Com duas hérnias “estouradas”, quilombola agoniza à espera de cirurgia
Aos 71 anos, quilombola busca ajuda médica após ter a barriga deformada por hérnias e a necessidade de retirar o útero após sangramentos
atualizado
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A quilombola Elmina Faria da Silva, 71 anos, não aguentava mais de dor quando finalmente contou aos familiares que não se sentia bem. Levantando a camisa, a aposentada mostrou a barriga deformada por duas hérnias, também contou sobre os sangramentos vaginais diários. Há pelo menos três meses, os parentes tentam uma cirurgia de emergência para a mulher, que se queixa de dores, cansaço, fadiga e fraqueza.
“Já tem três meses dela sangrando”, contou a neta Joanahelen Farias Costa, 22 anos. Os familiares deram início a uma saga atrás de ajuda para a moradora do quilombo Vão do Moleque, em Cavalcante, na região da Chapada dos Veadeiros. “Ela escondia, não mostrava, não falava e as coisas aqui são muito difíceis”, destacou.
Nas últimas semanas, a foto de Elmina se espalhou em grupos do município pedindo ajuda para a mulher. Outros moradores começaram a se desdobrar para ajudar a fazer as cirurgias. A quilombola foi levada para uma consulta na Unidade Básica de Saúde 1 de Planaltina que determinou que a paciente fosse prioritária. Mas até o momento, não conseguiu dar andamento na sequência de exames.
O Metrópoles teve acesso ao encaminhamento médico que indicou que ela tem hiperplasia endometrial, quando a camada interna do útero (endométrio) resulta em hemorragia. A doença é um fator de risco para desenvolver câncer uterino.
“Pelo SUS [Sistema Único de Saúde] não temos nem previsão de ela ser atendida, estamos tirando tudo que dá para pagar uma cirurgia em Goiânia, ela vai “, detalhou a neta. Segundo a família, um político local ficou de intermediar a vaquinha e o atendimento a uma clínica particular na capital do estado.
A família tenta arrecadar R$ 14 mil para a cirurgia. Doações podem ser feitas pelo PIX da neta de Elmina pelo CPF 711.956.711-05.
De acordo com especialistas, as hérnias não são as causadoras de sangramentos uterinos, nem mesmo do cansaço, mas demonstram que a saúde da mulher tem sido negligenciada.
“Uma hérnia para chegar assim acontece há anos, talvez até décadas. Claramente indica que não teve acesso a um serviço de saúde”, destacou o médico Rafael Ruano, cirurgião de urgência e emergência do Grupo Surgical.
Hérnia “estourada”
“Hérnia estourada” é uma expressão popular utilizada para descrever uma complicação grave em uma hérnia, como o estrangulamento ou a ruptura do saco herniário. No entanto, o termo não é correto dentro da medicina, conforme explicou o cirurgião geral Vinicius de Borba Marthental, do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo.
Segundo o especialista, se a hérnia não for tratada adequadamente, pode haver complicações sérias, como estrangulamento ou obstrução intestinal, que podem levar à morte. Portanto, a cirurgia pode ser essencial para evitar complicações potencialmente fatais.
O Metrópoles questionou a Secretaria de Saúde do DF sobre o andamento das consultas da quilombola. A pasta, contudo, alegou que “não pode fornecer informações sobre os pacientes atendidos na rede pública de saúde”
Após a publicação da reportagem, a Prefeitura de Cavalcante se manifestou informando de que estão em busca de tratamento para a quilombola em clínicas da rede particular, que o recurso para custear esse tratamento será da Associação de Quilombolas Calungas (AQC). Segundo a prefeitura, ela deve passar por exames preparatórios para cirurgia na próxima semana.