“Coração em lágrimas”, diz irmã de médico morto após absolvição de PM
Médico foi morto durante abordagem policial na saída de um bar na Asa Sul, em novembro de 2019. Decisão é da tarde desta quinta-feira (21/7)
atualizado
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A família do médico Luiz Augusto Rodrigues (foto em destaque) recebeu com indignação o resultado do julgamento que inocentou, na tarde desta quinta-feira (21/7), André Barrozo Fernandes da Silva, soldado da Polícia Militar do DF (PMDF) que matou, com um disparo de arma de fogo, o profissional de saúde. A vítima saía de um bar na Asa Sul quando foi abordada e morta pelo policial, em novembro de 2019.
“Um filho ficou sem pai, uma criança vai crescer sem pai. É uma criança que sempre pergunta se o PM que matou o pai dele está preso. E quando digo que não, ele me pergunta o por quê? ‘E não aconteceu nada com ele?’ Como vou explicar isso para o meu filho? Que o pai dele foi assassinado e o assassino vai ficar impune”, diz Marcella Leitão, ex-esposa de Luiz.
“Meu sentimento é de muita tristeza. Foi uma mãe que ficou sem um filho, foi um filho que ficou sem um pai, um filho privado de conviver com o pai. O Luiz não estava armado, ele não merecia esse tiro. É uma dor que a gente vai ter que carregar para o resto da vida”, lamenta a mãe da criança de 8 anos, fruto do casamento com o médico.
Irmã de Luiz, a aposentada Karla de Paula Rodrigues Vieira, 52, também expressou sua revolta. “Estou indignada. Arde o coração em lágrimas”, declarou.
“Realmente é revoltante. Eu esperava por Justiça, as provas estão no processo, a bala foi da arma do PM, está provado. Foi por trás, no pescoço, de dentro da viatura. Meu irmão, indefeso, nem sequer teve tempo de saber o que estava acontecendo. Morreu injustamente e o Brasil não fez Justiça”, completa Karla.
Veja fotos do médico junto da família:
Por meio de nota, Marcelo Almeida Alves, o advogado do PM, comentou a decisão da Justiça e reafirmou que Barrozo “agiu dentro dos padrões da legalidade”.
“O Escritório Almeida Advogados gostaria de ratificar que, embora o resultado final daquela abordagem tenho sido algo indesejável por todos, ainda assim necessário se faz ressaltar que o policial militar agiu dentro dos padrões da legalidade, tanto que na data de hoje, 21/07/2022, o TJDFT entendeu que houve legítima defesa”, disse.
Testemunhas
Segundo testemunhas, antes de morrer, Luiz Augusto assistia ao jogo do Flamengo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro, em um bar da Asa Sul. Um vigilante afirmou ao Metrópoles que o médico era cliente assíduo do estabelecimento. “Quando estava indo embora, foi abordado por uma equipe da PMDF e só deu para escutar o tiro”, lembrou o homem, que pediu para não ser identificado.
Já um comerciante que trabalha na quadra relatou que o médico era simpático e sempre tratava a todos com cortesia. “Tinha o costume de sair do plantão, no Setor Hospitalar, e passar aqui, onde se reunia com outros amigos. Costumava falar que tinha cumprido as tarefas do dia e queria espairecer”, acrescentou. O médico trabalhava na Clínica da Mama à época do crime.
Outra comerciante da região, que preferiu não se identificar, comentou que estava em sua loja na hora do crime. “Ouvi um barulho e uma mulher que gritava ‘ele matou, ele matou’, quando desci para ver o que era, reconheci o dr. Luiz, já morto. A perícia chegou em minutos. Uma tragédia. Ele nunca andou armado. Não oferecia risco a ninguém”, completou. O médico era casado e deixou dois filhos, um de 7 e outro com 13 anos, atualmente.
André Barrozo tornou-se réu em abril de 2021. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) aceitou a denúncia do Ministério Público (MPDFT) e entendeu que o caso fosse julgado como homicídio doloso, quando há intenção de matar.
O caso
As investigações realizadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) foram concluídas em junho de 2020. Segundo a 1ª Delegacia de Polícia, responsável pela apuração do homicídio, o militar teria praticado o crime com dolo eventual, ou seja, ele, ao disparar durante a abordagem, assumiu o risco de matar.
O entendimento dos investigadores é o de que a intenção do militar era atingir um amigo da vítima, que é sargento reformado e teria sacado uma arma para os PMs. Mesmo assim, a postura do acusado foi considerada imprudente.
“O policial, quando efetua um disparo de arma de fogo, não pode fazer da mesma forma que um criminoso comum. Quando um policial militar utiliza esse armamento, ele deve ter consciência de que o disparo pode ser bem-sucedido e ser utilizado da forma adequada em locais adequados”, observou, à época, o delegado responsável pelo caso, Marcelo Portela.
O tiro que atingiu Luiz Augusto veio de uma carabina, da Imbel, calibre 5.56. Segundo os socorristas, o homem foi atingido na cabeça. Testemunhas contaram que, antes de morrer, Luiz Augusto Rodrigues assistia ao jogo do Flamengo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro de 2019, em um bar de Brasília.
Quando aconteceu o crime, a Polícia Militar afirmou que o tiro foi dado “diante do risco iminente” e que “os policiais não tiveram alternativa e efetuaram dois disparos, que atingiram um dos homens”.