Com escolas fechadas na pandemia, dispara procura por mães crecheiras no DF
Anúncios de pessoas com disponibilidade para cuidar de crianças em casa por um preço “camarada” têm tomado as redes sociais
atualizado
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Uma estrutura simples, em um quarto, sala ou garagem. Paredes coloridas e uma oferta: “Não tem onde deixar seu filho na pandemia para trabalhar? Conhecemos ‘mães crecheiras‘”. O mercado não é novo no Distrito Federal, mas vem se alastrando pelas redes sociais com a falta das creches registradas pela Secretaria de Educação, fechadas devido à pandemia do novo coronavírus.
O público-alvo dos anúncios no Facebook e em buscas simples no Google são os comerciários. As lojas reabriram no DF, mas as escolas não acompanharam a retomada. Assim, pais começaram a procurar pessoas que pudessem oferecer um cuidado de “vó” aos seus filhos.
Com preços baixos ou possibilitando rateio entre amigos, as mães crecheiras têm sido a alternativa dos trabalhadores que não podem sequer contar com os avós dos pequenos devido ao risco de contágio pela Covid-19.
Maria (nome fictício) decidiu oferecer o serviço em casa após ser demitida do emprego. Ela fez um anúncio na internet e atende duas crianças por dia, uma de manhã e outra de tarde, por R$ 50 a diária.
Essa foi a maneira que encontrou de se sustentar e ajudar outras mães. Hoje, ela presta serviço para uma professora da rede pública de ensino, que deixa seu filho de 1 ano e 2 meses com Maria, e tem uma outra criança de 10 meses, pois os pais trabalham à tarde.
“Foi a maneira que encontrei de pagar as contas, atender as crianças e ajudar os pais que precisam”, afirmou ao Metrópoles. O anúncio para os serviços prestados por ela foi encontrado no Facebook, mas Maria preferiu não ser identificada porque, como o trabalho foi criado às pressas, ainda atua na informalidade.
Veja alguns anúncios na internet:
Lei
Embora em 2017, a Câmara Legislativa tenha aprovado em plenário e o então governador Rodrigo Rollemberg (PSB) sancionou a lei que autoriza as creches domiciliares ou o trabalho de mãe crecheira no DF, as prestadoras de serviço que a reportagem do Metrópoles entrevistou agora atuam na informalidade, como uma rede de apoio entre mães.
A cozinheira Helly Rosa, 40 anos, precisava de alguém para ficar com o filho dela de 3 anos. Helly faz acarajés e buscava uma pessoa para cuidar do pequeno. “Precisava de alguém de confiança e uma amiga me indicou uma mãe crecheira. Essa senhora fica com quatro ou cinco crianças, no máximo, e cuida muito bem delas”, disse a profissional autônoma.
Fechamento das creches
Com a crise do coronavírus e o fechamento prolongado de escolas e creches no Distrito Federal, as escolinhas de educação infantil são as que mais têm sofrido com a inadimplência e com a retirada das crianças. Muitas não conseguirão reabrir após o período de pandemia por decretarem falência.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF), Álvaro Domingues, ressalta que a retirada das crianças das escolas vai colapsar os estabelecimentos e fará falta no futuro, com ausência de vagas para os pequenos brasilienses.
Segundo Domingues, as regiões mais prejudicadas com a inadimplência e evasão das creches e escolinhas são Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. “As pessoas precisam trabalhar. O que elas estão fazendo? Contratam uma pessoa, ex-estagiária, professora que perdeu emprego, aposentados, se juntam, fazem uma espécie de cota e pagam por mês para ficar com cinco ou seis crianças em uma sala, uma garagem”, detalhou.
“As pessoas estão acolhendo as crianças. Se o Estado não regulamenta, não dá suporte, os pais encontram outras vias, pois precisam trabalhar”, ressaltou o presidente do Sinepe-DF.
Confira a declaração dele: