Catadores e crianças mergulham em lixeiras subterrâneas no Noroeste
Segundo moradores, o bairro “ecológico” do DF está tomado por lixo nas ruas por conta de falhas no atual modelo de coleta de resíduos
atualizado
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Na teoria, o Noroeste deveria ser o bairro ecológico do Distrito Federal. Mas, na prática, a região está tomada por lixo nas ruas. Segundo moradores, o sistema de lixeiras subterrâneas é falho e não consegue estocar a sujeira produzida na região.
O problema vai além da saúde pública. Em busca de renda, catadores arrombam e literalmente mergulham nas lixeiras subterrâneas. A cada invasão, crianças e adultos arriscam a própria vida.
A situação insalubre e insegura preocupa e incomoda cada vez mais a vizinhança. O Metrópoles recebeu fotos e vídeos com flagrantes ao longo de janeiro e os primeiros dias de fevereiro deste ano. Os catadores vêm de uma invasão na região.
Veja:
Segundo o síndico do edifício Villa Lobos, na Quadra 309, Ricardo Pierry de Freitas, 50 anos, a falha na limpeza aflige toda população da região. “O Noroeste hoje não é um bairro limpo. É um bairro sujo”, afirmou.
De acordo com o síndico, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) adotou o sistema de lixeiras subterrâneas sem contar com caminhões adequados para o recolhimento e o devido sistema logístico de coleta e acondicionamento do lixo.
“Os catadores agem de forma totalmente insegura. Entram nas lixeiras subterrâneas, quebram elas. Está muito perigoso mesmo”, alertou. Segundo o morador, as lixeiras não têm capacidade para o volume de lixo produzido pelo bairro.
O síndico contou que o SLU não sabe como limpar as lixeiras subterrâneas, que não possuem um sistema de drenagem. Quando chove, a lixeira transborda com lixo e água, virando um criadouro de mosquito da dengue.
Mapa do lixo
O problema atinge a primeira etapa do Noroeste, que contempla os blocos nas quadras 107/307 até 111/311, assim como as regiões da 108, 109/309, 110/310.
O Metrópoles conversou com outros representantes de blocos do bairro. As lideranças pediram para ter as identidades preservadas.
Segundo relatos, o projeto inicial não pôde ser construído à risca e as lixeiras foram instaladas onde era possível. Alguns prédios ficaram com lixeira distantes e outras debaixo das janelas dos apartamentos.
Os prédios passaram a usar contêineres convencionais junto aos papas-lixos. ” É um situação muito delicada, porque já existe o contrato. Já teve oneração para máquina pública”, lamentou uma síndica.
As lixeiras subterrâneas deveriam ter rampa de acesso para os carrinhos descarregarem o lixo e faixas de pedestre e sinalização de proibição de estacionamento. Nada foi feito.
Os síndicos fizeram diversas reuniões com o SLU. O órgão havia assumido o compromisso de apresentar uma solução.
Madrugada
“Aguardamos a boa-fé do SLU. Mas até agora, a situação apenas piorou. O lixo está muito desorganizado e as horas da coleta também atrapalham e fazem um barulho danado”, desabafou uma liderança do bairro.
A coleta é feita nas madrugadas, entre 1h e 3h da manhã, de segundas-feiras aos sábados. “Cada lixeira leva pelo menos 15 minutos para ser recolhida”, contou. Em alguns pontos, como praças, há 20 lixeiras subterrâneas.
O que diz o SLU
O SLU disse em nota ao Metrópoles que “as coletas, tanto seletiva quanto convencional no Setor Noroeste continuam sendo executadas normalmente”, e que os condomínios “podem contar com mais 148 papa-lixos que vieram somar ao correto acondicionamento de resíduos da região”. “Assim, a orientação atual é seguir normalmente com o armazenamento dos resíduos em contêineres e nos papa-lixos de forma que não deixem os resíduos fora dos equipamentos.”
O órgão acrescenta que, por o Noroeste ser “a única região de todo o Distrito Federal que dispõe de papa-lixos da coleta seletiva”, os moradores “ainda estão em processo de adaptação ao uso correto desses equipamentos”. “Para isso, o SLU interage com um grupo de representantes de moradores através de grupos organizados pro meio da ferramenta WhatsApp.” Denúncias, sugestões e solicitações também podem ser feitas pelo telefone 162.
O SLU informou que servidores do órgão farão nesta quinta uma reunião “para tratar sobre questões relacionadas ao vandalismo que ocorre por parte dos catadores autônomos que acabam danificando os equipamentos” e “avaliar questões sobre a realização de uma gravimetria no Noroeste para verificar se o quantitativo de papa-lixos está adequado às demandas da região”.