UnB destina R$ 30 milhões para estudos no combate ao coronavírus
Entre os projetos, estão pesquisas sobre a cloroquina e confecção de máscaras utilizando nanotecnologia
atualizado
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A Universidade de Brasília (UnB) aprovou, nos últimos dias, 115 projetos com foco no combate à Covid-19. Ao todo, R$ 30 milhões serão investidos a partir de recursos da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e gestão da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) em projetos ranqueados por ordem de prioridade.
Entre as maiores preferências elencadas pelo Decanato de Pesquisa e Inovação (DPI) da instituição, estão os testes relacionados ao uso da cloroquina em pacientes internados por causa do novo coronavírus. São duas as propostas tratadas com grande importância entre todas as aprovadas.
Uma delas é o projeto comandado pela professora adjunta de hematologia da UnB e chefe desse setor no Hospital Universitário de Brasília (HUB), Flávia Dias Xavier. A ideia é testar não só a hidroxicloroquina, um composto menos tóxico que o normal, mas realizar três testes simultâneos. “Os estudos que vimos até agora foram feitos com um número muito pequeno de pacientes, nossa intenção é aumentar isso”, conta.
A ideia é atender cerca de 300 pacientes que necessitam de internação em vários hospitais universitários federais ainda a serem definidos. Cada pessoa que der entrada em um dos pronto atendimentos será perguntada se deseja participar do estudo.
Em caso positivo, o paciente poderá receber tratamento de hidroxicloroquina, com ou sem a combinação de azitromicina, ou também com outro medicamento, a imunoglobulina, que é utilizada no tratamento da H1N1, por exemplo.
“Além dessas três possibilidades, teremos outro braço da pesquisa que trabalhará apenas com as intervenções que já são utilizadas normalmente. A partir disso, poderemos comparar a eficácia com o que já é feito e ver não apenas se as taxas de mortalidade caem, mas se o período de entubação diminui”, exemplifica.
Outro teste será realizado com mais uma variante do composto, o difosfato de cloroquina. Continuação do trabalho que já está sendo feito pela Fiocruz de Manaus (AM), a ideia é ver qual seria a dose a ser aplicada nos pacientes internados com Covid-19 e se, de fato, o medicamento é eficaz.
Conforme explica o professor de doenças infecciosas da UnB e diretor da Faculdade de Medicina, Gustavo Romero, a principal preocupação é ver se o difosfato de cloroquina é seguro no tratamento do novo coronavírus. “O trabalho em Manaus começou testando duas doses diferentes: uma alta e outra moderada. A primeira já foi cancelada pela alta toxicidade que apresentou logo no início”, conta.
Dessa forma, apenas uma dose quase semelhante àquela aplicada aos diagnosticados com malária passará a ser aplicada em pessoas internadas. “As comorbidades de um paciente podem aumentar a toxicidade do medicamento também. Fora que, por ser uma doença nova, são vários medicamentos sendo aplicados no paciente que precisamos ter cuidado nas interações. É importante aferir a eficácia e segurança do que propomos”, explica o professor.
Para conseguir as garantias necessárias, a intenção é obter um número razoável de internados e descrever detalhadamente cada reação apresentada pelos voluntários. “Queremos conseguir em torno de 150 a 200 pacientes para avaliar melhor os resultados. Na amostra ainda pequena a que tivemos acesso, a grosso modo, os pacientes não estão apresentando número maior ou menor de mortalidade do que nos tratamentos já existentes”, diz Romero.
Máscara mais segura
Entre as pesquisas aprovadas pela UnB, estão também inovações tecnológicas, como a proposta pelo grupo da professora Suélia de Siqueira. Como objetivo de melhorar ainda mais o filtro da já conhecida máscara N-95, os pesquisadores encontraram na quitosana, uma composição do exoesqueleto de crustáceos como o camarão, a forma de evitar que o vírus ultrapasse as camadas do equipamento e chegue ao médico. Além do aporte da instituição, uma vaquinha virtual também foi criada para angariar mais fundos.
De acordo com o pesquisador em transferência tecnológica do desenvolvimento Mário Fabrício Fleury, do Campus de Ceilândia, o diâmetro do coronavírus é menor do que o filtro comum consegue bloquear totalmente e, por isso, há a necessidade de se repensar a camada protetora. “É uma forma de reforçar o não contágio. Estamos utilizando um elemento de fácil acesso no Brasil, como o camarão, e esse nanofilme é capaz de travar o vírus, deixando ele desidratado para, posteriormente, acabar morrendo”, relata.
O lote piloto já está em produção e a expectativa é que nas próximas duas semanas o teste pré-clínico, aquele que é feito antes de ser utilizado por profissionais de saúde, seja realizado e, caso a máscara esteja dentro dos padrões estabelecidos, um novo lote de 10 mil unidades será produzido para distribuição em cinco hospitais do DF e também para a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia.
Uma vez aprovadas por quem utilizar o primeiro lote, as máscara poderão ser produzidas em larga escala. “Tão importante quanto desenvolver algo desse tipo é todos poderem usar”, frisa Mário.
Confira a explicação da professora Suélia.
Álcool em gel
Preocupados não apenas com as inovações para o futuro, mas com o que pode ser feito para ajudar as pessoas mais vulneráveis, os integrantes da empresa júnior Genesys Biotecnologia decidiram aumentar a oferta de álcool em gel no Entorno do Distrito Federal.
Com o apoio da professora especialista em bioprocessos e fermentação Talita Souza Carmo (foto em destaque), serão distribuídos 500 litros do produto de forma gratuita a famílias carentes. “Iremos mapear as áreas com maior número de pessoas expostas e entregar de porta em porta. Serão cerca de mil famílias beneficiadas”, conta a docente.
Os alunos, no entanto, não pretendem apenas deixar o álcool em gel e ir embora. Um trabalho de dispersão do conhecimento também está sendo elaborado para que as famílias carentes possam se informar sobre assuntos relacionados ao novo coronavírus, desde sintomas até a forma correta de higienizar as mãos.
“Já estamos desenvolvendo o rótulo do produto e um folder explicativo. Muita gente acaba não tendo acesso à informação correta e os alunos de biotecnologia têm capacidade para ajudar”, comenta Talita.
A ideia é realizar o projeto durante quatro meses, respeitando a capacidade produtiva do laboratório do Instituto de Biologia (IB). “Apesar de o produto ficar pronto no mesmo dia, são necessárias outras 72 horas para avaliar se ele está no padrão desejado. Se tomarmos como exemplo uma fabricação na segunda-feira, daria para rotularmos na sexta e, no sábado, fazer a distribuição”, projeta.