Clonagem express: placas e lacres eram falsificados em meia hora no DF
A Polícia Civil e o Detran-DF cumpriram 20 mandados de busca e prisões nesta terça-feira (30/07/2019) contra suspeitos de adulterações
atualizado
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Placas clonadas em meia hora, sem necessidade de apresentar documento algum. Assim funcionava a comercialização de produtos exclusivos do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) em cerca de 20 estabelecimentos. De acordo com a delegada Isabela Meireles, da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), as lojas revendiam o material ilícito nas proximidades de postos do órgão para chamar atenção de pessoas desavisadas. “Eles ofereciam um serviço mais rápido. Muitas vezes, alguém só queria uma resolução ágil de algum problema e acabava indo a esses emplacadores clandestinos.”
Nesta terça-feira (30/07/2019), cerca de 90 policiais civis e 10 agentes do Detran-DF cumpriram 20 mandados de buscas e prisões de suspeitos de vender lacres e placas falsas. Eles são acusados de agir em Taguatinga, no Paranoá, Gama, Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), Plano Piloto, Recantos das Emas e em Águas Claras. E responderão por uso indevido de símbolo público, adulteração de sinal identificador de carro, exploração ilegal de atividade econômica e associação criminosa.
O serviço era amplamente utilizado pelos criminosos, que tentavam dar um ar de legalidade a carros roubados. “Por ser rápido e não pedir nenhuma documentação, os bandidos se aproveitavam da situação. Os veículos saíam do local com placa e lacre novos”, explicou a delegada, em coletiva realizada na tarde desta terça.
Dezenove pessoas foram autuadas na operação. No entanto, a investigadora diz que não há uma relação entre todos os estabelecimentos. “Não havia ligação. A atuação dessas lojas era individual, em várias cidades diferentes do DF, como Plano Piloto, Taguatinga e Recanto das Emas.” Ao todo, quatro suspeitos foram presos em flagrante. Eles serão indiciados pelo uso indevido de marcas do governo e exploração econômica indevida, cuja pena é de de 2 a 6 anos de prisão.
Outras 15 pessoas assinaram termo circunstanciado e acabaram liberadas. Segundo as apurações, somente em 2018, foram registradas 2,8 mil ocorrências de carros clonados no Distrito Federal. Neste ano, os números são semelhantes. Os policiais dizem que existe, na capital, uma “indústria” que alimenta os crimes.
Sofisticação
Ainda de acordo com os investigadores, os acusados estão adotando um modus operandi sofisticado. Ao saírem para roubar, já levam placas clonadas, fazendo a troca imediata logo após a subtração dos carros. Dessa forma, acabam dificultando o trabalho da polícia, de localização e recuperação do veículo. Depois de clonados, os automóveis são vendidos a terceiros de boa-fé, usados em outros crimes ou remetidos para o exterior para troca por armas e drogas.
De outro lado, o dono do carro que teve a placa copiada enfrenta uma série de problemas, pois passa a receber multas e pontos em sua Carteira de Habilitação referentes a infrações de trânsito que não cometeu. Pode também acabar como suspeito de crimes cometidos com o carro clonado, gerando constante dever de explicação às autoridades.
O que a Corpatri ainda não conseguiu descobrir, no entanto, foi como que esse vendedores conseguiam os objetos de uso exclusivo do Detran. “A polícia ainda investiga a origem dessas placas e lacres. Algumas lojas tinham prensas próprias. Outras, não sabemos ainda”, afirmou a delegada.
Um dos principais problemas do crime de clonagem, explicou a policial, é a dificuldade em saber que o carro está nessa situação. “Geralmente, só quando começam a chegar multas indevidas que um cidadão descobre o que está acontecendo. Não tem como saber antes disso.”
Encomendas
A Corpatri identificou que as encomendas das placas ocorrem de todas as formas, em especial por meio de aplicativos como o WhatsApp, e os emplacamentos ilegais feitos no meio da rua de modo escancarado. Os criminosos vendiam as peças no DF e também recebiam encomendas de outros estados, especialmente Bahia e São Paulo. Cobrava-se, em média, R$ 250 pelo kit (placas traseira, dianteira e lacre).
A ousadia era tanta que alguns desses suspeitos, além de fornecer a ladrões de carro, possuíam “lojas” na frente dos locais oficiais de emplacamento, captando também parte da população desavisada. Para desarticular o esquema, policiais se infiltraram e conseguiram, com grande facilidade, comprar uma placa idêntica ao do carro do delegado responsável pela investigação. Também adquiriram placa referente a um carro roubado e que já se encontrava apreendido na própria DP, ambas com lacres.
A Corpatri lembra que autorização para emissão e o serviço de emplacamento são atividades privativas do poder público. “A PCDF alerta a população: a compra de placas e troca de lacres somente podem ser feitas pelo trâmite regular determinado pelo órgão de trânsito. Aqueles que adquirem essas placas e lacres irregularmente também poderão ser responsabilizados criminalmente”, destacou o delegado Erick Sallum.