Extorsão virtual: bitcoins seduzem investidores e bandidos
Há casos, inclusive no Distrito Federal, de invasões de hackers que exigiram quantias em moedas virtuais
atualizado
Compartilhar notícia
As moedas virtuais estão seduzindo cada vez mais os investidores e também os criminosos. No mais recente ataque cibernético mundial, o programa invasor exigia um resgate em troca de documentos sequestrados. O pagamento deveria ser feito em moedas virtuais, como o bitcoin.
Em maio deste ano, outro crime, este de destaque nacional, envolveu o dinheiro virtual. Uma mulher foi sequestrada em Florianópolis (SC) quando chegava em casa. Os bandidos entraram em contato com o marido da vítima e exigiram o pagamento do resgate em Z-cash e Monero, outras duas moedas do mundo digital. Entretanto, a polícia conseguiu identificar os criminosos antes que a transação fosse feita.
No Distrito Federal, o chefe da Delegacia Especial de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani, diz que os agentes já investigam casos de invasões de hackers que exigiam quantias em moedas virtuais. “Temos uma vítima que nos procurou e outras que temos conhecimento. A partir de agora, começaremos a trabalhar especificamente com esse tipo de crime”, informou.
Uma outra prática criminosa tem envolvido as moedas virtuais. Os bandidos oferecem supostos empregos como mineradores (investidores) e prometem enormes ganhos com a atividade. Porém, os “empregadores” exigem um investimento inicial e parte do pagamento só é possível com a indicação de mais funcionários. “Ou seja, é mais um golpe de esquema multinível”, alerta Richard Dantas, especialista em vendas de moedas virtuais.
Esses casos reacendem o debate sobre a segurança das moedas virtuais ou criptomoedas. A dificuldade em rastrear as transações, a possibilidade de uso em qualquer país e a falta de regulamentações estão entre as preocupações de quem considera o dinheiro digital perigoso.
Richard Dantas enumera algumas ações que reduzem significantemente o risco de ações criminosas em relação a moedas digitais. “Primeiro de tudo é preciso procurar uma corretora de confiança, como a BitcoinToYou, a Mercado Bitcoin ou a Foxbit. Elas exigem documentação dos usuários e contam com certa garantia nas transações”, ressalta.
A segunda dica do investidor é ler sobre o assunto, pesquisar, saber quais são os perigos que envolvem a transação. “E, é claro, sempre tenha um antivírus instalado na máquina que a pessoa for fazer as operações”, acrescenta o especialista. É importante o investidor saber que, uma vez feitas, as transações com bitcoins não podem ser canceladas.
Adriano Zanella (foto em destaque), 34 anos, dono de uma unidade da franquia BitcoinToYou, diz que a transação é segura. “Até hoje não tivemos qualquer problema com fraude. No começo [em 2015], ficava dias sem receber um cliente. Hoje em dia, o movimento é constante”, relata.A corretora dele, que tem loja física no Sudoeste, funciona há dois anos e atua como uma intermediadora entre os clientes e o mercado de bitcoins. Assim, é possível comprar e vender a moeda virtual com dinheiro real. A renda do estabelecimento vem de pequenas taxas cobradas nas transações dos usuários.
A moeda virtual extrapolou as transações virtuais e já é aceita em alguns estabelecimentos como forma de pagamento. O empresário Marcos da Cunha Rodovalho, por exemplo, há dois anos, passou a receber bitcoins dos clientes durante as compras em sua adega, montada em Goiânia (GO). “No começo, foi uma jogada de marketing, que tornou a loja conhecida no Brasil todo. Mas nos últimos meses, várias pessoas começaram, de fato, a comprar produtos com a moeda virtual”, ressaltou.
Conta criptografada
Para o professor João José Costa Gondim, do Departamento de Ciências da Computação da Universidade de Brasília (UnB), o sistema, em tese, é seguro. “Cada usuário tem uma espécie de conta criptografada e as transações precisam ser validadas por vários usuários. Para fraudar uma negociação, seria necessário um alto investimento. Ou seja, é praticamente inviável”, afirma.
Entretanto, uma das principais críticas é a dificuldade em rastrear usuários da moeda, facilitando a ação de criminosos, que poderiam cometer atos ilícitos em qualquer lugar do mundo. Mas para Gondim, essa fragilidade não é exclusiva do meio digital. “De fato, o rastreamento é difícil e exige tempo e dinheiro. Porém, não é impossível. Alguns casos de uso dos bitcoins para compras de drogas na deep web, por exemplo, foram descobertos. Se você carrega dinheiro no bolso, por exemplo, também está passível de ser roubado”, afirma.
Outro temor está na possibilidade de as contas serem hackeadas. “Essa é uma possibilidade que existe também em contas tradicionais. Todos os bancos usam sistemas virtuais que podem ser invadidos. As carteiras de bitcoins são criptografadas e até hoje não tenho notícias de invasões aqui”, assinalou o empresário Adriano Zanella.
O Banco Central reconhece as criptomoedas, mas emitiu, em 2014, um alerta. “Em função do baixo volume de transações, de sua baixa aceitação como meio de troca e da falta de percepção clara sobre sua fidedignidade, a variação dos preços das chamadas moedas virtuais pode ser muito grande e rápida, podendo até mesmo levar à perda total de seu valor”, ressalta o documento.
Um dos receios é de que muitos compradores usem a moeda como bem especulativo e possam, de uma hora para outra, se desfazer delas, gerando uma repentina desvalorização. Os investidores, porém, apostam que a bolha está longe de estourar.
Segundo o site Foxbit, nesta sexta (23) a cotação atual de 1 Bitcoin (BTC) está a quase R$ 10 mil. Em janeiro deste ano, o valor não ultrapassava R$ 3,4 mil. “O ideal para minimizar riscos é sempre diversificar investimentos. Moedas virtuais têm ótimo rendimento, mas não deve-se apostar tudo nelas”, sugere o investidor Richard Dantas.
Como funciona
Há duas formas de conseguir moedas virtuais. A primeira, e mais usada, é buscar uma corretora especializada. A segunda é chamada de mineração. O voluntário, ou minerador, usa sua máquina para a validação de transações de bitcoins. Neste caso, ele recebe uma quantia na moeda virtual em troca do serviço prestado.