CBMDF inicia sindicância e sargento acusado de agressão pode perder posse de arma
CLDF pediu que corporação recolha a pistola “pensando na segurança do agredido”. Na última terça-feira, militar prestou depoimento na 12ª DP
atualizado
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O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) formalizou o processo de apuração disciplinar do 1º sargento Guilherme Marques Filho, filmado agredindo um rapaz de 25 anos, o programador Jair Aksin Reis Canhête, e o ameaçando com um revólver. Segundo a corporação, o prazo para conclusão das investigações é de 30 dias, que podem ser prorrogados em caso de necessidade.
Além disso, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF (CLDF), deputado distrital Fábio Felix (PSol), enviou um ofício ao Corpo de Bombeiros, nesta quarta-feira (23/12), no qual solicita o recolhimento imediato da arma do sargento, “uma vez que evidentemente foi utilizada de forma indevida”.
“Encaminhamos o documento pensando na segurança do agredido, já que as cenas são bem fortes”, disse o distrital ao Metrópoles. No documento, o parlamentar pede urgência da apuração das atitudes do bombeiro e punição conforme a lei, caso as acusações se confirmem. O presidente da comissão ainda solicitou que sejam tomadas medidas preventivas necessárias para garantir a vida e a integridade física de Jair, até que ocorra apuração das denúncias de ameaças feitas a ele.
Depoimento
Além de ter agredido e ameaçado o programador, o militar também teria assediado uma moça, o que causou a briga entre ele e Jair. O sargento prestou depoimento na 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), nessa terça-feira (22/12). “Ele deu a versão dele e, agora, seguimos apurando, buscando outras imagens para embasar o caso”, contou o delegado Josué Ribeiro, responsável pelas oitivas, sem detalhar o teor do depoimento do bombeiro.
O caso de assédio ocorreu na estação do metrô da Praça do Relógio, em Taguatinga. As imagens das câmeras de segurança do local foram solicitadas. Mais testemunhas deverão prestar depoimento aos investigadores nos próximos dias.
Apesar de conduzirem investigações distintas, a Corregedoria do CBMDF solicitou cópia da averiguação à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a fim de embasar o processo administrativo aberto contra o oficial. Guilherme alegou que “apenas dei bom dia para uma moça. Fui agredido primeiro, e minha atitude contra ele (Jair) não foi por acaso”.
Para o militar, a proporção que o caso ganhou se deve ao fato da camiseta que ele usava no dia da confusão no metrô. “Só deu essa repercussão por causa da camisa do Bolsonaro… Todo mundo está vendo só um lado da moeda”, reclamou o sargento.
Veja o momento das agressões:
O caso
O episódio ocorreu na sexta-feira (18/12). O militar teria assediado uma mulher no metrô-DF e foi questionado por Jair Aksin. Após ser confrontado, o 1º sargento Marques Filho esboçou sacar uma pistola que levava na cintura, mas os seguranças do metrô conseguiram acalmá-lo e pediram para que Jair esperasse o bombeiro ir embora a fim de evitar confusão. No entanto, ao sair da estação, Marques Filho esperava o programador.
Assustado, o rapaz correu para dentro de uma loja especializada na venda de peixes e aquários. “Tentei me posicionar próximo às câmeras de segurança para, pelo menos, ficar registrado que ele poderia me matar. Por sorte, ele puxou a arma, me agrediu, mas não apertou o gatilho”, desabafou Jair.
Em pânico, funcionários do estabelecimento acompanharam as ameaças. Logo após agredir o rapaz, o homem deixou o local. “É uma sensação muito ruim de impotência, pois esse homem havia assediado uma moça dentro do metrô. Espero que as autoridades tomem uma providência enérgica”, finalizou o programador.
A cabeleireira de 29 anos supostamente assediada pelo bombeiro registrou ocorrência na 12ª DP. “Contei tudo o que aconteceu aos policiais, e eles colocaram como depoimento na ocorrência do Jair [o rapaz procurou a polícia depois de ser agredido]. Sinto-me melhor agora. Espero que o bombeiro seja responsabilizado”, contou a moça, que preferiu não se identificar.
A vítima do abuso revelou que estava na fila da estação, como faz diariamente, quando sentiu uma mão no cabelo dela. “Ele pegou da metade do cabelo para baixo e foi passando a mão. Primeiro, achei que era alguém conhecido, mas, quando vi uma pessoa que não conheço me olhando com cara maliciosa, confrontei”, afirmou.
Nesse instante, o programador, que também estava na fila, teria interrompido: “O Jair se aproximou e deu um tapa nas costas dele [o bombeiro], mas só para ele se virar, e questionou por que ele estava me assediando. O bombeiro negou e disse que só esbarrou em mim”, contou a mulher.
De acordo com Jair, a reação dele não foi nada fora daquilo que considera correto. “A imagem que eu queria passar não era a de um super-herói ou de qualquer coisa do tipo. Era mais de um ser humano sensato. Não imaginava que, depois, teria uma arma apontada para mim”, queixou-se.