Cochichos e constrangimento: o clima na 1ª missa após vídeo erótico de padre vazar
Ao fim da missa, houve questionamento sobre a imprensa e pedidos para que os fiéis não acreditem nem divulguem notícias envolvendo o pároco
atualizado
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A missa da Paróquia São Camilo de Lellis, na Asa Sul, na noite desta terça-feira (25/4), foi marcada por um clima de cochichos e constrangimento. A cerimônia religiosa foi a primeira após imagens de um ex-pároco transando com uma pessoa vazar.
Dois vídeos obtidos pelo Metrópoles mostram o religioso em momentos íntimos que não configuram crime, mas que vão contra os preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana. A regra da entidade religiosa prevê que um sacerdote, no ato de seu ordenamento, faça voto de castidade e, a partir daquele momento, deixe de se relacionar sexualmente, seja com homens ou mulheres.
Assista:
Ao fim da celebração, os fiéis ali presentes foram orientados a não acreditar nos materiais jornalísticos que foram publicados mais cedo. “Não acreditem nas notícias que estão saindo por aí”, reforçou o diácono conhecido como Fernando. “Que imprensa é essa?”, questionou o homem do clero sobre a transa profana.
A cerimônia foi marcada por uma mudança de hábito na paróquia. Segundo uma fiel, essa foi a primeira celebração de um diácono na São Camilo. Nesta função, o religioso não celebra missa, ele faz a “celebração da palavra”, já que não pode consagrar. Desta forma, as hóstias são preparadas anteriormente e ficam no sacrário, aguardando o momento religioso. Também diferente de um padre, não é permitido ouvir confissões, mas está autorizado a ser casado.
“Bem raro, só quando os padres estão envolvidos em alguma atividade”, acrescentou outra frequentadora da Paróquia São Camilo. No fim da missa, um fiel vociferou: “Temos de ser fortes. Nossa igreja precisa de força”, enquanto saía de muleta pela porta.
Em rodinhas de conversa na saída da Igreja, os grupos passavam orientação para deixar a “poeira baixar”. “Não é sobre acreditar ou não, é sobre não divulgar”, aconselhou uma cristã a outras senhoras. “É para não ficar mexendo nesse assunto”, emendou outra. “Por fim, a terceira da roda concluiu que se tratava de “obra do satanás”. “As portas do inferno não prevalecerão”, bradou a fiel.
A reportagem apurou que o clima estranho já pairava na cúpula da igreja desde domingo (23/4). Na missa da manhã, foi pedido aos fiéis que rezassem pelo padre José Maria.
Sexo oral filmado
As imagens mostram o padre José Maria sentado em um sofá com outro homem. Em um dos vídeos, o sacerdote recebe sexo oral do rapaz e chega a segurar a cabeça dele. Em outro, o homem está sem calças e senta no colo do padre, que segura na cintura dele e faz movimentos com o quadril. O padre alterna entre gemidos, sorrisos e expressões de prazer. As imagens foram registradas em dezembro de 2022, como é possível inferir pela reportagem que se ouve ao fundo, sobre a lesão de Gabriel Jesus na Copa do Mundo.
A parede da sala onde o vídeo foi gravado é de tijolos, assim como a da Paróquia São Camilo. Apesar disso, não é possível afirmar que o ato foi cometido nas dependências da igreja.
A Igreja Católica Apostólica Romana proíbe que padres tenham relações sexuais; os clérigos são obrigados a manter a castidade.
Procurada, a Arquidiocese de Brasília disse lamentar a situação e informou que “afastou o padre das atividades paroquiais e de outros encargos pastorais” (leia a íntegra da nota no fim desta reportagem).
O Metrópoles também questionou o Vaticano, mas não teve resposta até a última publicação deste texto.
O padre José Maria faz parte da Ordem dos Ministros dos Enfermos, também conhecidos como Camilianos ou Padres Camilos, por ser um grupo religioso fundado por São Camilo de Lellis. O grupo é voltado para a assistência espiritual e corporal dos doentes.
Ele ingressou na ordem em 1981, após trabalhar como auxiliar de enfermagem no Ceará, na década de 1970.
Outro lado
A reportagem foi à paróquia em duas ocasiões e tentou contato com o padre antes de publicar este texto. Na primeira ida, na noite de segunda-feira (24/4), os responsáveis pela igreja que celebravam a missa disseram que José Maria estava em confissão, e que o chamariam para falar com a equipe. Minutos depois, informaram que o sacerdote precisou sair, porque estava “atrasado para celebrar uma missa de sétimo dia”.
Na manhã desta terça-feira (25/4), as secretárias da paróquia informaram que José Maria estava em atendimento e pediram para a reportagem aguardar. Depois de 20 minutos, elas disseram que o padre tinha um compromisso e não poderia atender. Após insistência, informaram que ele iria entrar em contato com a equipe. O espaço segue aberto.
O vigário episcopal e pároco Rafael Souza dos Santos, responsável pelas igrejas de Brasília, afirmou que o caso do padre José Maria, da Paróquia São Camilo de Lellis, na Asa Sul, é investigado internamente. De acordo com Santos, ainda não é possível descartar a possibilidade de o vídeo ser uma montagem.
“Vamos averiguar se tem veracidade. Se houver, podemos descartar a possibilidade de o ato ter ocorrido dentro do templo religioso, pois não há sofá no local e nada foi registrado pelas câmeras de segurança”, comentou o vigário.
Confira a íntegra da nota da Arquidiocese de Brasília:
“A Arquidiocese de Brasília, na pessoa do cardeal arcebispo Dom Paulo Cezar Costa e dos seus bispos auxiliares, ao tomar conhecimento dos fatos ocorridos na Paróquia São Camilo de Lellis, da Asa Sul, em Brasília-DF, no último dia 22 de abril de 2023, lamenta a situação e dispõe que o padre José Maria dos Santos fique afastado das atividades paroquiais e de outros encargos pastorais da Arquidiocese até que os superiores da Província Camiliana tomem as providências para o devido esclarecimento dos fatos.
Por fim, a Arquidiocese de Brasília reafirma o seu compromisso e zelo para com o Povo de Deus e, neste momento delicado, convida a comunidade paroquial de São Camilo de Lellis a se unir em oração.
Nada mais para o momento.“