Churrascão da Covid-19: Corregedoria dos Bombeiros do DF abre investigação
O caso denunciado pelo Metrópoles aponta que pilotos da corporação fizeram comemoração durante a pandemia e 10 ficaram infectados
atualizado
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Chegou até a Corregedoria do Corpo de Bombeiros Militar do DF denúncia de que um churrasco para comemorar o fim de um treinamento do 1° Esquadrão de Aviação Operacional do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), realizado em plena pandemia da Covid-19, resultou em adoecimento da tropa e efetiva redução no atendimento à população.
Reportagem do Metrópoles publicada nesse sábado (25/7) apontou que 10 militares foram infectados por coronavírus após a celebração, sendo que dois tenentes precisaram ser internados.
A investigação terá como base o pedido do chefe do Comando Especializado, tenente-coronel Bruno Tempesta.
Ele encaminhou documento ao comandante Operacional do CBMDF pedindo apuração da possível prática de transgressão disciplinar na realização do churrasco. Por trás do evento, segundo ele, estaria um “desejo fútil, irresponsável e egoísta de se aglomerar, além de arriscar a vida de muitas pessoas”.
Após a reportagem, os bombeiros emitiram nota informando a abertura do processo. Ponderou, ainda, que “as formas de contaminação pela Covid-19 são incontáveis e os bombeiros militares citados na reportagem são aqueles que estão diariamente atendendo às ocorrências de emergências nos mais variados ambientes do Distrito Federal”.
Apurações iniciais
Antes de encaminhar o pedido de investigação ao comandante operacional, o tenente-coronel que fez a denúncia tomou todos os cuidados possíveis. Ouviu os envolvidos, colheu informações e, posteriormente, pediu punições. No texto da denúncia, o oficial diz ter chegado ao seu conhecimento que o churrasco ocorreu em 25 de junho, na casa do pai de um capitão lotado no Grupamento de Aviação Operacional (Gavop). A reunião foi para comemorar o fim do treinamento e a adaptação de voo operacional da aeronave EC 130 B4, de resgate, que começou no dia 22 de junho.
Até a data do churrasco, nenhum oficial piloto do Corpo de Bombeiros tinha sido diagnóstico com Covid-19 ou estava afastado pela doença. Porém, quatro dias depois, em 29 de junho, o próprio anfitrião da festa e um major entraram de atestado por sete dias devido à suspeita de infecção.
Em 30 de junho, o tenente-coronel João Antônio Menagessi Neto também apresentou atestado por suspeita de Covid-19. Os casos começaram a surgir dia após dia e foram confirmados por meio de teste. Em 6 de julho, contabilizava-se 10 pessoas infectadas. Todos com atestado e, segundo o pedido de investigação, “com possibilidade de nexo causal com o churrasco realizado no dia 25 de junho com os militares”.
Em 9 de julho, o comandante do 1° Esquadrão de Aviação Operacional (1° ESAV), Lúcio Kleber Batista de Andrade, foi indagado sobre o evento. Em seu pedido de apuração, o tenente-coronel Bruno Tempesta relata que fez questionamentos por meio de ligação telefônica ocorrida às 17h20 daquela data.
Ele disse que não havia tido nenhum evento de confraternização de forma oficial. Logo, insisti e peguntei de forma bem objetiva se militares do Gsvop e outros haviam realizado tal evento e que ele deveria ter o compromisso com a verdade. Foi quando ele me questionou se estava sendo inquirido por mim. De certo, disse a ele de forma contundente: ‘Não, você não está sendo inquirido, você está recebendo uma pergunta direta do seu comandante e a resposta é sim ou não, e você tem o compromisso com a verdade’. Foi quando ele respondeu que sim, que houve o referido churrasco
Trecho do pedido de investigação assinado pelo tenente-coronel Bruno Tempesta
Pedido de punição
A partir da resposta positiva, o autor do processo começou a ligar os pontos. Perguntou pelo tenente-coronel João Antônio Menagessi Neto e obteve como retorno que ele havia sido internado no Hospital Santa Lúcia, no dia 10 de julho, com Covid-19. Menagessi Neto chegou a precisar de unidade de tratamento intensivo (UTI).
Diante das informações, o tenente-coronel Tempesta abriu o pedido de transgressão contra Lúcio Kleber Batista de Andrade e João Antônio Menagessi Neto, alegando que ambos feriram o Estatuto do Bombeiro Militar, que exige conduta moral e profissional.
“O tenente-coronel João Antônio Menagessi Neto, como comandante do Gavop, deveria, na qualidade do cargo que ocupa, coibir tal evento (o churrasco), mas fez justamente o contrário, pois, além de ter ‘feito vista grossa’, esteve presente no mesmo, assim como o comandante do 1° Esav, tenente-coronel Lúcio Kleber Batista de Andrade, afrontando visivelmente o Estatuto Bombeiro Militar”, embasa Tempesta no pedido de investigação.
O processo ainda pede que João Antônio Menagessi Neto indenize o erário pelo custeio de sua internação, caso esse pagamento tenha sido feito por parte do sistema de saúde do Corpo de Bombeiros. O embasamento para a Tomada de Contas Especial (TCE) é que ele “se aglomerou por negligência ou imprudência, num desejo fútil de confraternizar”.
O Metrópoles ligou para os celulares dos dois oficiais investigados, mas eles não atenderam ou retornaram os contatos. O espaço segue aberto a manifestações futuras.