Cerrado está mais quente e seco com desmatamento, diz estudo da UnB
Devastação da área vegetal gerou impactos no clima do Cerrado, que atingiu temperatura 1ºC maior e ficou 10% mais seco em uma década
atualizado
Compartilhar notícia
Em tempos de seca, a baixa umidade e as altas temperaturas registradas no Distrito Federal contribuem para o aumento da incidência de queimadas. Segundo um estudo da Universidade de Brasília (UnB), a devastação de áreas verdes gerou impactos no clima do Cerrado, que aumentou a temperatura em 1ºC e ficou 10% mais seco na última década. A pesquisa, publicada em outubro na revista Global Change Biology, abordou impactos históricos e futuros da expansão agrícola, apontada como uma das principais causas da mudança climática no bioma.
“Um clima mais quente e seco favorece a ocorrência de incêndios. Assim, a ação humana está não somente alterando a temperatura e a umidade mas também induzindo queimadas intencionais”, explica Mercedes Bustamante, professora de biologia da UnB e coautora da pesquisa.
Os resultados do estudo mostram que não só a perda de florestas impacta o clima, mas também a perda de vegetação savânica – a mais abundante no bioma e uma das mais ameaçadas. O estudo ainda aponta que a conservação da biodiversidade do Cerrado tem importância vital para a estabilidade climática e hidrológica local e regional.
“A progressão no aumento da temperatura e na redução de umidade favorecem mais incêndios no Cerrado e causam impactos negativos sobre a própria agricultura. As alterações do ciclo da água também comprometem a geração de energia e o abastecimento de cidades que irão sofrer com secas mais intensas e prolongadas”, alerta Bustamante.
Impactos futuros
Caso o desmatamento do Cerrado continue, a tendência é que o clima fique cada vez mais quente e seco. Considerando possíveis reflexos das políticas ambientais, como o Código Florestal Brasileiro – que permite até 80% da área de propriedades privadas no Cerrado desmatadas –, os pesquisadores modelaram três cenários futuros para o clima do Cerrado.
O primeiro, chamado “Colapso do Cerrado”, modelou o clima com a continuação do desmatamento legal e ilegal na região até 2050, sem políticas de controle de desmatamento. O segundo avaliou apenas o desmatamento permitido por lei – em um total de 28 milhões de hectares.
O terceiro cenário, mais positivo, projetou os impactos no clima da região sob uma política de desmatamento zero combinada com a recuperação de 5 milhões de hectares de áreas em propriedades privadas degradadas ilegalmente, que por lei teriam de ser preservadas.
Contudo, caso o desmatamento continue, o estudo previu calor severo e seca até meados do século. O aumento de temperatura foi de 0,7°C no pior cenário e de 0,3°C no cenário intermediário. A estimativa é referente apenas ao desmatamento na região e não inclui o aquecimento global esperado de mais de 1°C durante o período.
“É urgente colocar em prática metas mais ambiciosas de conservação, restauração e uso sustentável dos ecossistemas do Cerrado. Os nossos resultados mostram que seguir o curso atual pode trazer consequências desastrosas para o clima, o regime de chuvas, a produção de alimentos e a biodiversidade, se estendendo além dos limites do bioma. Daí a importância de incluir o Cerrado em acordos climáticos internacionais e negociações para eliminar o desmatamento das cadeias de produção de alimentos”, comenta Ariane Rodrigues, pesquisadora da Universidade de Brasília e coautora do estudo.