Cidades carentes concentram 16% dos casos de coronavírus no DF
Em apenas duas semanas, os testes positivos nas regiões administrativas de baixa renda da capital subiram de 17 para 110
atualizado
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Enquanto o número de casos de contaminação pelo novo coronavírus não para de crescer no Distrito Federal (em informação divulgada na manhã desta sexta, 17/04, foram 732 confirmações e 20 mortes), um outro dado chama atenção: a propagação da Covid-19 em cidades carentes que passaram um bom tempo sem registros da doença.
Conforme mostram dados da Secretaria de Saúde, no dia 1º de abril, data em que foi prorrogado por decreto o fechamento de shoppings e a suspensão das aulas, apenas 17 casos de testes positivos para coronavírus haviam sido registrados nas regiões administrativas de baixa renda no DF. Nessa quarta-feira (15/04), o número chegou a 110.
A reportagem contabilizou os casos conforme Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) em 2018.
No estudo, as cidades de Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo I, Riacho Fundo II, SIA, Samambaia, Santa Maria e São Sebastião foram diagnosticadas com uma população de renda média baixa. Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA/Estrutural e Varjão foram consideras de baixa renda.
Dessa forma, no começo de abril, os casos de coronavírus nas cidades listadas representavam apenas 4,59% do total no DF. No meio do mês, no entanto, essas 14 cidades passaram a representar 15,98% de todas as confirmações.
Ceilândia, por exemplo, aumentou em sete vezes o número de casos. Santa Maria viu os infectados se multiplicarem por cinco. Samambaia tem três vezes mais contaminados. Em São Sebastião, a alta de casos no Complexo Penitenciário da Papuda contribuiu para o salto vertiginoso.
Confira a evolução dos casos:
Falta de consciência
Ana Cristina Mota, 37 anos, moradora do condomínio Jardins Mangueiral, demonstra preocupação com o crescimento do número de casos nas regiões de São Sebastião e Jardim Botânico, que atualmente somam 57 casos. “Saí hoje para tentar vacinar meus filhos e não é difícil ver grupo de oito ou 10 pessoas. Se chegar aqui, vai espalhar rápido”, relata.
Para a infectologista do Hospital Sírio Libanês de Brasília Valéria Paes, o aparecimento de casos nessas cidades era inevitável, uma vez que a transmissão do vírus é muito fácil. No entanto, é necessário olhar com atenção as condições que essas regiões vulneráveis apresentam. “São locais que, por exemplo, têm mais dificuldade em conseguir adesão ao isolamento social. Por questões econômicas, as pessoas não podem ficar sem trabalhar”, lembra.
Valéria explica ainda que a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e saneamento nessas localidades pode contribuir para o avanço mais rápido da doença. “Muitas pessoas na rua e acesso precário a determinados serviços podem virar uma fórmula com um desfecho ruim. Ainda não alcançamos o pico de transmissão no DF”, alerta.
A infectologista do Hospital Santa Lúcia, Marli Sartori, ressalta, principalmente, a estrutura de residência que os moradores dessas cidades têm. “Geralmente são muitas pessoas em espaços menores. A possibilidade de se fazer um isolamento do paciente com sintomas leves sem entrar em contato com filhos, pais ou avós diminui”, explica.
Para a médica, uma vez que será inevitável a reabertura do comércio, o ideal é disseminar ao máximo a necessidade de manter padrões de higiene. “A pessoa entrará em contato com outra seja no trabalho, no transporte público, na espera do ônibus. As pessoas vão precisar tomar as medidas básicas, como lavar as mãos, manter distância de dois metros e mesmo usar máscara para sair”, conta.
Procurada, a Secretaria de Saúde informou que, “com a aquisição dos 450 mil testes haverá condições de adotar ações específicas para estas áreas. No entanto, as medidas de isolamento social continuam sendo a política de saúde ideal para enfrentar a pandemia em todas as regiões”.