Colecionadores de vinil no DF viram lojistas e driblam crise econômica
Vendedores de discos afirmam que problemas na economia passam longe do comércio de LPs. Expositores estarão hoje na Feira de Vinil do Conic
atualizado
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Algo que hipnotizava o pequeno Givaldo Nunes quando criança era olhar seu pai botar discos da coleção na vitrola nos churrascos de fim de semana. Artistas do chamado “brega”, como José Augusto, Diana e Paulo Sérgio, dominavam o estéreo. Quando o garoto tinha 10 anos, viu o pai comprar um bolachão que chamou sua atenção mais do que os outros. Era O Novo Aeon, clássico de Raul Seixas. “Esse eu disse que era meu e de mais ninguém, foi meu primeiro vinil”, lembra Givaldo, hoje aos 46 anos.
O menino foi engordando sua coleção e, desde cedo, praticou o comércio para alimentar sua estante. Exímio fabricador de pipas, vendia seu produto na Feira do P Norte, em Ceilândia, onde morava. Chegou a ter 10 mil LPs. Trabalhou em lojas de discos, depois fez um curso de segurança e exerceu essa profissão por um bom tempo. Vendeu sua coleção. Até que, há cinco anos, resolveu abrir sua loja, perto da Estação Guariroba de metrô, em Ceilândia Sul. “Resolvi que podia trabalhar com o que gostava.”
Givaldo é uma das estrelas da Feira de Vinil do Conic que acontece neste sábado (08/06/2019), a partir das 10h, no Setor de Diversões Sul. O boom do vinil não para. Nos EUA, as vendas de discos subiram 15% em 2018 e atingiram 17 milhões de unidades, segundo a consultoria Nielsen. No Brasil, ainda não há dados oficiais, mas até as antigas fitas K7 voltaram a ser produzidas no país. Nessa onda, novos colecionadores vêm se juntando a veteranos como Givaldo.
O advogado capixaba Leonardo Etringer (foto em destaque), 35, que se mudou para Brasília há dois anos para morar com a companheira, Janaína, está lançando na feira sua nova empreitada: a loja virtual Bananeira Discos. “Para mim, o vinil foi uma forma de fazer amigos em Brasília, o que nem sempre é fácil, e formar um círculo afetivo de pessoas”, destaca.
Ele pretende se especializar em raridades brasileiras, um dos nichos mais desejados por colecionadores. “Num Brasil em crise, eu diria que não tem crise no vinil. Se você encontra o disco certo, ele vai vender”, comenta Léo, que entrou na cena brasiliense ao garimpar discos no Conic e “esbarrar” no colecionador e professor de cinema Alex Vidigal, uma das maiores celebridades do mundo pop da capital. “Virou meu melhor amigo”, sorri Leonardo. Hoje ele ganha a vida como advogado autônomo, sempre priorizando causas sociais, mas no futuro espera viver só do vinil. “Vamos ver como as coisas andam”, conta.
Outro que é novo no negócio é Humberto de Cassia, de 57 anos. Famoso na cidade nos anos 1990 como DJ Betão, ele passou recentemente a frequentar feiras como colecionador. O espaço para os discos na sua casa começou a ficar escasso, foi quando resolveu que iria vender.
“Primeiro, porque gosto muito do ambiente, dos lojistas, de estar com a galera”, descreve. “E também, claro, vi que o mercado está crescendo, por isso vou começar com uma loja nas feiras, a Betão Discos, mas em breve devo abrir um espaço físico”, afirma ele, que já foi dono ou sócio de três lojas de instrumentos musicais famosas na capital: Melodia, Harmonia e Mantra. “Chegou a hora do vinil!”
A Feira de Vinil do Conic terá como atração especial as pequenas livrarias, em homenagem à literatura. Contará com o lançamento do livro Ondas Tropicais, a História da Lambada e do Beiradão, do jornalista Fernando Rosa, o Senhor F, pesquisador musical.
O evento, gratuito, terá também DJs, comidas de rua, cerveja artesanal e, no final, às 20h, shows de blues e jazz com as bandas Brazilian Blues Band, Passo Largo e Diogo Leon tomam a Praça Central do Conic.