Cirurgião acusado de deformar pacientes se pronuncia pela primeira vez
Por meio de nota, o médico Sílvio Parreira da Rocha afirma ser vítima de “exposição injusta e infundada”
atualizado
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O cirurgião plástico Sílvio Parreira da Rocha, investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por supostos erros médicos cometidos durante a realização de procedimentos estéticos, se pronunciou pela primeira vez neste sábado (14/09/2019), com relação às denúncias feitas por 10 mulheres.
Em nota, o médico afirmou já ter realizado mais de três mil operações e diz não reconhecer nenhuma das fotos que estão sendo divulgadas. Ele falou também que nunca provocou deformidade alguma em qualquer paciente. Sílvio ainda alega não ter recebido nenhum tipo de intimação ou notificação da Justiça.
O médico investigado disse ser vítima de “exposição injusta e infundada” e conta ter feito um boletim de ocorrência contra as mulheres que o denunciaram, no intuito de “trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível”.
Confira, na íntegra, o posicionamento do médico:
“1° – Tenho 32 anos de atuação na área médica, tendo operado mais de três mil pacientes. Sou devidamente registrado no CFM (Conselho Federal de Medicina), sob o RQE n° 2.214, e também sou membro associado à SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).
2° – Não reconheço a foto das mamas que vêm sendo divulgada, apesar de claramente se tratar de uma imagem tirada nos primeiros dias de pós-operatório.
3° – Não tenho, em meu histórico, nenhum caso de ter provocado deformidade em pacientes. Todos os pacientes, antes da cirurgia, são orientados sobre as possíveis evoluções dos casos, que variam de acordo com o biótipo de cada um.
4° – Até o momento, não recebi nenhum tipo de intimação, notificação ou citação da Justiça. Mesmo assim, diante da exposição injusta e infundada, procurei a Polícia Civil e registrei um Boletim de Ocorrência (nº 9.7412/2019) contra as possíveis denunciantes, com o objetivo de trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível.”
“Vergonha de ficar nua”
“Um pesadelo”. Foi dessa forma que uma mulher de 39 anos classificou a cirurgia para implante de próteses de silicone nos seios feita em 2017. Ela é uma das 10 supostas vítimas que acusam o médico Sílvio Parreira da Rocha de erros em procedimentos estéticos. As intervenções resultaram em deformações e cicatrizes grotescas.
Ao Metrópoles, a mulher diz ter pagado R$ 9 mil pela operação. Insatisfeita, chegou a refazer a cirurgia em dezembro do mesmo ano, com o mesmo médico, mas o resultado teria piorado ainda mais a aparência das mamas. Além disso, ela passou a sentir dores mais intensas.
“Não ficava nua na frente do meu marido. Me olhava no espelho e não reconhecia aquele corpo. Os seios representam muito para uma mulher. [Colocar silicone] era o meu sonho, mas virou pesadelo”, detalhou a mulher, que pediu para não ser identificada.
A suposta vítima de erro médico disse ter conhecido Sílvio da Rocha por meio de uma recomendação da cunhada, que fez o mesmo procedimento com o médico e gostou do resultado. “Isso foi há 7 anos. Ela me mostrou o resultado e gostei”, lembra.
De acordo com a paciente, os seios começaram a se deformar no dia seguinte ao procedimento, enquanto ainda estava internada. Ela garante ter seguido todas as recomendações do pós-operatório e tomou os medicamentos prescritos. Abalada, a paciente de Sílvio da Rocha entrou em depressão, que foi agravada devido aos efeitos colaterais de alterações comportamentais causadas por um dos remédios.
Dois meses após entrar na sala de cirurgia pela primeira vez, a mulher passou novamente pelas mãos de Sílvio da Rocha. “Estava quadrado na parte de baixo, torto, e uma das mamas maior do que a outra. Ele mediu, falou que sobrou pele e iria retirar um pouco. Quando refez, não utilizou anestesia geral. Eu acordei na sala de cirurgia e disse que estava doendo muito, mas ele insistiu que tinha de terminar.”
“Gritou comigo”
A suposta vítima de imperícia médica contou ter continuado o tratamento com Sílvio, mas não notava evolução. Chegou a procurá-lo novamente e o médico teria oferecido, mais uma vez, refazer a cirurgia. Sílvio ainda teria se ofendido e começado a gritar no consultório quando a mulher disse ter perdido a confiança nele. “Ele gritou comigo, me mandou procurar a Justiça.”
“Quando falei com ele, não queria o dinheiro de volta, só queria que outro profissional resolvesse o meu problema. Ele me indicou uma médica – essa muito boa – que teve de consertar tudo. Eu ainda vou ter de refazer a pigmentação da auréola, que ficou prejudicada.”
Outras vítimas foram ouvidas pelo Metrópoles
Duas mulheres foram até a 21ª Delegacia de Polícia (Pistão Sul) nessa quinta-feira (12/09/2019) para acusar o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha. Elas preferiram não se identificar. Aos jornalistas, contaram que foram operadas pelo médico e os procedimentos não deram certo. “Fiquei mutilada”, diz uma das denunciantes, que passou por cirurgia há quatro anos. Ao todo, são oito possíveis casos.
A outra suposta vítima de erro médico foi operada em março de 2016. A autônoma relata que sentiu muito desconforto e logo viu que a cirurgia de redução mamária, recomendada para corrigir um problema na coluna, não havia dado certo. A cicatriz fechou e abriu várias vezes, segundo afirmou. A mulher conseguiu fazer a reparação um ano depois, com o próprio cirurgião. E o resultado teria sido ainda pior.
“Ficou um buraco nos meus seios, que me incomoda muito e gera coceiras. Sinto dores até hoje. Se você passar a mão na região, ainda consegue sentir os pontos. Ele disse para mim que o problema era na minha pele. Falou: ‘O problema é com você’. Fiquei sem reação na hora”, conta a mulher, de 46 anos, moradora do Riacho fundo I.
Ela garante que vai correr atrás da reparação dos danos que alega ter sofrido. “Tudo isso abalou muito minha autoestima, tenho vergonha de sair. E não só isso, afetou minha saúde, o que foi justamente o motivo de eu fazer essa cirurgia”, lamenta.
Outra suposta vítima, uma mulher que trabalha como vigilante prestou depoimento na delegacia no mesmo dia. Ela realizou uma mamoplastia e colocou prótese há cerca de quatro anos. Em janeiro de 2015, fez o procedimento com Sílvio Rocha – a cirurgia teria demorado quatro meses para fechar.
“A cada 21 dias, os pontos arrebentavam. Isso aconteceu umas três vezes, abrindo e fechando. Durante todo esse processo, eu ficava completamente dependente do meu marido: ele me dava banho, eu não podia dirigir, levantar os braços nem me mexer direito. Foi muito difícil, eu ficava com medo de morrer, me abalou muito”, conta a moradora da Ceilândia, 41.
A vigilante destaca ainda que o médico chegou a oferecer a reparação, mas a cirurgia seria feita pelo próprio Sílvio. Ela não aceitou. A mulher diz ainda ter ficado com medo de denunciar o cirurgião, pois, na ocasião, ele tinha dito que era militar aposentado. “Além disso, não tinha cabeça para ir atrás de advogado ou delegacia. Eu precisava me recuperar, porque tudo isso me trouxe um baque psicológico muito grande”, desabafa.
A vítima garante que a cirurgia afetou seu casamento. “Hoje, sou divorciada. Tenho certeza de que isso influenciou, porque até hoje tenho vergonha de me relacionar com alguém. O trauma fica na alma”, ressalta. Pontuou ainda que resolveu ir até a delegacia após ver que outras pacientes estavam indo denunciá-lo. “Quanto mais mulheres denunciarem, melhor. A união faz a força e esse homem tinha que estar preso”, frisa.
A vigilante recorda-se de que gastou cerca de R$ 5.663,00 na cirurgia, mais R$ 2 mil de prótese, R$ 1.350 de internação e anestesia. O valor desembolsado na operação, segundo ela, foi depositado direto na conta do médico.
Laudos
Investigadores da 21ª DP (Taguatinga Sul) que receberam denúncias de cinco mulheres contra o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha informaram, nesta manhã, que aguardavam a finalização de laudos produzidos pelo IML para intimar o profissional. No entanto, os casos foram repassados para a Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), no começo da tarde.
As supostas vítimas de erro em procedimentos passaram por perícia médica, que vai detalhar todas as lesões provocadas pelas intervenções. Após os resultados dos laudos, que devem sair na próxima semana, os delegados que cuidam do caso irão colher o depoimento do médico.