Contra o coronavírus, DF antecipa formatura de 127 médicos
Instituições de ensino superior da capital aderem à portaria do Ministério da Educação para reforçar linha de frente no combate à pandemia
atualizado
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No Distrito Federal, 127 estudantes de medicina conseguiram antecipar a formatura para reforçar as redes pública e particular de saúde na luta contra o novo coronavírus. Ao menos outros 67 universitários também buscam o diploma antecipado.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, autorizou, por meio de portaria, a formatura fora de hora para os universitários com pelo menos 75% do período de internato cumprido. É a etapa final do curso, onde vivenciam a prática sob supervisão de médicos e professores.
Nessa segunda-feira (20/04), o Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac) antecipou o processo de 87 profissionais. Entre eles, está Jéssica de Almeida, 24 anos, que recebeu o diploma em cerimônia virtual.
“A gente fica apreensiva e ansiosa. Mas, a princípio, quero trabalhar na linha de frente contra o coronavírus. Depois de controlarmos a crise, seguirei outros planos”, afirmou.
Para Jéssica, o mundo, o Brasil e o DF têm os elementos para vencer a pandemia. “Falta a compreensão da população em geral. É importante seguir as regras de isolamento social e de higiene básicas”, destacou.
Vitor Trindade, 25, formou-se com Jéssica. “É a realização de um sonho. E estamos preparados para ajudar a população da melhor forma possível”, arrematou. Para evitar aglomerações a cerimônia foi virtual e os diplomas tiveram a entrega feita por meio de drive-thru.
Uniceplac entrega diplomas via drive-thru:
Alegria
Apesar das incertezas do momento histórico, Maria Carolina Rios Fonseca, 23, não esconde a felicidade com o diploma. Alegria compartilhada pelos colegas de formatura.
A Universidade Católica de Brasília (UCB) foi a primeira a antecipar o processo dos alunos de medicina. A instituição formou 46 profissionais. Respeitando as regras de quarentena social, a cerimonia foi virtual.
Veja a formatura virtual antecipada da UCB:
Recém-formada pela Católica, a médica Danielle Veldman (foto em destaque), 25, busca espaço no serviço de emergência e pronto-socorro. “Minha intenção é atuar na linha de frente contra a Covid-19”, pontuou.
Segundo Danielle, medicina é “amar o próximo”. “Com certeza, vamos fazer a diferença”, resumiu. Para a colega de formatura Alice Garbi Novaes, 26, ninguém esperava uma colação de grau virtual e no meio de uma pandemia.
Confira o depoimento de Danielle Veldman:
Veja o relato de Alice Novaes:
Passo necessário
Segundo o coordenador do curso de medicina da Universidade Católica, professor Osvaldo Sampaio Neto, diante do contexto pandêmico, a antecipação desse processo é um passo necessário.
“Eles deixaram de cursar dois meses. Dentro de um processo de formação de seis anos, é muito pouco. Eles estão preparados”, afiançou. Apesar da distância, para Oswaldo Sampaio, a formação virtual foi um momento inédito e de grande emoção.
No caso da Uniceplac, o coordenador do curso de Medicina, Flávio Moura, pretende oferecer para os egressos opções de capacitação e acompanhamento complementares.
“Vamos oferecer um centro de simulação realística e uma plataforma para acesso remoto. A ideia é suprir essa lacuna dos dois últimos meses do curso”, explicou.
Pedidos
O Centro Universitário de Brasília (UniCeub) também decidiu antecipar as formaturas. A instituição analisa os pedidos de aproximadamente 45 estudantes.
Segundo o estudante Thiago Oliveira, 27, inicialmente, a turma não queria antecipar a colação. No entanto, conforme a pandemia evoluiu, os estudantes mudaram de posição para ajudar no combate à doença.
“Por que a gente faz esse curso? A gente está em casa, sem ajudar ninguém. Isso vai contra a medicina. Os hospitais estão precisando de reforço e estamos mais do que capacitados”, pontuou.
André Luigi, 25, colega de Oliveira no UniCeub, também espera a oportunidade de colação antecipada.
O Uniceub respondeu, em nota, que, “por entender a importância e as reais necessidades da área da saúde, a instituição decidiu antecipar, em caráter excepcional, a colação de grau”.
Além do curso de medicina, o centro também agilizará a formação de estudantes de fisioterapia e enfermagem. Nesse sentido, a universidade analisa as condições acadêmicas dos alunos. Tão logo seja concluído o processo, será divulgado o calendário de colações.
Veja a opinião de alunos:
UnB
Na Universidade de Brasília (UnB), 18 alunos buscam a formatura antecipada, mas ainda aguardam aval da direção do curso. Segundo o estudante da UnB Andrey Aldrin Santos Paiva, 24, cada novo médico é necessário para evitar o colapso das redes pública e privada.
Para Aldrin, o profissional não precisa necessariamente trabalhar na linha de frente contra a pandemia. Mas, apenas pelo fato de estarem presentes, ajudam na distribuição da pressão por atendimento.
“Somos gratos à UnB. Mas, infelizmente, a universidade segue sem se posicionar. Quero tentar ajudar o país neste momento de pandemia. Isso causa angústia. Nós recebemos todo nosso conhecimento do Estado e não podemos contribuir agora”, desabafou.
Luciane França, 28, compartilha da posição de Aldrin. “A gente se sente de mãos atadas”, criticou. A universitária pretende participar do programa Brasil Conta Comigo, do governo federal.
Embora ainda não tenha dado o aval aos alunos, a UnB tem contribuído de outras formas contra a pandemia. Pesquisadores, por exemplo, conseguiram sequenciar o genoma do coronavírus.
Procurada pela reportagem, a Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília disse, por meio de nota, que “está avaliando os efeitos da portaria e vai deliberar o mais brevemente possível. Enquanto isso, a instituição está adotando todas as providências para que os estudantes concluam o internato da forma mais completa possível, dentro das limitações impostas pela pandemia de Covid-19”.
Veja o que dizem alunos da UnB:
Críticas do CFM e do CRM
Embora universitários e professores concordem com a importância da medida, devido à urgência em função da pandemia, a formatura antecipada é objeto de críticas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF).
“Nosso posicionamento é contrário. Esses 25% são para atividades práticas fundamentais, com a supervisão de docente formado. É uma experiência necessária para o preparo clínico e cirúrgico”, disse o presidente do CRM-DF, Farid Buitrago.
Para Buitrago, nesse período, os estudantes também fazem o rodizio de especialidades. “Conhecer todas (as especialidades) é fundamental para atingir a maturidade durante a profissão”, completou.
Ministério da Educação
Segundo o Ministério da Educação, a antecipação de diplomas está disponível para os cursos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia, a partir de projeções do Ministério da Saúde.
O objetivo é aumentar a força de trabalho em unidades básicas de saúde e de pronto atendimento, além de hospitais. No caso da medicina, a medida é válida para quem cumpriu 75% do internato. Nos demais cursos, a cobrança é de 75% do estágio obrigatório.
“Com essa carga horária, os estudantes tiveram experiências práticas suficientes para atuarem na área escolhida e, assim, contribuir com o país. Agora, com a autorização dada pelo MEC, cabe às instituições públicas e privadas possibilitarem a formação dos alunos”, concluiu a pasta.
De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, o aluno deve fazer a solicitação de “antecipação de colação de grau”. Caso atenda aos requisitos estabelecidos pela unidade de ensino, o pedido é deferido e o grau, outorgado.