Conheça a dramática história de uma tetraplégica que luta sozinha para sobreviver
Tuane Zancope ficou tetraplégica após cair do parapeito de um prédio, em 2018. Depois de perder a mãe, em 2021, a jovem vive sozinha no DF
atualizado
Compartilhar notícia
Foi em um sábado de novembro que a cientista política Tuane Zancope, 33 anos, viu a vida mudar por completo. Após cair do parapeito do segundo andar de um prédio, na Asa Norte, a jovem desmaiou e acordou dias depois, com diversas fraturas na coluna. O acidente, que antecedeu o aniversário de 28 anos da vítima, em 2018, lhe custou os movimentos do corpo. Como se não bastasse, três anos depois, Tuane enfrentou outra perda: a morte da mãe dela. Desde então, segue sozinha, lutando e travando uma verdadeira batalha para sobreviver.
“Na data do acidente, eu estava com alguns amigos, em um condomínio onde um deles morava, para comemorar meu aniversário. A última lembrança que tenho é de cair [do parapeito] e acordar cerca de 10 dias depois, no hospital, sem poder me movimentar”, começou a jovem.
Com a queda, Tuane sofreu lesão nas vertebras C3 e C4 e teve pedaços de metal inseridos na medula. Passou, ainda, por uma traqueostomia – cuja função é, basicamente, levar o ar até os pulmões no processo de respiração, e teve a barriga perfurada para receber uma sonda de gastrostomia (GTT), por onde recebe alimentação.
Depois de ser diagnosticada com tetraplegia – condição em que o indivíduo perde o movimento dos membros superiores e inferiores do corpo – a cientista política teve de mudar para a casa da mãe, único membro da família que a ajudava. Em 2021, durante a pandemia do novo coronavírus, a genitora de Tuane morreu. Sem outro familiar que a ajudasse, a jovem passou a viver sozinha, com o auxílio de cuidadoras que teve de contratar.
Tuane divide em seu perfil do Instagram lembranças de viagens e registros dos países onde pisou antes de ficar tetraplégica.
“Antes eu era independente, trabalhava, estudava. Tinha um milhão de sonhos, como conhecer 100 países para escrever um livro. Depois do acidente, no entanto, tudo mudou. Para piorar, dois anos depois recebi uma outra pancada: a perda da minha mãe”, comentou.
“Minha família é muito reduzida. Dos familiares que eu tenho, não há ninguém que possa ficar comigo, que possa me receber na casa deles ou me ajudar financeiramente. Por isso, fiquei completamente por minha conta”, contou Tuane.
Sem apoio do Estado, e com a suspensão do auxílio doença – benefício pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) –, Tuane tem vivido com o dinheiro arrecadado em uma vaquinha que fez no início de 2022. À época, a intenção era comprar uma cadeira usada para locomoção, mas as doações fizeram diferença na vida da jovem: “Eu mal sabia que isso me ajudaria pelo resto do ano”.
Agora, no entanto, o dinheiro está curto. Para conseguir arcar com todos os custos que precisa, tais como: aluguel, alimentação e compra de medicamentos, por exemplo, a jovem criou uma segunda vaquinha para arrecadar doações. Saiba como ajudá-la clicando aqui.
Vida solo
A cientista política mora de aluguel em um apartamento de Águas Claras, onde vivia com a mãe, antes de perdê-la. No local, Tuane recebeu a reportagem.
Em uma pequena sala, narrou sua história de vida e explicou a falta de detalhes no cômodo, como a ausência de uma televisão. Segundo a jovem, o objeto não é “necessário”, uma vez que “não recebe muitas visitas” e “nunca sai do quarto”. Inclusive, Tuane mostrou um quadro com o mapa-múndi que tem, onde coloria os países que visitou. Ela gostaria de tê-lo fixado na parede de seu quarto, mas nunca encontrou ninguém que pudesse colocá-lo no local.
Conforme relatou, hoje recebe o auxílio de um plano de saúde pago pela empresa em que trabalhava, antes do acidente. Graças ao benefício, pode contar com um acompanhamento home care.
No entanto, pelo fato de não ter um familiar ao seu lado, Tuane passou a enfrentar um outro problema: conseguir renda para contratar acompanhantes. Isso porque, segundo ela, o plano de saúde só cobre o “cuidado em casa”, durante 24h, se houver, com o paciente, um familiar ou responsável acompanhando o tratamento em todos os momentos.
Além disso, a jovem declarou, ainda, que, com o tempo, o plano de saúde foi diminuindo alguns auxílios, como sessões de fisioterapia, o que a prejudicou. Ao Metrópoles a paciente explicou que após limitarem os atendimentos, percebeu que a rigidez do corpo foi “aumentando”. Para não perder todo o avanço que havia conquistado, precisou pagar, por outra vez, as sessões retiradas.
Tuane também explicou que outra consequência do acidente foi o desequilíbrio na função dos músculos oculares. Para tratar a condição, conhecida como estrabismo, ela tem de desembolsar o valor da cirurgia, que não recebe a cobertura do plano de saúde.
Vida antes do acidente
Estudiosa, um dos sonhos de Tuane durante a adolescência era estudar na Universidade de Brasília (UnB). Após o fim do ensino médio e da aprovação na tão vislumbrada faculdade, ingressou no curso de ciências políticas e passou a atuar na área.
Empenhada, não demorou muito para receber as primeiras oportunidades de emprego. Uma, em especial, chamou a atenção dela. Contratada, foi morar em São Paulo, dias antes do acidente acontecer.
Interessados em ajudar a jovem, podem fazê-lo por meio deste link