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Comentários nas redes sociais, sobre o estupro da jovem na festa de Ano Novo, reforçam cultura machista

Depois de uma jovem de 24 anos alegar ter sido estuprada em uma festa de réveillon, alguns comentários nas redes sociais questionam se a postura dela não teria provocado o possível abuso

atualizado

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Violência Sexual
1 de 1 Violência Sexual - Foto: Istock

A denúncia de um estupro em uma festa de réveillon, no Setor de Clubes Norte, provocou polêmica nas redes sociais. Uma jovem de 24 anos usou a internet para desabafar, relatar que havia que sido estuprada pelo segurança de um evento na virada do ano. A descrição dos momentos de terror vividos por ela, no entanto, provocaram reações machistas. Reforçaram o estereótipo mostrado, inclusive em pesquisas recentes, de que parte da sociedade ainda acredita que a roupa usada pela mulher, o consumo de bebida alcoólica ou o comportamento de alguém favorecem o estupro.

Comentários nas redes sociais sobre a publicação da jovem diziam: “história estranha. Por que ela não denunciou na hora?”; “Por que ela saiu sozinha com o segurança?”; “Tem muita gente que se faz de vítima para desgraçar a vida dos outros”, entre outros. Os questionamentos não são sobre o homem que teria estuprado uma mulher, mas questionando qual culpa ela teria no ato.

Um processo comum de vitimização de quem sofre violência sexual, de acordo com a doutora em direito pela Universidade de Brasília Soraia Mendes. “As mulheres vítimas desse tipo de crime passam por três fases de vitimização: o primeiro é o ato em si, o estupro; o segundo é o processo dentro do sistema de justiça criminal. Elas já começam a ser culpabilizadas no primeiro momento, são questionadas que roupa vestiam? O que faziam? A culpabilização começa ali. E o terceiro momento é esse de julgamento da sociedade”, lamenta a especialista.

Para ela, essa transformação da vítima no próprio algoz é o reflexo de uma cultura machista, de afirmação de que a mulher pertence ao homem independentemente da vontade dela. “Essa menina foi corajosa. Colocou um relato em uma rede social e reforçou ainda mais a importância da denúncia. Hoje, somente 35% dos casos de estupro são denunciados, justamente pela cultura em que vivemos, as mulheres têm medo”, disse Soraia.

Conscientização
A assessora técnico do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cefemea), Jolúzia Batista, reforça a ideia da advogada. “Recentemente, houve uma campanha do #meuamigosecreto que visava denunciar o machismo. Não é o comportamento de uma mulher que vai provocar um estupro. Ele simplesmente não deveria existir”, afirmou. Para Jolúzia é preciso mais educação para mudar o cenário. “Temos que enfrentar o machismo com mudança de cultura. Discutir dentro das escolas a igualdade de gênero”, ressaltou.

Integrante do Fórum de Mulheres, Leila Rebouças, reforça que é preciso desconstruir a cultura machista do mundo. “A educação ainda é racista, machista, segregadora. Embora haja um avanço nas leis de proteção à mulher a cultura está enraizada”, disse. Para ela, a preocupação agora é dar assistência psicológica para a vítima. “Que essa menina tenha toda proteção. O Estado precisa garantir para ela e para o agressor o apoio psicológico, é o que prevê a Lei Maria da Penha”, lembrou.

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