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Nem dilúvio pode recuperar níveis dos reservatórios do DF

Segundo especialistas, índice pluviométrico em dezembro precisa ficar acima da média histórica para amenizar crise hídrica

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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

As chuvas no Distrito Federal em dezembro terão de, pelo menos, repetir os índices do mês anterior para que a população não comece 2018 enfrentando crise hídrica mais grave que na última virada de ano. No mês passado, as precipitações ficaram acima do esperado, o que elevou os níveis dos dois reservatórios que abastecem a população — Descoberto e Santa Maria. Ainda assim, a distribuição está comprometida e o racionamento não tem data para terminar.

Em 1º de dezembro de 2016, a Barragem do Descoberto — cuja situação é mais crítica que a de Santa Maria —, responsável pelo abastecimento de 60% da população do DF, operava com 22,4% de sua capacidade. Naquele mês, choveu 154 milímetros (62% dos 246mm esperados à época), o que resultou em baixa do índice, para 21,9%. No dia 12 de janeiro, o GDF anunciou o racionamento.

Nesta sexta-feira (1º/12), segundo a Agência Reguladora de Águas do DF (Adasa), o nível do reservatório ficou em 9,3%, menos da metade dos 22,4% registrados no mesmo dia do ano anterior. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam que, caso não chova mais que os 246mm (média histórica) previstos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) este mês, a crise hídrica vai se agravar.

“Após as chuvas de novembro, houve ligeira subida. Mas a situação ainda é preocupante, porque jamais viramos o ano com menos de 20% (no reservatório do Descoberto)”, avalia o hidrólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Henrique Leite Chaves. Ele ressalta que, apesar do estado crítico, dezembro é, historicamente, o mês em que há maior precipitação, apesar do fiasco no ano passado.

Chaves acrescenta que começar o ano com baixos índices acende o sinal de alerta para os meses seguintes. “Por volta de maio, os níveis vão começar a descer de novo, como ocorreu este ano”, Caso as precipitações atinjam a média histórica para dezembro, o DF encerra 2017 com índice de 1.294,6mm, aquém do previsto para o ano inteiro (1.540,6mm).

Regularidade
Doutor em gestão de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável, o engenheiro civil Demetrios Christofidis vai além. Ele ressalta que não basta apenas chover acima da média prevista, mas haver regularidade entre as precipitações. Ou seja, se as precipitações caírem de forma espaçada, os níveis dos reservatórios não vão subir de forma tão efetiva.

“As chuvas intercaladas caem em solo seco. Então, a água é absorvida e vai parar no lençol freático, em processo que leva de dois a quatro meses”, explica. “Mas, se a chuva cai por vários dias seguidos, o solo ficará saturado de água. Assim, maior parte dela vai escoar pela superfície e elevar os níveis dos reservatórios mais rapidamente”, acrescenta.

Christofidis reforça a importância da redução do consumo diário para amenizar a crise. Ele avalia que o racionamento não surte efeito. Isso porque a população, por saber do rodízio, costuma armazenar água no dia anterior à interrupção do fornecimento.

Corumbá IV
O especialista prevê crise mais branda no DF após a entrega do sistema de captação Corumbá IV, prevista pela Companhia de Águas do DF (Caesb) para ocorrer em dezembro do próximo ano. A empresa afirma que 70% das obras, iniciadas em abril de 2011, foram concluídos.

O sistema é fruto de parceria entre o GDF e a Companhia Saneamento de Goiás (Saneago). Está projetado para trabalhar com vazão máxima de 2,8 mil litros por segundo — menor, apenas, que a média do Descoberto (3,1 mil L/segundo) —, em primeira etapa, divididos meio a meio entre cidades do DF e do Entorno.

Nesta etapa, segundo a Caesb, serão beneficiadas cerca de 600 mil pessoas. No DF, o sistema vai atender Gama, Santa Maria, Recanto das Emas, Taguatinga Sul, Águas Claras, Núcleo Bandeirante, Park Way e Arniqueiras. No Entorno, abastecerá Novo Gama, Valparaíso, Luziânia e Cidade Ocidental.

“O sistema Corumbá IV será caro, longínquo, mas a implantação, pelo menos da primeira fase, é urgente. As bacias que hoje atendem os reservatórios (Descoberto e Santa Maria) são pequenas se considerarmos o tamanho da população”, analisa.

Reservatórios
O maior nível da Barragem do Descoberto registrado em 2017 foi 56,4%, em 3 de maio. Em 7 de novembro, o índice caiu para 5,3%. A Adasa prevê que o sistema atingirá 17% até o último dia do ano. A Barragem de Santa Maria está com 22% da capacidade.

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