Com gasolina a R$ 5, motoristas desistem de apps de corrida no DF
Sequência de altas no preço do combustível na capital tem levado profissionais a abandonarem transporte por aplicativo devido a prejuízos
atualizado
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A sequência de aumentos no preço dos combustíveis no Distrito Federal tem causado transtornos para motoristas que rodam pela capital. Em especial, para aqueles que usam os veículos como meio de obtenção de renda. É o caso dos profissionais que trabalham com aplicativos de transporte e delivery.
Como o litro da gasolina já chegou a R$ 5,49 em alguns postos de Brasília, a categoria vive um drama. Com a redução do ganho mensal, os motoristas de aplicativos temem ter que “pagar para trabalhar”.
O quarto reajuste do preço da gasolina e do diesel anunciado pela Petrobras neste ano entrou em vigor nessa sexta-feira (19/2). Os postos devem repassar aos consumidores o aumento de pelo menos R$ 0,23 no litro da gasolina, fazendo com que os preços nas bombas possam ficar acima de R$ 5,7o no DF.
Não vendo mais possibilidade de seguir como motorista de aplicativos de transporte, Rodrigo Lima, 37 anos, é um dos que deixará o emprego por conta dos gastos elevados. O morador do Gama já trabalhou fazendo corridas por diferentes apps, como a Uber, a 99 Pop e o iFood, mas agora pretende atuar em outro segmento.
“Eu já deixei plataformas por questões de segurança, mas agora, com essa questão do combustível, não dá mais para ficar em aplicativo algum”, diz. “Na segunda (22/2), vou começar a trabalhar com caminhão. Não é o que eu quero, mas é o que dá para ter”, completa.
Uma vez que teve quatro anos de experiência com plataformas de transporte e delivery, Rodrigo já tem o costume de colocar no papel o que ganha. Hoje ele se vê com menos de um salário mínimo ao final do mês.
“Eu tinha uma renda bruta de R$ 5 mil até o final do ano passado. Gastava cerca de R$ 2 mil com gasolina e sobrava R$ 3 mil, que dava para pagar o carro alugado e ficar com R$ 1,5 mil no fim do mês, de lucro. Nos últimos dois meses como motorista de app, eu tirei R$ 700. E olha que tem dia que faço 12 horas seguidas”, lamenta.
Alternativas
Uma alternativa encontrada pelo motorista Manoel Scooby, 43, foi assumir corridas nas cidades do Entorno do DF, onde o litro do combustível está mais barato. Outra saída é abastecer com etanol.
“Quando a gente pega uma corrida para o Goiás, já enche o tanque com álcool. Eu mesmo fui em Águas Lindas (GO) e lá o etanol estava R$ 3,39, aí enchi o tanque. Porém, ele evapora mais rápido, então não rende como a gasolina”, detalha.
Líder do grupo Movimento dos Motoristas de Aplicativo no DF, Scooby diz não ver ações das plataformas para auxiliar os profissionais neste momento de crise.
“Os nossos lucros diminuem porque a tarifa não tem nenhum reajuste. Tudo teve aumento no mercado: gasolina, manutenção de carro, troca de óleo. E as tarifas não”, reclama.
Ainda de acordo com ele, há empresas de aplicativo que oferecem descontos em determinados postos de combustível do DF. Contudo, as promoções seriam muito baixas. “Não tem nada de vantagem no fim das contas”, considera.
Confira, abaixo, o relato de Scooby sobre o aumento da gasolina na capital:
Busca por melhorias
Segundo Marcelo Chaves, presidente do Sindicato dos Motoristas de Aplicativo do DF (Sindmaap), a entidade atualmente agenda reuniões com autoridades locais e federais para discutir melhorias para quem atua na área, uma vez que as plataformas “não dão apoio aos motoristas”.
“Nós estamos com nossas tarifas desatualizadas há seis anos, desde quando os aplicativos chegaram ao DF. Também nunca tivemos auxílio com combustível. Hoje, estamos pagando para trabalhar”, comenta.
“Já não temos ajuda com a segurança e agora está inviável arcar também com o combustível. Então, aguardamos reunião com alguns parlamentares, tanto da Câmara Legislativa do DF, como federais, para ver o que conseguimos em relação às nossas tarifas. Porque, só através deles, para chegarmos nos representantes dos aplicativos”, assinala.
O que dizem as plataformas
Em nota, a Uber disse que neste ano lançou dois recursos “para ajudar os parceiros a diminuir os custos”: a Uber Conta e o Uber Chip.
A primeira é uma conta digital exclusiva para motoristas e entregadores da empresa. Através dela, “os parceiros vão receber os repasses de forma instantânea, ou seja, apenas alguns segundos depois de finalizar uma viagem ou entrega”. Já o Uber Chip “é o primeiro plano pré-pago que permite usar o app Uber Driver sem descontar dados da franquia de internet móvel”.
Em relação aos gastos com combustível, a empresa informou ter uma parceria com a Rede Ipiranga para dar desconto aos motoristas nos postos.
“Pagando com o app Abastece Aí, o motorista parceiro da Uber tem direito a 4% de cashback sem que, pra isso, precise gastar nenhum dos pontos do programa Km de Vantagens. Isso significa que, além de receber de volta parte do valor gasto, o parceiro ainda acumula mais e mais pontos que pode usar, por exemplo, em trocas de óleo”, informou.
A 99 Pop atualmente não repassa aos motoristas do DF auxílio financeiro para cobrir gastos com combustível, mas apontou outros recursos disponíveis na plataforma. “O 99Poupa, por exemplo, possibilita um incremento de ganho de até 17% por estimular corridas em locais e horários com baixa demanda, e o 99Entrega, que resultou em elevação média de 21% a 26% no ganho com o serviço de transporte de itens pessoais.”
“Em relação aos entregadores parceiros da 99Food, desde o início da operação, fazemos repasses semanais ao invés de mensais, que é a prática do mercado […] A 99Food ainda disponibiliza uma série de cursos on-line de preparação e capacitação para entregadores parceiros, com orientações sobre como aumentar os ganhos, por exemplo.”
Já o iFood informou que ainda não oferece auxílio combustível aos parceiros de entrega. Porém, disse que “está em contato com empresas do segmento de combustíveis a fim de viabilizar parceria por meio do iFood Delivery de Vantagens, programa que oferece aos entregadores descontos em serviços e produtos”.
O Metrópoles também procurou a Cabify, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. O espaço permanece aberto para manifestação futura.