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Coronavírus limita despedidas em enterros nos cemitérios do DF

O Metrópoles acompanhou o drama de famílias para as últimas homenagens a parentes, assim como o medo de quem trabalha no local

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1 de 1 Cemitério-coronavírus-7 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A pandemia do novo coronavírus tem deixado famílias devastadas pelo trauma de não poder velar seus mortos. No entanto, os prejuízos nas despedidas de entes queridos não ocorre só para parentes das vítimas da Covid-19.

Em meio ao crescimento no número de casos confirmados e com as medidas de restrição de circulação de pessoas nas ruas, os sepultamentos tradicionais também passaram a ser limitados a grupos muito restrito de pessoas nos seis cemitérios do Distrito Federal.

Antes da pandemia, não havia limite no número de pessoas que poderiam comparecer aos sepultamentos. Agora, quem precisa enterrar um familiar, reclama que apenas 10 parentes ou amigos são autorizados a participar das despedidas.

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O tempo de duração do velório está limitado a duas horas, além dos 30 minutos do cortejo
Jaquelene trabalha como jardineira no cemitério da Asa Sul e diz que os velórios estão vazios
Sepultadores usam máscaras para transitar no cemitério
Funcionários trabalhando no local
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O tempo de duração do velório está limitado a duas horas, além dos 30 minutos do cortejo

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Jaquelene trabalha como jardineira no cemitério da Asa Sul e diz que os velórios estão vazios

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Sepultadores usam máscaras para transitar no cemitério

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Robson Martins Rezende, 52 anos, enterrou a mãe na última quinta-feira (16/04)

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Além disso, a recomendação dos órgãos de saúde é para que amigos e familiares dos mortos usem máscaras durante os sepultamentos. E, apesar do momento tão difícil, que evitem contato físico e mantenham distância mínima de um metro.

A mãe de Robson Martins Rezende (foto de destaque), 52 anos, faleceu no dia 15 de abril, uma quarta-feira, no Hospital ProntoNorte. Eunice Martins Rezende, morreu aos 75. Ela lutava contra uma doença renal decorrente de diabetes. O velório e o sepultamento ocorreram no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul, na quinta-feira (16/04).

Ela foi internada no último dia 30 de março no hospital com falta de ar. A doença progrediu, o pulmão encheu de líquido e a idosa não resistiu. Sofreu uma parada cardiorrespiratória na noite de quarta e morreu.

Segundo o filho, a pior parte foi saber que nem todos os parentes poderiam se despedir de sua mãe como eles gostariam.

“Graças a Deus, não teve nada a ver com o coronavírus. Optamos pelo caixão aberto, mas é muito ruim não podermos chegar perto dela pela última vez. Estamos seguindo todas as regras e evitando qualquer tipo de contato físico com as pessoas”, comentou Robson, durante o velório da mãe.

A família também levou para a capela álcool em gel e máscaras para que as pessoas não ficassem desprotegidas durante a cerimônia de despedida. Todos os familiares estão na quarentena. Infelizmente, a minha mãe morreu neste momento sem que possamos nos abraçar e lamentar a dor da perda dela recebendo carinho uns dos outros”, lamentou.

“A morte em si, já é um sofrimento muito grande. Não poder ficar mais tempo com ela, como gostaríamos. É muito ruim. Fizemos o velório no tempo estipulado. Uma oração no fim e só. A mamãe merecia muito mais. Mas foi o que o momento nos permitiu fazer”, acrescentou.

Limites

Campo da Esperança Serviços Ltda., empresa que administra os cemitérios da capital da República, informou que quando a morte não envolve o novo coronavírus, o tempo de duração do velório está limitado a duas horas, além dos 30 minutos do cortejo.

São permitidas até 10 pessoas por vez dentro da capela durante o velório. A fiscalização e o controle devem ser feitos pela própria família.

Ainda de acordo com a empresa, não houve alteração no número de sepultamentos realizados por mês no DF. Nos seis cemitérios permanece a média de 960 enterros mensais. Também não foi necessária a alteração na quantidade de profissionais que cuidam do processo Brasília.

Adeus sem abraços

Também no dia 15 de abril ocorreu o velório de um rapaz de 32 anos. Ele havia morrido após sofrer um ataque cardíaco fulminante.

O técnico em telecomunicações Weberley Porto Freire, 33, compareceu à despedida para dar o último adeus ao amigo. Na capela 9 do Cemitério, havia poucas pessoas. Todas usavam máscaras e mantinham distância segura uma das outras.

“O Alan (vítima) era uma pessoa muito especial. É uma pena que tudo isso esteja ocorrendo neste momento de crise e dificuldades para todos nós. Estamos aqui no enterro com bastante medo. Pouquíssimas pessoas vieram, devido às regras pela pandemia”, contou Weberley.

Da mesma forma, os familiares cuidaram dos preparativos e tiveram o cuidado de trazer máscaras e disponibilizar álcool para higienizar as mãos.

“Como estamos em um local de bastante circulação de pessoas, inclusive de casos de enterros de vítimas da Covid-19, temos que ter bastante cuidado. Não podemos correr o risco de pegar a doença e levá-la para casa”, completou o técnico em telecomunicações.

Após o velório, amigos e pessoas próximas da vítima seguiram o cortejo até o local onde o corpo foi enterrado e mantiveram distância entre as pessoas.

Na capela 8, ao lado da onde o amigo de Weberley estava sendo velado, ocorria outra cerimônia de despedida de uma mulher de 56 anos. Ela também não era vítima de coronavírus. Bastante abalados, os familiares não quiseram conversar com a reportagem.

Uma amiga da família explicou que era um momento de dor e falou rapidamente com a reportagem que eles também estavam seguindo as regras impostas pelos órgãos de saúde durante o sepultamento.

“Procuramos manter o distanciamento físico, algo muito difícil neste momento em que todos precisavam se abraçar e unir forças. Sem beijos e abraços. A família preferiu o caixão lacrado, mesmo sem o diagnóstico da doença”, disse a mulher, sem se identificar.

Funcionários trabalham com medo

A reportagem também conversou com sepultadores no local. Eles relatam os medos e as dificuldades do trabalho no cemitério durante a pandemia. Sem se identificar, um deles contou que sepultamentos das vítimas da Covid-19 têm ocorrido com frequência na unidade.

“Nós, funcionários, temos medo. Estamos trabalhando com máscaras e luvas, mas há receio quando sabemos que o enterro é de uma vítima da doença. Não podemos deixar de trabalhar e, ao mesmo tempo, não queremos ter coronavírus”, lembrou ele.

O profissional aponta que não é só problema de se contaminar, mas de levar o vírus com eles. “Temos que pegar transporte público e o receio da contaminação é grande. Não só pelo ambiente de trabalho, mas por estarmos circulando nas ruas. É triste ver o cemitério com pouca circulação. Trabalhar em jazigos sem saber se temos ou não vítimas da doença.”

Segundo o coveiro, a movimentação dentro do cemitério caiu mais de 50%. “Nós, que estamos aqui no dia a dia, é que sabemos como está. Não vemos os parentes vindo visitar os jazigos. Os enterros vazios dão bastante tristeza. Sabemos que a nossa rotina não está normal”, lamentou.

Jaquelene Ferreira Leite, 46 anos, trabalha como jardineira cuidando de sepulturas no local. Ela confirma que o movimento de pessoas e clientes caiu no cemitério desde o início da quarentena.

“Trabalho aqui há dois anos. Atualmente, cuido de cerca de 20 túmulos e tenho notado que, devido aos clientes e alguns jardineiros serem de idade, diminuiu bastante o fluxo de pessoas aqui dentro.”

Segundo Jaque, como é carinhosamente conhecida, os clientes estão com medo de ir ao local até para pagar e contratar os serviços.

“Temos percebido que o número de pessoas diminui bastante durante os enterros. Todos estão usando equipamentos de segurança. O pessoal que trabalha como jardineiro também não está vindo com medo de pegar a doença. A nossa demanda por serviços diminuiu. Muitos clientes desistiram dos nossos cuidados. Precisamos ter forças e que Deus nos abençoe”, disse.

Veja o depoimento da jardineira ao Metrópoles:

Protocolo

Os cartórios do Distrito Federal registraram, até o dia 17 de abril 36 mortes por suspeita ou confirmação da Covid-19. Oficialmente, até a quarta-feira (22/04), a Secretaria de Saúde confirmava 25 óbitos pela doença.

O levantamento foi feito por meio dos atestados de óbito registrados no DF. No entanto, segundo a Secretaria de Saúde, o fato de a causa da morte indicar suspeita de coronavírus não significa confirmação do diagnóstico da doença.

“Ao declarar o óbito, o médico precisa indicar a causa da morte ou suspeita. Nos casos de óbitos com suspeita da Covid-19, são colhidas amostras para investigação, podendo confirmar ou refutar a suspeita”, afirma.

A Campo da Esperança Serviços Ltda. informou que a concessionária segue o Protocolo de Manuseio de Cadáveres e Prevenção para Doenças Infectocontagiosas de Notificação Compulsória, com Ênfase em Covid-19 para o Âmbito do Distrito Federal, aprovado em 27 de março.

Embora não tenham contato direto com o corpo das vítimas confirmadas e casos suspeitos da Covid-19, já que os caixões chegam lacrados e desinfectados, os sepultadores usam luvas, máscara e óculos de proteção, além do uniforme.

Nesses casos, não há velório. Os caixões são recebidos em cada um dos seis cemitérios em uma sala separada exclusivamente para essa finalidade e seguem para serem sepultados no jazigo adquirido pela família.

“A concessionária está em constante contato com o governo local para monitorar a situação sobre a Covid-19 e avaliar possível aumento da produção de jazigos. Por enquanto, não há necessidade. Se houver, o que esperamos que não aconteça, qualquer medida nesse sentido será definida em conjunto com o GDF”, explicou por meio de nota.

Ainda segundo a empresa, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), não há necessidade de criação de área exclusiva nos cemitérios para o sepultamento de vítimas ou possíveis vítimas do Covid-19.

Mortes por insuficiência pulmonar e pneumonia

Reportagem publicada pelo Metrópoles há duas semanas mostrou que o número de registros de mortes por insuficiência respiratória e pneumonia no Distrito Federal teve um salto, considerando o período entre 1º de março de 2020 até a última quarta-feira (15/04), em relação ao mesmo período de 2019.

No caso do primeiro, o índice foi de 19,3%, enquanto no segundo, subiu 8,9%. A capital registrou 247 mortes por insuficiência respiratória em 2020 contra 207 no ano passado. E se comparados os óbitos por pneumonia, foram 391 este ano contra 359 contabilizados no mesmo período de 2019.

Os dados são do Portal da Transparência da Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional). Levando em conta o período entre 1º de janeiro até a última quarta-feira, foram registradas 531 mortes por insuficiência respiratória. Em 2019, no mesmo período, os óbitos somaram 458. Em relação à pneumonia, foram 907 óbitos neste ano e 827 em 2019. Veja os dados neste link.

Para a reportagem, a presidente da Associação de Funerárias do Distrito Federal, Tânia Batista da Silva, confirmou o aumento dos números de óbitos relacionados às duas enfermidades.

“Realmente, nós observamos que os laudos estão especificando em maior número essas doenças. Estimamos um crescimento de cerca de 30% nas mortes por problemas respiratórios e pneumonia”, afirma.

Ela acredita que o crescimento do número de mortes é esperado para o período. Porém, pode estar relacionado a casos do novo coronavírus que não foram diagnosticados.

“Também foram sepultados no DF, pelo menos, 34 pessoas com suspeita da Covid-19. Quando havia a suspeita, nós não tínhamos como arriscar e sempre procurávamos alertar sobre os cuidados, mas as próprias famílias estão tendo cautela em casos de pneumonia e insuficiência respiratória. Eles preferem não abrir o caixão. As próprias famílias tem essa consciência”, disse.

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