Cautela: Adasa alerta brasiliense para manter uso “consciente” da água
Contrastando com otimismo de Rollemberg, agência estabeleceu novos níveis para reservatórios do DF. Se ficarem aquém, medidas serão tomadas
atualizado
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A Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) quebrou o silêncio e se manifestou nesta sexta-feira (4/5), um dia depois de o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciar que o racionamento será suspenso no dia 15 de junho. O órgão estabeleceu novos índices de referência para o reservatório do Descoberto, o principal do DF, até o mês de dezembro. Caso o nível fique abaixo dos percentuais previstos, a agência poderá voltar a adotar medidas que restrinjam o consumo de água pelo brasiliense.
Para novembro, considerado o mês mais crítico do ano após a estiagem, o nível mínimo do reservatório deverá ser de 21,9%, bem acima do registrado em 2017: 5,3%. Segundo a Adasa, caso o consumo volte à mesma quantidade de antes do racionamento (cerca de147 litros por pessoa/dia), o sistema do Descoberto pode secar em outubro.
De acordo com ele, o volume de chuvas acumulado entre setembro e abril está abaixo da média histórica para o período, mas acima do que foi registrado entre 2016 e 2017. “As boas práticas precisam continuar”, destacou Salles, referindo-se ao uso responsável dos recursos hídricos. Durante o racionamento, houve queda de 14% no consumo de água no DF.
O presidente da Adasa explicou ainda que o abastecimento não estará 100% liberado, como antes. A agência reduziu a quantidade de água a ser captada pela Caesb e manteve algumas restrições ao uso para irrigação. A partir do dia 15 de junho, os agricultores poderão irrigar suas plantações entre 6h e 9h e entre 15h e 18h. Durante o racionamento, estava limitado apenas a três horas matinais.
Paulo Salles disse que a agência trabalhava com quatro cenários a partir de junho, sendo que em apenas um deles mantinha o rodízio (veja abaixo). “Fizemos várias simulações e, então, julgamos a mais adequada e concluímos que essa representava o melhor equilíbrio entre a segurança hídrica e a minimização dos problemas causados pelo racionamento”, afirmou.
No pior resultado, com consumo igual ao de 2016, o reservatório do Descoberto ficaria com -7% de volume útil entre outubro e novembro.
Segundo ele, vivemos um período de muita incerteza climática que se reflete nas chuvas do fim de ano: “Temos de manter a população alerta e ciente de usar a água de forma consciente. Confiamos que não será necessário voltar ao racionamento”. Salles, entretanto, não detalhou que tipo de medidas poderão ser tomadas caso os reservatórios fiquem abaixo das metas estabelecidas.
As ponderações de Paulo Salles parecem mais alinhadas com os alertas de especialistas da área ouvidos pelo Metrópoles. Eles contestam a brevidade do racionamento e analisam que dois fatores deveriam ter sido aguardados antes da tomada de decisão: o fim da construção da Barragem de Corumbá IV, próximo a Luziânia (GO), e o término do período de seca na capital.
“O racionamento caminhava mesmo para o fim. No entanto, liberar agora os reservatórios sem esperar o término da seca deixa uma margem muito pequena para que a situação se estabilize”, afirmou o doutor em recursos hídricos Sérgio Koide. “É uma margem muito pequena, muito perto do limite. Se houver qualquer problema, ela se frustra”, disse o especialista ao se referir à meta de 21,9% estabelecida para novembro.
O racionamento começou em 16 de janeiro de 2017, deixando os brasilienses com as torneiras secas uma vez a cada seis dias. Quando o racionamento teve início, na pior crise hídrica registrada no DF, os índices da Barragem do Descoberto chegavam a 19,1% da capacidade. O de Santa Maria estava com 41%. Nessa quarta (2), os sistemas tinham níveis de 90,9% e 56,4%, respectivamente.
Além da volta da chuva, o fim do rodízio foi possível graças a investimentos feitos às pressas, ainda em 2017, para aumentar a captação de água no DF, como no Lago Paranoá e no Subsistema Bananal. As obras de Corumbá IV também começaram e a entrega está prevista para dezembro de 2018.
Reajuste
Por conta do rodízio, a Caesb registrou queda de 34,8 milhões de metros cúbicos no consumo de água em 2016 e 2017, o que teria representado um impacto negativo de R$ 155,7 milhões na receita. A empresa chegou a pedir reajuste de quase 11% nas tarifas, como compensação, a partir de 1º de junho. A Adasa, entretanto, só autorizou 2,99%, índice bem acima da inflação acumulada desde o último aumento.
Pré-candidato à reeleição, o governador Rollemberg questionou o percentual e barrou o reajuste. “Todo ato administrativo está sujeito a pedidos de explicação. E foi isso o que aconteceu”, disse Paulo Salles ao ser perguntado se vai rever o índice: “Deixo claro que a nossa tarifa é autorizativa. A Adasa faz o papel dela. A Caesb também. E o GDF também”. De acordo com ele, a questão será tratada com diálogo.