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Conheça a Comunidade Cristã Ministério da Fé, comandada por Fadi Faraj, irmão de Sandra Faraj

Com milhares de fiéis, igreja do irmão da deputada Sandra Faraj tem unidade luxuosa e passa máquina de débito para receber doações

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Reprodução/site do Ministério da Fé
Fadi faraj
1 de 1 Fadi faraj - Foto: Reprodução/site do Ministério da Fé

Faltavam dez minutos para as 19h de domingo (19/2) e os estacionamentos da Comunidade Cristã Ministério da Fé em Taguatinga estavam lotados. Os carros tinham de parar em meios-fios. De fora do templo, já era possível ouvir a música e ver as luzes coloridas que vazavam pelas portas de vidro.

Paradas próximo à entrada do lugar, quatro mulheres vestidas de jaleco bege bordado com as palavras “dízimos e ofertas” abordavam os fiéis e visitantes. Pediam nome e telefone para um cadastro. Desinibidas, ensinavam como fazer ofertas: “Vocês já conhecem a igreja?”, “Tem um lugar reservado para os visitantes”, “Os envelopes das contribuições ficam em cima das cadeiras”.

A entrada para a igreja do apóstolo Fadi Faraj, irmão da deputada distrital Sandra Faraj (SD), faz lembrar o ambiente de uma grande festa. Há um corredor de pessoas batendo palmas, desejando boas-vindas e vociferando mensagens de fé.

No Ministério da Fé, até o momento da pregação, apenas o palco fica iluminado, com luzes que se acendem e apagam na pulsação da música. Dois telões exibem as danças, as letras das canções e a performance dos cantores.

Banco da fé
As cadeiras são todas acolchoadas, o ambiente é climatizado e o pé direito, alto, como o de uma grande casa de shows. O isolamento acústico é impecável. Câmeras circulam em gruas, captando os melhores ângulos para transmiti-los ao vivo nos telões e no site da igreja.

Há, pelo menos, 5 mil cadeiras no salão. O banheiro é luxuoso, com enormes pias de granito preto. As portas têm borrachas para evitar barulho durante o culto. Tudo muito limpo e organizado.

Para quem não está acostumado com as tradições evangélicas, o primeiro desconforto aparece justamente na hora de sentar. Em cada uma das cadeiras, há um envelope azul semelhante àqueles de depósito bancário. Em letras garrafais constam os seguintes dizeres: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o senhor dos exércitos”.

Na aba do envelope, há cinco bancos onde os fiéis podem depositar dinheiro, cheque, fazer transferência bancária. As opções são Banco do Brasil, BRB, Itaú, Bradesco e Santander.

Arte/Metrópoles

Pivô de um suposto esquema de uso irregular de verba indenizatória e acusada por ex-funcionários de cobrar uma espécie de “dízimo” de 30% dos servidores indicados por ela em cargos públicos, a deputada Sandra Faraj (SD) contou com a ajuda de milhares de fiéis da igreja fundada pelo seu irmão para se eleger. Sob o comando do apóstolo Fadi Faraj, a comunidade que lidera se multiplicou no DF assim como a votação na parlamentar. Entre as eleições de 2010 e 2014, o número de votos praticamente dobrou, passando de 11.091 para 20.269.

Apóstolo renegado
Ao contrário da distrital, nascida em Taguatinga, o apóstolo é libanês, da cidade de Ain-Ata. Além dos laços familiares e da religião (Sandra também é pastora da igreja), a política é outro elemento de ligação entre os irmãos. Segundo suplente do senador José Antônio Reguffe (sem partido), Fadi Faraj tem planos de lançar carreira solo em 2018.

O fato de ter cursado apenas o ensino fundamental, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral, não limitou o sucesso de Fadi Faraj nem nos negócios, nem na religião. A biografia do apóstolo exposta em portais evangélicos dá conta de que a missão dele começou na adolescência, quando teria encontrado Deus. A história diz que ao se declarar cristão à família, ele acabou renegado por contrariar as tradições islâmicas. Foi expulso de casa e começou a pregar em ônibus, rodoviárias, feiras, praças públicas até fundar a Ministério da Fé, com a mulher, a pastora Lígia Faraj.

Fadi é capaz de reunir em um único culto, aos domingos, na matriz da Ministério da Fé em Taguatinga, cerca de cinco mil fiéis. O Metrópoles acompanhou a Celebração pela Família, comandada pelo apóstolo entre as 19h e 21h do último domingo (19/2).

 

Reprodução
Comprovante da doação

O ponto alto da celebração é quando Fadi Faraj entra no palco e abre o sermão. Vestido de terno, sem gravata e com uma camisa rosa aberta até a altura do peito, o apóstolo pregou sobre o carnaval, a importância da oração e a compensação que a fé traz aos corações.

Fadi Faraj faz transmissões ao vivo do culto, desce do palco, conversa com as pessoas, abençoa os fiéis, tira selfies. Depois de quase duas horas de culto, é chegado o momento formal das contribuições. Os fiéis fazem uma fila e doam para ajudar a manter o templo, embalados pelas palavras de salvação do apóstolo.

Que a dor, a preocupação e a vergonha saiam. Sai do seu lugar com sua esposa e vem até aqui que vamos abençoar vocês. Enquanto estou profetizando, você vai trazer a sua fé para o altar. Entrega e creia. Essas ofertas que estão sendo trazidas não ficarão silenciosas. Vou desatar empresas, desatar negócios, liberar fazendas, liberar saúde, traga a sua oferta profetizando

Fadi Faraj

Débito ou crédito?
Para manter toda a estrutura da igreja com unidades no Gama, Recanto das Emas, Plano Piloto e Santo Antônio do Descoberto (GO), o Ministério da Fé depende da doação dos fiéis. O aparato arrecadatório é ostensivo.

A todo momento, obreiros passam entre o público com máquinas de cartão para quem quiser contribuir.

Suzano Almeida/Metrópoles
Obreiro passa com a maquininha

São dezenas de pessoas uniformizadas trabalhando em prol da arrecadação, que oferecem a opção: “É débito ou crédito?”

Michael Melo/Metrópoles
Matriz da igreja em Taguatinga

 

A reportagem fez a sua oferenda de R$ 20 e recebeu em troca palavras de encorajamento. “Coloque a sua via dentro do envelope para ser abençoada no altar”, disse a simpática moça.

O Metrópoles entrou em contato com a assessoria da igreja para saber quanto o Ministério da Fé arrecada por mês, mas não recebeu retorno até a publicação desta matéria. Procurados, os advogados também não responderam à reportagem.

O dinheiro que entra para os cofres das igrejas não tem qualquer fiscalização das secretarias de Fazenda dos estados. Desde 1957, a Lei 3.193, sancionada pelo então presidente Juscelino Kubitschek, veda “lançar imposto sobre templos de qualquer culto, bens e serviços de partidos políticos, instituições de educação e de assistência social, desde que as suas rendas sejam aplicadas integralmente no país para os respectivos fins”.

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