal em 5 de março deste ano, tem feito tantas vítimas devido ao seu perfil desconhecido e à falta de estrutura para atendimento dos doentes.
“A infecção por Covid-19 varia [acelera/desacelera] de acordo com o comportamento da população em relação ao isolamento e ao distanciamento social. Quanto mais ocorrências confirmadas, maior probabilidade de casos graves”, ressalta a infectologista Ana Helena Germoglio.
Até a noite de sexta-feira (05/06), o DF tinha 14.208 casos confirmados da doença. Isso representa 3.698 casos de Covid-19 a mais do que no dia 1 de junho, data-base de comparação dos números para a realização desta reportagem.
As mortes também cresceram do dia 1 para o dia 5: passaram de 173 para 186. “Os casos graves são cerca de 20% dos casos totais. Se o número de casos totais aumenta, o número de ocorrências graves aumenta também. Logo, a maior probabilidade de óbitos e a quantidade maior do que outras doenças, já crônicas, que existiam na sociedade”, completou a especialista.
Para Ana Helena Germoglio, com a abertura do comércio e dos shoppings, em duas semanas, a contar do dia 27 de maio, os casos de novos infectados vão explodir.
Leitos
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Saúde, a ocupação dos leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) reservados aos infectados pelo novo coronavírus chegou a 59,88%. Isso significa dizer que dos 526 disponíveis nas redes pública e privada do Distrito Federal, 315 estão ocupados.
Enquanto vacinas e tratamentos são testados, a maneira mais eficaz de evitar o coronavírus, até o momento, é o distanciamento social. Porém, em 23 de maio, quando a rede pública tinha ocupação de 36,7%, ficou decido pelo retorno do comércio, de lojas de ruas e dos shoppings, que estavam fechados desde março.
Mesmo calculando o nível de ocupação com as redes separadas, é preciso começar a acender o sinal amarelo para a situação. No caso dos hospitais públicos, dos 322 leitos disponíveis, 165 têm um paciente com a Covid-19, ou seja, 51,24%. A situação dos hospitais privados é bem mais alarmante. São 150 unidades com vítimas em estado grave em um total de 204 – 77,45% de ocupação.
Ainda existem mais leitos de UTIs reservados para pacientes com outras comorbidades no DF. Entretanto, a situação não fica melhor. Nas redes pública e particular, há 890 unidades para as demais doenças, mas 649 estão ocupadas, ou seja, 72,92%. No caso dos hospitais públicos, essa ocupação chega a 84,96%, enquanto nos privados ela alcança 73,69%.