Coronavírus: especialistas falam que decreto do GDF é “exagerado”
Documento assinado por Ibaneis na noite dessa quarta-feira suspende aulas e eventos com mais de 100 pessoas na capital federal até domingo
atualizado
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Após a publicação do decreto que suspende por cinco dias aulas, eventos e shows no Distrito Federal, especialistas da saúde opinaram sobre a medida adotada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB).
A decisão foi tomada após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia de coronavírus no planeta.
O presidente do Conselho Regional de Medicina no Distrito Federal, Farid Buitrago, 52, classificou a medida como exagerada. Para o representante do CRM-DF, as determinações do chefe do Executivo local são corretas, mas um tanto precoces.
“Temos apenas dois casos confirmados no DF. A transmissão na capital da República ainda é focal, ou seja, transmitida por pessoas que vieram de fora do país. As orientações sanitárias e higiênicas são, ainda, o melhor caminho”, opinou o médico.
A Sociedade Brasileira de Infectologia, filiada à Associação Médica Brasileira (AMB), soltou informe nesta quinta-feira (12/03). O documento, apesar de não citar o decreto de Ibaneis Rocha, recomenda não encerrar atividades em escolas, faculdades ou escritórios.
“O fechamento de escolas pode levar vários pais a terem de deixar seus filhos com seus avós. Portanto, tal medida em cidades em que os casos são importados ou a transmissão é local, pode ser prejudicial para a sociedade”, diz trecho do documento.
Médico infectologista do Grupo Santa e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, Werciley Junior comentou também discordar das normas baixadas pelo Palácio do Buriti.
“Ainda não é o momento de se pensar nesta ação. Além disso, consideramos que o documento tem falhas. Foi estipulado por cinco dias prorrogáveis. Mas, se estamos falando de contenção de uma doença que o tempo de isolamento esperado é de 14, então, cinco não é nem metade. É um decreto que não está visando à segurança totalitária. Falha em muitos aspectos”, opinou.
Surpresa
Por meio de nota, a Sociedade de Infectologia do DF (SI-DF) informou que “recebeu com surpresa” a decisão do GDF de cancelar aulas em escolas públicas e privadas, bem como vetar outros tipos de aglomeração como medida de contenção da disseminação do coronavírus.
“Entendemos que, embora medidas como estas sejam adequadas e necessárias em alguns cenários durante uma pandemia, o momento recomendado para sua implementação obedece a critérios técnicos bem estabelecidos e, mesmo que o corpo técnico dessa Sociedade de Infectologia entenda que o momento não seja o mais adequado para a publicação desse decreto, a SI-DF está, desde já, pronta para ajudar o governo e as autoridades a reverter o quadro o mais breve possível”, diz trecho do documento assinado pela presidente da entidade, Heloisa Costa Ravagnani Muniz.
Coordenador científico da SI-DF, José David Urbaéz Brito, disse que os infectologistas ficaram “perplexos” com a decisão. “Acreditamos que medidas restritivas em relação à circulação de pessoas e do contato social tenha momento para acontecer. É quando se está em um período da epidemia que tem o crescimento exponencial, onde o vírus já começa a circular na comunidade e há uma multiplicação do evento dia após dia”, ressaltou o especialista.
Apoiam a medida
Por outro lado, o professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), membro da Plataforma Científica Pasteur-USP e integrante da Comissão de Ensino da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Helder Nakaya, ressaltou que, apesar de não se saber o que vai acontecer no Brasil, a experiência vivida por outros países justifica a medida adotada por Ibaneis.
“Aqueles países que não se prepararam, não fizeram contenção ou quarentena, neles, o vírus se descontrolou e sobrecarregou postos de saúde. Existem simulações matemáticas que mostram que quando você inicia certas medidas, uma delas é a de evitar eventos públicos. Um dia a mais pode representar 40% de novos casos no futuro. Tal projeção é baseada em números obtidos em outros países. Neste caso, o fato de agir rápido pode prevenir a epidemia.”
O deputado distrital e enfermeiro Jorge Vianna (Podemos), 43, que foi presidente da Federação Brasileira dos Profissionais de Enfermagem e dirigiu o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Sindate-DF), também apoia o decreto. Para o parlamentar, como chefe de Estado, o governador precisa tomar medidas de precaução para conter a doença, que pode se alastrar rapidamente.
“O decreto veio no sentido de precaução. Ele é correto, pois diminui a exposição de muitas pessoas em locais públicos. Logo, o risco de exposição ao vírus é menor. Como chefe de Estado, ele [Ibaneis] tem o dever de se preocupar com a saúde coletiva. É melhor prevenir do que remediar.”