Como delegado e seus parentes montaram escritório da maconha no DF
Detalhes da investigação mostram que Marcelo Marinho de Noronha e família comercializavam skunk, tipo mais puro da droga
atualizado
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O Metrópoles teve acesso a detalhes da investigação que levou o delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Marcelo Marinho de Noronha, a esposa e os filhos para a cadeia. Eles foram flagrados com uma grande plantação de maconha, na região de São Sebastião, e indiciados por tráfico e associação para o tráfico. Informações apuradas pela Corregedoria-geral da PCDF apontam que os filhos mantinham um escritório especializado na comercialização de skunk, tipo mais puro da droga vendido na Europa.
Conforme revelou o Metrópoles, o delegado foi preso em flagrante nessa sexta-feira (4/12). Além dele, estão detidos a esposa, Teresa Cristina Cavalcante Lopes, e os filhos Ana Flavia Rubenich e Marcos Rubenich Marinho de Noronha. O delegado-geral da PCDF, Robson Cândido, pediu a exoneração do policial. Ele e os parentes passaram por audiência de custódia, na tarde deste sábado (5/12), e foram mantidos presos preventivamente pela Justiça do DF.
O caso chegou ao conhecimento da Corregedoria-Geral por meio de uma denúncia. De acordo com as informações passadas para os investigadores, o tráfico supostamente feito pela família do delegado ocorreria há anos.
A investigação teve início na manhã de 17 de novembro e as equipes passaram a fazer monitoramento da família. Os agentes constataram que o delegado tinha um rotina intensa, se revezando entre sua residência, as atividades no Complexo da Polícia Civil e a chácara em São Sebastião, onde a plantação foi encontrada. Os filhos, de acordo com as apurações da Corregedoria, visitavam o espaço localizado no Núcleo Rural Nova Betânia.
Durante o monitoramento, o filho chegou a ir a uma casa de câmbio no Aeroporto Internacional de Brasília. Um outro fato registrado no decorrer das apurações chamou a atenção dos investigadores. A família fazia compras sucessivas de sacos de gelo. Os policiais fizeram diversas pesquisas em fontes abertas na internet e verificaram que o material pode ser usado na produção da droga, aplicado no processo de secagem e extração para a produção de tipos mais concentrados do entorpecente.
A investigação coordenada com a Corregedoria-Geral contou com a utilização de drones. As imagens captadas pelo equipamento mostraram diversos vasos empilhados no canto do lote, bem como mudas de maconha e demarcações no solo para o plantio.
As imagens foram comparadas a outros registros feitos via satélite do lote e, segundo as investigações, comprovariam uma expansão da plantação. Ainda de acordo com o processo, verificou-se que a iluminação instalada no lote é utilizada para o desenvolvimento da planta. O terreno está em nome de Teresa.
Durante as buscas feitas na noite dessa terça-feira (4/12), foi localizada uma estrutura para produção de maconha em “escala industrial”, conforme o processo. Cômodos foram projetados para servirem de estufas.
“Ao dar cumprimento aos mandados, na chácara em que supostamente estavam sendo plantados os entorpecentes, a Polícia Civil encontrou um complexo de produção de maconha, que segundo o condutor do flagrante, seria em escala industrial e nunca, em 22 anos de polícia, havia visto algo semelhante”, destacou parte do processo.
Apreensão
A polícia apreendeu pés de maconha, grandes e pequenos, fertilizantes, uma pistola da marca Taurus, calibre .40, de propriedade da PCDF, uma espingarda calibre .12, diversas munições calibre .40, contas de água e luz da referida chácara em nome de Teresa Cristina Cavalcante Lopes, rolo de saco plástico para provável, entre outros materiais.
De acordo com o relatório policial, Marcelo Noronha contou ter viajado entre os dias 14 e 21 de novembro, na companhia de sua companheira, para a Colômbia, para aquisição de sementes de cannabis. Ele admitiu, ainda segundo o documento, que fornecia a substância entorpecente para amigos próximos.
“Vale ressaltar, que na data de hoje, durante o trajeto entre a chácara e sua residência, Marcelo mencionou que a viagem entre os 14 e 21 de novembro, na companhia de sua companheira, esteve na cidade de Bogotá na Colômbia para aquisição de sementes de cannabis, bem como mencionou que fornecia a substância entorpecente para amigos próximos”, diz trecho da investigação.
Noronha é delegado da 1ª classe. Ele já atuou na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) e atualmente integrava a Comissão Permanente de Disciplina (CPD) da PCDF.
O outro lado
Advogado da família, Cleber Lopes disse que a plantação era para consumo próprio e faz parte de um projeto do delegado para desenvolver tecnologia referente à produção do canabidiol (substância derivada da maconha) para uso terapêutico. A defesa refuta a ligação com crime: “A polícia não reuniu nenhum elemento externo que pudesse relevar tráfico”.
Lopes pontuou que “não tem nenhum laudo nos autos dizendo que a quantidade de planta seria capaz de produzir determinada quantidade de entorpecente para consumo”. “Não há nenhuma informação de que eles se dedicassem ao tráfico de entorpecente. O Marcelo é delegado de polícia de classe especial, já foi diretor de presídio. Ele tem receita recebida nos Estados Unidos para uso da cannabis com finalidade terapêutica e achou melhor produzir do que comprar”, afirmou.
Segundo o advogado, o delegado tinha propósito de desenvolver tecnologia a fim de produzir o canabidiol para tratamento contra doenças. “É uma realidade mundial e os juízes no Brasil já estão deferindo liminares para que pessoas façam uso do canabidiol. Ele enxergou nisso uma possibilidade interessante, passou a estudar o assunto, viajou para os EUA várias vezes, participou de congresso sobre o tema. O Marcelo chegou a fazer minuta de contrato social de empresa e estava procurando uma forma de regularizar isso na Anvisa para poder fazer pesquisa. Errou em começar antes da autorização”, assinalou.