Com déficit de anestesistas, HUB cancela 59 cirurgias em julho
Somente o Hospital Universitário de Brasília oferece ressonância com sedação e procedimentos específicos de hemodinâmica
atualizado
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O Hospital Universitário de Brasília (HUB) tem cancelado cirurgias diariamente, devido ao baixo número de anestesistas no quadro de profissionais, segundo funcionários da unidade de saúde ouvidos pelo Metrópoles.
A unidade, que integra o Sistema Único de Saúde (SUS), conta com 29 anestesistas, número bem menor ao necessário para conseguir atender a demanda do hospital, que seria 47 (ou 62% a mais que o total atual). As fontes ouvidas pela reportagem pediram para não ter o nome divulgado, para evitar possíveis retaliações.
Só no mês de julho foram cancelados 59 procedimentos por falta de anestesistas. A informação foi encaminhada à superintendente e chefe da Gerência de Atenção à Saúde do hospital no fim de julho.
O HUB é uma das poucas instituições no Distrito Federal que oferece procedimentos específicos que, consequentemente, demandam sedação, como cirurgias oncológicas de grande porte e procedimentos hemodinâmicos e endoscópicos complexos.
Em nota, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que gere o HUB, disse que “alguns cancelamentos de última hora ocorrem devido a atestados médicos apresentados por anestesistas e demais afastamentos legais da equipe”.
A empresa, que é vinculada ao Ministério da Educação, acrescenta que “as salas cirúrgicas disponíveis atendem à demanda do hospital, mantendo a quantidade e a qualidade dos atendimentos” (leia a íntegra do comunicado mais abaixo).
Problema antigo
À reportagem um trabalhador contou que o déficit é um velho problema da instituição. “Tem dia que não há anestesista escalado nem mesmo no plantão. Consequentemente, cirurgias de urgência não podem ser feitas. É um problema que tem acontecido com muita frequência, e a direção está ciente”, disse.
Ouça:
“Isso [falta de anestesistas] vem ocorrendo nos últimos dois, três anos. Já foi pedida uma solução para a direção do hospital e para a Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares]. A falta de anestesia no hospital como o HUB, que tem um alto nível de complexidade cirúrgicas, ocasiona suspensões semanais de cirurgias eletivas dos pacientes, que estão na fila aguardando procedimentos”, pontuou.
O Metrópoles apurou que há, no Hospital Universitário de Brasília, 29 anestesistas. Entre esses, contudo, é necessário retirar o número de médicas gestantes, impedidas por lei de atuarem diretamente com pacientes – período em que assumem trabalho administrativo –, e médicos que não entram em sala de cirurgia.
Conforme informado à reportagem, no HUB existem seis salas para cirurgias eletivas e uma para operações de emergência. Além delas, há, pelo menos, outros quatros setores onde pacientes permanecem aos cuidados de um anestesista. Por isso, segundo trabalhadores, a quantidade necessária para atender a demanda do hospital seria a de 47 profissionais.
De acordo com outro funcionário da entidade ouvido pela reportagem, a conta seria a seguinte: 12 anestesistas no período matutino, mais 12 no período vespertino, de segunda a sexta. Além deles, seria necessário mais alguns profissionais da área para cobrir férias, abonos, atestados etc, fora outros dois que ficam à disposição de todos os procedimentos do hospital.
“Lembrando, também, da jornada de trabalho. Um médico que trabalha na segunda, só pode retornar na quarta. Nesse meio tempo, há a necessidade de outros anestesistas para fazer esse revezamento, nos dois períodos. Calculando tudo, seria necessário ao menos 47 anestesistas”, declarou.
Veja a íntegra da nota do HUB:
“Atualmente, o Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh) conta com 29 anestesistas, que cumprem jornadas semanais de 20h (6 anestesistas), 24h (21 anestesistas) e 40h (2 anestesistas). Durante o primeiro semestre de 2024, foram realizadas 1.730 cirurgias nas diversas especialidades atendidas no HUB-UnB/Ebserh.
Alguns cancelamentos de última hora ocorrem devido a atestados médicos dos anestesistas e demais afastamentos legais da equipe. As salas cirúrgicas disponíveis atendem à demanda do hospital, mantendo a quantidade e a qualidade dos atendimentos.
O HUB-UnB/Ebserh tem se empenhado para ampliar a oferta com a contratação de mais profissionais apesar dos desafios enfrentados na retenção de anestesistas que é um problema enfrentado em todo o país. Este esforço contínuo demonstra o compromisso do hospital em assegurar uma equipe adequada para atender à demanda e garantir a qualidade dos serviços prestados.”
Indicativo de greve
Médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) podem entrar em greve nos próximos dias no Distrito Federal. Segundo o Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF), a decisão será tomada em assembleia geral extraordinária marcada para 14 de agosto. Na data, também será discutida a campanha salarial da categoria.
De acordo com o presidente do SindMédico-DF, Gutemberg Fialho, desde 2018 o sindicato procura negociar revisão do plano de carreira, cargos e salários (PCCS) com o Governo do Distrito Federal (GDF), mas sem sucesso.
“A recomposição é necessária para a carreira médica no serviço público voltar a ser atraente. E é um passo indispensável para melhoria das condições de trabalho nas unidades públicas de saúde do DF e melhor oferta de assistência aos usuários do SUS no DF”, disse.
O sindicato afirma, ainda, que levou as queixas da categoria a autoridades do Executivo e do Legislativo local, mas o assunto não foi incluído na pauta de discussões. Além disso, ainda de acordo com o SindMédico, houve pedido de mediação da negociação ao Ministério Público do Trabalho (MPT), “mas o governo não indicou um representante com real capacidade de negociação para participar das reuniões”.
“Sem resposta do governo e com a defasagem salarial crescente, a Secretaria de Estado de Saúde do DF não consegue contratar médicos aprovados em concurso. Ao mesmo tempo, ocorre a evasão de médicos do quadro de servidores, o que provoca sobrecarga de trabalho e adoecimento e queda na qualidade da assistência à saúde da população”, disse o SindMédico-DF.