Caso Sabrina Nominato: morte de médica no Lago Sul completa 1 ano ainda sem solução
Inicialmente tratado como suicídio, o inquérito conduzido pela 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) ainda não foi relatado e segue sob sigilo
atualizado
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Neste domingo (10/10), a investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que apura a morte da médica Sabrina Nominato Fernandes Villela, 37 anos, completa 1 ano. Mesmo após 12 meses, as circunstâncias do óbito permanecem cercadas de mistérios. Inicialmente tratado pelas autoridades como suicídio, o inquérito conduzido pela 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) ainda não foi relatado e segue sob sigilo.
Em outra ponta da apuração, familiares da cardiologista contam com a assistência de advogados e peritos particulares. Eles juntaram indícios e levantaram dúvidas que reforçam a tese de suposto crime violento, reduzindo a possibilidade de que a intensivista tenha tirado a própria vida. A família da cardiologista contratou peritos particulares que produziram laudos sobre o caso e que teriam apontado contradições nos depoimentos prestados pelo personal trainer e ex-marido da vítima, André Reis Villela, 41.
Sabrina foi encontrada morta pelo então marido na cama do casal, na tarde de 10 de outubro do ano passado, em um condomínio no Altiplano Leste. A principal contradição apontada em novas análises periciais é em relação ao horário da morte da intensivista. De acordo com a defesa da médica, todos os elementos colhidos durante a realização do primeiro exame cadavérico já demonstravam que Sabrina havia morrido na madrugada de 10 de outubro de 2020 e não após as 8h da manhã, quando o personal saiu de casa.
Álcool e remédios
Os peritos médicos descartaram a morte por uso de álcool e antidepressivos. A faixa de alcoolemia estimada para o caso estaria em níveis capazes de causar alterações como ataxia (alteração na marcha), diminuição de reflexos, atividade verbal acelerada e verborragia, porém, distante de níveis que colocassem a vida da médica em risco, ainda mais considerando os relatos de que Sabrina tinha o costume de ingerir bebidas alcoólicas e que tais manifestações variam conforme a “tolerância do paciente”.
O laudo aponta que a ingestão concomitante de álcool com o medicamento Zolpidem não é indicada e é vista como perigosa por aumentar os efeitos colaterais e a tolerância do indivíduo. Essa associação pode diminuir a dose tóxica do remédio. Porém, a redução não acontece quando ocorre a ingestão de uma dose usual de 5 mg a 10 mg, que pode causar depressão cardiorrespiratória e morte.
De acordo com o laudo, teria sido localizada apenas uma caixa do remédio na residência do casal, afastando, assim, a ideia de que Sabrina teria tomado uma dose muito alta do medicamento. “O laudo de local ainda não foi juntado ao inquérito, apesar de já ter sido solicitado algumas vezes para a autoridade policial. Segundo a defesa, o documento poderá esclarecer dúvidas em relação ao ocorrido”, disse a advogada Sofia Coelho.
O caso
Recheado de perguntas que ainda precisam ser respondidas, o inquérito traz à tona depoimentos que demonstram uma relação supostamente abusiva entre Sabrina e o marido. Casados há seis anos, os dois viviam em uma propriedade alugada, no condomínio Mini Chácaras, no Altiplano Leste.
Sabrina estava de bruços, com o rosto contra um dos travesseiros, em uma posição que provoca asfixia. Roxa e com o corpo enrijecido, estava coberta e já sem vida. Uma ambulância do Corpo de Bombeiros foi acionada pelo personal trainer. Logo em seguida, a equipe de socorristas confirmou o óbito. A Polícia Civil foi chamada pelo porteiro do condomínio somente por volta das 16h.
Depoimento do personal
Em outubro do ano passado, acompanhado de um advogado, o personal trainer prestou depoimento na delegacia horas após o corpo da cardiologista ter sido encontrado. Villela afirmou que no dia anterior à morte da mulher, o casal havia participado do aniversário de uma amiga, em um restaurante na QI 5 do Lago Sul, entre 14h e 19h. Em seguida, foram para um bar na 202 Sul, onde Sabrina teria ingerido muita bebida alcoólica.
No local, a médica teria passado mal por sofrer da síndrome de Vasovagal, doença que consiste na perda transitória da consciência, provocada pela diminuição da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. De acordo com o marido, ela teria deitado no chão e levantado as pernas. Sentindo-se melhor, teria voltado a beber.
O marido relatou em depoimento que Sabrina fazia uso diário de remédios para dormir. A médica tomaria até cinco comprimidos de uma vez e, em função disso, chegava a urinar na cama com regularidade, o que o deixava irritado. O personal trainer contou aos policiais que a esposa apresentava sinais de depressão e já havia sofrido dois abortos espontâneos. Na mesma oitiva, ele disse nunca ter visto Sabrina falar sobre tirar a própria vida.
A reportagem não conseguiu localizar André Reis por meio dos contatos disponíveis no inquérito policial. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.