Mais de 24h: secretário participa de cerco a Lázaro em chácara de Girassol
Um forte efetivo da força-tarefa está mobilizado no local onde autor de chacina no DF foi visto nessa quinta (24/6)
atualizado
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Após a reviravolta no caso Lázaro, com a prisão de dois homens que estariam ajudando o criminoso a fugir do cerco policial montado na área de Girassol (GO), as buscas pelo psicopata continuam nesta sexta-feira (25/6) no Setor de Chácaras.
O secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, está no local. Perguntado se há informações sobre o psicopata, ele respondeu que “por enquanto não”. Lázaro é acusado de cometer crimes brutais, como latrocínio, estupro e homicídios.
Um forte efetivo da força-tarefa está mobilizado há mais de 24 horas no local onde Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, foi visto nessa quinta (24).
Policiais continuam em operação na área e fazem vistorias em carros de moradores que passam pela barreira montada numa estrada de terra que acessa onde o criminoso pode estar. As buscas ocorrem a 5 km da base montada pela força-tarefa que procura Lázaro há 17 dias.
Um dos suspeitos de facilitar a fuga, o caseiro Alain Reis de Santana, 33, contou detalhes de como Lázaro teria permanecido escondido na chácara de seu patrão, Elmi Caetano, 74. Segundo o depoimento à polícia, eles estiveram com o criminoso pelo menos cinco vezes nos últimos dias.
Alain informou que Lázaro dormia e fazia refeições, como almoço e jantar, diariamente na sede da chácara, com o consentimento de Elmi Caetano. Pontuou, ainda, que a mãe do suspeito trabalhou como caseira para Caetano e que, quando o maníaco estava preso, o dono da propriedade ajudava financeiramente a família do foragido.
Na Central de Flagrantes, enquanto era ouvido pelo delegado, o caseiro confessou que, quando Lázaro percebeu que a equipe se aproximava, se escondeu em um quarto, dentro de um depósito, cuja janela fica voltada para a lateral da chácara.
Alain contou ter ficado assustado ao perceber a presença de Lázaro na chácara em que trabalhava. Ao questionar Elmi sobre a presença do fugitivo no local, o patrão alegou que o caseiro estaria “imaginando coisas”. Em outra ocasião, disse que percebeu que faltava leite e pão na casa.
Ele também identificou que Lázaro havia retornado para a chácara mais de uma vez. Observou que havia dois copos sujos na cozinha e percebeu que o foragido havia comido pão.
Em seu relato, Alain acrescentou que sofreu ameaças de Lázaro: “Se você falar para alguém que eu estou aqui, eu vou pegar a sua família. Eu sei onde a sua família mora”, teria dito o maníaco, na ocasião.
Em seguida, de acordo com o testemunho do caseiro, o criminoso entrou na sede da chácara, pegou uma faca e um cabo com pedaço de cano envolto em uma borracha, e saiu.
Na quinta (24), por volta das 6h30, Alain chegou para trabalhar de bicicleta e encontrou o patrão, Elmi, e o filho Gabriel. O caseiro afirma que foi mandado para o córrego, com a informação de que a bomba estaria estragada, mas não havia nada de errado com o equipamento. Para o empregado, a ordem serviu para afastá-lo da sede da chácara.
No mesmo dia, Alain viu Lázaro entrar correndo para se refugiar em um quarto, mas, antes, fez um sinal para que o funcionário deixasse o local. O caseiro encontrou policiais na propriedade e, por ter sido ameaçado de morte pelo foragido, não confirmou que o criminoso estava na chácara.
Escondido
Depois que os agentes foram embora e, em seguida, um helicóptero sobrevoou a chácara, o foragido saiu do cômodo e foi até o córrego em que costuma se esconder. Quando Elmi proibiu a entrada da polícia na chácara, os agentes desconfiaram de que os dois estariam ajudando o criminoso.
Alain revelou que Elmi ajuda o maníaco na fuga e teria permitido que o fugitivo passasse as noites na sede da chácara e o alimentava. Nos últimos dias, Elmi teria deixado as portas da chácara destrancadas, como se esperasse por Lázaro.
O advogado de defesa de Elmi afirmou que o cliente toma remédios controlados, está em estado de choque e não “fala coisa com coisa”.
Ilvan Barbosa rechaça a possibilidade de auxílio do idoso ao fugitivo. “Meu cliente tem 74 anos, tem câncer, diabetes, usa remédio controlado e está em choque. Ele estava saindo da chácara e foi preso com duas armas de ar comprimido. Essas armas não foram e não são de Lázaro”, diz o defensor.
Outras pessoas investigadas
O secretário de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), Rodney Miranda, disse que outras pessoas estão sendo investigadas por envolvimento com Lázaro. Não se sabe, ainda, se Alain e Elmi teriam participação nos crimes atribuídos a Lázaro Barbosa.
A prisão dos dois reforça a ideia de que o psicopata não age sozinho. O caseiro de uma chácara na região do Incra 9, em Ceilândia, reconheceu Lázaro Barbosa como sendo o homem que visitou a propriedade dos Vidal dias antes de invadir a casa deles e matá-los em 9 de junho.
Conforme o Metrópoles revelou, a testemunha ouvida pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) afirmou que Lázaro estava na companhia de um adolescente quando a dupla entrou, sem permissão, no lote da família Vidal. Eles chegaram em duas bicicletas e passaram pela cancela que protege a entrada do lote, na tarde de 29 de maio.
O caseiro contou à polícia que o homem mais velho – que depois reconheceria por fotografia como sendo Lázaro Barbosa – indagou se a chácara vendia queijos, pois ele teria interesse em comprar. “Em seguida, perguntou se havia mais terrenos descendo a estrada. Respondi que não, e ele foi embora”, relatou o depoente.
O garoto que estava com Lázaro tem apenas 16 anos, mas já foi apreendido tanto pela polícia goiana quanto pela do Distrito Federal por atos infracionais análogos a roubo e furto. O jovem mora em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF.
“Não foi só eu”
O depoimento da testemunha bate com o que Lázaro disse a Sílvia Campos de Oliveira, 40, feita refém durante a fuga, ainda no Incra 9, um dia depois de matar a família Vidal. “Ele perguntou se eu estava acompanhando o caso. E, depois, afirmou: ‘Aquele crime lá eu tava junto, mas não foi só eu’”, contou a mulher ao Metrópoles.
O próprio Lázaro teria ligado para a mãe dois dias depois da chacina e dito que não agiu sozinho.
Chacina
Lázaro é suspeito de matar Cláudio Vidal de Oliveira, 48, Gustavo Marques Vidal, 21, e Carlos Eduardo Marques Vidal, 15. Ele ainda sequestrou Cleonice Marques de Andrade, 43 , esposa de Cláudio e mãe das outras vítimas. O crime ocorreu na madrugada de 9 de junho, no Incra 9, em Ceilândia.
O corpo de Cleonice foi encontrado dias depois, em um matagal. O cadáver estava sem roupa e com um corte nas nádegas, em uma zona de mata que fica perto da BR-070.
Desde que matou a família Vidal, Lázaro vem invadindo outras propriedades, fazendo novas vítimas. Ainda no Incra 9, em Ceilândia, ele entrou em outros dois locais, baleando três pessoas em um deles, além de um policial. Em Goiás, ele tem se escondido na região entre Girassol, Edilândia e Cocalzinho, Entorno do DF.
Família Vidal:
Ficha criminal
A vida criminal de Lázaro começou em 2008. Na época, ele foi preso por um duplo homicídio em Barra do Mendes, município baiano que fica a 540 km de Salvador. O psicopata é natural da cidade.
Segundo a Polícia Civil baiana, o criminoso foi indiciado pelos assassinatos de José Carlos Benício de Oliveira e Manoel Desidério Silva, no povoado de Melancia. O inquérito, concluído e enviado à Justiça, aponta que Lázaro atingiu as vítimas com disparos de espingarda e em seguida fugiu, apresentando-se dias depois em uma unidade policial. Após a prisão, ele acabou fugindo para o Centro-Oeste.
No DF, chegou a ser condenado por roubo e estupro. Mas, também, conseguiu fugir do sistema penitenciário em 2016.
A capacidade de fuga de Lázaro já é velha conhecida da polícia e do sistema prisional goiano. Em julho de 2018, ao tentar escapar junto de outros cinco detentos do presídio de Águas Lindas (GO), no Entorno do Distrito Federal, ele foi o único que obteve êxito.
Lázaro foi preso no dia 8 de março de 2018, por suspeita de assassinatos ocorridos na Bahia, além de estupro, roubo e porte ilegal de armas no DF. Ele tinha, na época, três mandados de prisão em aberto.
A ausência dele entre os internos do presídio de Águas Lindas só foi sentida no momento de recontagem dos detentos, após a ação policial no local. A essa altura, no entanto, ele já estava longe.
A fuga ocorreu durante a madrugada, por volta das 2h, de 23 de julho de 2018, segundo a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária de Goiás (DGAP).
Personalidade violenta
Laudo psicológico feito no âmbito de um dos processos contra Lázaro Barbosa, em 2013, constatou que o homem tem características de personalidade violenta, como agressividade, ausência de mecanismos de controle, dependência emocional, impulsividade e instabilidade emocional.
Ainda de acordo com os psicólogos que assinam o documento ao qual o Metrópoles teve acesso, o criminoso tem possibilidade de “ruptura do equilíbrio, preocupações sexuais e sentimentos de angústia”.
O maníaco, segundo os especialistas, teve o desenvolvimento psicossocial prejudicado devido a agressões familiares, uso abusivo de álcool e drogas, falecimento familiar, abandono das atividades escolares, trabalho infantil e situação financeira precária.