Conheça o poeta e pioneiro que ajudou a construir Brasília: “Orgulho do que a cidade se tornou”
O candango Arnaldo Júlio Barbosa veio do Rio Grande do Norte para ser operário na construção da cidade e segue até hoje na capital
atualizado
Compartilhar notícia
Com a chegada do aniversário de Brasília é bom relembrar os momentos históricos da capital, e ninguém melhor do que os pioneiros para falar sobre essas lembranças. Em junho de 1959, quando ainda tinha 41 anos, Arnaldo Júlio Barbosa veio para a cidade do rock. O objetivo era conquistar uma vida melhor para ele e sua família. Hoje, no auge dos 104 anos, o poeta celebra a meta alcançada e relembra os dias de luta: “Me orgulho muito do trabalho que fizemos, e do que a cidade se tornou”, conta.
O centenário contou para a reportagem do Metrópoles que começou a trabalhar muito cedo, porque não teve oportunidade de estudar. “Eu morava em Pedro Avelino, no Rio Grande do Norte. Aproveitei que um dos meus filhos estava morando em Brasília e vim atrás de uma oportunidade na cidade”, lembra.
Arnaldo chegou na cidade planejada e começou a trabalhar na antiga Sociedade de Habitação de Interesse Social (Shis), na área de construção, como pedreiro. Ele teve a oportunidade de assistir e de participar ativamente da construção da cidade. “Quando cheguei aqui ainda não tinha nada. Tivemos que trabalhar muito para ela se tornar o que é hoje”, recorda.
O aposentado trabalhou na construção da Escola Parque da 308 Sul, na Asa Sul, e já recebeu várias condecorações de autoridades por conta das edificações que subiu na cidade. Um dos filhos dele, Francisco Barbosa, 86, também seguiu o caminho do pai e trabalhou na construção do Congresso Nacional, um dos cartões postais da capital.
Uma das netas do pioneiro, Hezilma Fernandes, 59, contou que tem muito orgulho da trajetória do avô. “Tenho uma imensa admiração, e sonho com o dia em que ele vai ser reconhecido por tudo que fez. Ele tem várias músicas com letras lindas, faz diversos poemas, homenagens”, desabafou.
Hoje em dia, a principal companheira do candango é a máquina de escrever. “Sempre gostei de escrever. Agora estou escrevendo várias músicas, poemas e romances. Isso é o que faço na maior parte do meu tempo. Já até escrevi um livro que se chama A jovem margarida e as proezas do amor, que ainda não foi publicado, mas já fiz a solicitação para registrar os direitos autorais”, planeja.
Apesar da idade avançada, o que não falta para Seu Arnaldo é disposição. O poeta é um homem movido pelo que ama e nem pensa em parar de escrever, compor músicas e tocar seu violão.
O aposentado leva uma vida tranquila e passa seus dias em um sítio na zona rural do DF, ouvindo o canto dos pássaros. Religiosamente, escreve suas poesias em uma mesa de trabalho, sempre vestido com roupa social e um boné baker boy. “Vivo a minha vida como diz o ditado: devagar e sempre, sempre seguindo com persistência e constância”, afirma.
A vinda para Brasília trouxe muitos frutos para o potiguar que tem uma família enorme. Arnaldo teve 14 filhos, 12 deles ainda vivos, 48 netos, 53 bisnetos e 20 tataranetos. A tão sonhada “vida melhor” foi conquistada e toda a luta do escritor, claramente, valeu a pena.